Diversão e Arte

Discussão sobre o fim ou não do preconceito racial na teledramaturgia nunca ganhou tanta força como agora

postado em 21/10/2009 12:23
Taís Araújo sempre ficava triste quando recebia uma sinopse de novela e via, na descrição, que se tratava de uma mulher negra. Acreditava que isso limitaria suas oportunidades, já que poderia fazer com que não fosse lembrada para um papel sem raça definida. Mas o convite de Manoel Carlos para interpretar a Helena de Viver a vida, fez com que respirasse aliviada. Pela primeira vez, ela ganhou um papel de destaque que poderia ser preenchido por qualquer outra atriz com idade próxima da sua. "Não é uma negra protagonizando o horário nobre, mas uma mocinha que teve sua raça definida pela escolha da atriz, e não o inverso", valoriza. Taís Araújo diz que a Helena de Viver a vida teve sua raça definida pela escolha da atriz e não o inversoA discussão sobre o fim ou não do preconceito racial na teledramaturgia nunca ganhou tanta força como agora. Só na Globo, três dos quatro horários de folhetins têm negros em papéis principais. Na atual temporada de Malhação, Micael Borges vive o romântico Luciano; em Cama de gato, Camila Pitanga encarna a determinada Rose, e Taís está em Viver a vida. Um momento histórico para os que batalharam, por tantos anos, por melhores oportunidades para todos. "É a continuidade e a consequência de uma luta constante e antiga, não só racial, mas também social. Essas novelas, sem dúvida, vão influenciar as futuras", alerta Milton Gonçalves, que grava a partir de novembro a segunda temporada do seriado Força-tarefa, em que interpreta o coronel Caetano. Camila Pitanga entende bem o que Milton quer dizer. A atriz não se cansa de demonstrar o quanto ficou feliz com a escalação para o posto de protagonista, mas faz questão de frisar que isso não é o mais importante. "Claro que é uma vitória para os negros ver tantos exemplos de heróis. Mas o êxito não pode ser definido só no tamanho dos papéis. Tem de acontecer também com as pessoas que ficam menos expostas, como as da figuração", enfatiza. Rafael Zulu, o Caco de Caras e bocas, concorda: "Ainda não podemos dizer que é natural, mas é nossa fase de conquista, de ganhar espaço em todos os aspectos". Sérgio Menezes, o Diogo de Bela, a feia, da Record, nunca viveu um protagonista em novelas. Mas experimentou várias vezes a satisfação de ser escalado para papéis sem raça definida. Em Celebridade, em 2003, encarnou o fotógrafo Bruno, escolha do autor Gilberto Braga, com quem estreou na tevê, em Força de um desejo. No ano anterior, encarnou o médico Carlos em O beijo do vampiro, outro personagem que não nasceu negro na sinopse. E na Record, nas tramas de Gisele Joras, vem ganhando cada vez mais espaço. "Fico feliz porque consegui conquistar o respeito de muita gente nesse meio que não me vê como um ator negro, mas apenas como um ator", declara. Apesar de valorizarem as escalações independentes de cor da pele, vários atores reconhecem que nem sempre um papel especificamente negro é dispensável. É o caso de Lázaro Ramos, que ganhou projeção nacional depois que protagonizou o longa Madame Satã, em 2002. "Qualquer ser humano, independentemente de cor, passa por vários sentimentos", resume. Assim como Lázaro, Maria Ceiça ainda lembra bem do tempo em que disputava papéis apenas com atrizes negras. Só não aprova tanto a ideia de que a maior parte das aparições em folhetins tenha sempre de estar condicionada à discussão sobre o preconceito racial. "Acho que de vez em quando, dependendo da história, vale. Mas a verdade é que a fase de negro coitado já passou. Meus últimos papéis fogem completamente disso", analisa ela, que encarnou recentemente a vampira boazinha Rosana em Os mutantes.

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