postado em 27/10/2009 07:59
O que o clássico da literatura infantil Alice no País das Maravilhas, publicado em 1865 pelo inglês Lewis Carroll, e os artistas franceses contemporâneos têm em comum? É isso que a exposição Um mundo sem medidas, sob a curadoria da francesa Valerie Marchi, procura traçar num paralelo entre a temática onírica e surreal de Alice e fotografias e instalações de 13 artistas franceses da atualidade. "Alice tem um sonho repleto de situações inverossímeis. Em um dado momento, ela come um biscoito e se transforma em um ser gigantesco ou minúsculo. Vendo as obras que integram esta exposição, podemos ter a impressão de viver um sonho acordado", diz Marchi, a respeito da relação entre o mundo fantástico criado por Carroll e a mostra, que é parte da programação do Ano da França no Brasil.
Questionamentos que relativizam as fronteiras entre a ficção e o real já foram matéria-prima de uma infinidade de trabalhos artísticos. Surrealistas como o pintor Salvador Dalí (da famosa tela A persistência da memória) e o cineasta Luis Buñuel (do filme O anjo exterminador), ambos espanhóis, expressaram complexas observações sobre os desequilíbrios e incongruências das definições de sonho e realidade. Mas talvez nenhuma obra tenha evidenciado a debilidade desses conceitos tão claramente quanto Alice.
Em Um mundo sem medidas, Marchi procura apresentar ao público artistas que conseguiram fazer da manipulação de escalas de tamanho e reorganização da ocupação de espaços verdadeiros atestados da percepção humana sobre as coisas. "Eles utilizam o jogo de escala, de desequilíbrio, mexem com os pontos de vista, nos fazem perder nossas referências. E questionam o status da imagem de hoje, os modos de percepção, tornam o real fictício e a ficção realidade. São semeadores de estranhamentos", define a curadora. As divertidas instalações com gomas de mascar de Simone Decker e as fotomontagens de Gilbert Garcin, que subverte as escalas de tamanho, são algumas das peças que integram a mostra.
Promovendo o lúdico e, ao mesmo tempo, provocando reflexões, as instalações e fotografias trazidas para o Museu Nacional da República, onde a exposição itinerante fica até 8 de novembro, certamente farão os visitantes enxergar a realidade por uma perspectiva mais imaginativa. "Somos levados a ver o mundo sobre outra ótica. Os artistas nos levam para dentro de uma visão poética e desfocada, a fim de nos fazer reencontrar o tempo de um momento preciso, de uma alma infantil", analisa Marchi.
SERVIÇO
Exposição de fotografias e instalações Um mundo sem medidas. Até 8 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 18h30. Museu Nacional do Conjunto Cultural da República (Setor Cultural Sul, Lt. 2). Informações: 3325-6410 e 9131-4777.