Diversão e Arte

Carlos Araújo lança o livro Cachoeira do Timóteo

postado em 29/10/2009 10:12
CACHOEIRA DO TIMÓTEO De Carlos Araújo. Fundação de Cultura Cidade do Recife, 171 páginas. R$ 20Culpa, paixão, superstição e violência. Grandes temas da literatura universal, presentes em um sem-número de livros de imerecida leitura. Carlos Araújo, um pernambucano de educação literária cordelista, reúne aspectos triviais da psique humana em um livro revela parte da complexidade da cultura nordestina. A obra em questão é Cachoeira do Timóteo, de merecida leitura.

Araújo nasceu em 1953, no município de São José do Egito (PE), um dos 17 situados no alto sertão do Vale do Pajeú, distante 300km de Recife. Ele, filho de lavradores, cresceu ouvindo cantadores e repentistas e aprendeu a ler com livretos de cordel. Como que prestando uma homenagem às suas origens, o livro de estreia do autor se utiliza de personagens típicos da sociedade nordestina, do passado e do presente: fazendeiros opressores e famílias humildes. Quem narra a ação de Cachoeira do Timóteo é o velho Bento Cassiano, um mítico contador de histórias. Dentre os vários relatos contados por Cassiano, o principal, e que dá nome ao livro, diz respeito a Timóteo. Sertanejo humilde, ele é enfeitiçado pela fogosa Luzinete, cunhada recém-chegada na Cachoeira. A esposa, Ermelinda, caiu na mesmice dos afazeres domésticos e já não desperta no marido interesse algum. E o lavrador se permite, mesmo com a inevitável condenação ao inferno ; ou ao purgatório, para expiar seus pecados ;, pensar no assassínio de sua mulher. ;Ele achou que valeria a pena correr o risco;, resume o autor.

Poderia ser apenas uma história bem contada, envolvente, intrincada, escrita por um autor que tem alguma habilidade no manejo das palavras, mas Cachoeira do Timóteo apresenta recursos de uma obra de grande valor literário e cultural. Articula temas universais numa perspectiva regional ; mas nunca rocambolesca ;, e desnuda uma realidade de mazelas sociais e opressão econômica e religiosa. Não à toa, em 2006, venceu o Prêmio Lucilo Varejão na categoria ficção, organizado pelo Conselho Municipal de Política Cultural da Prefeitura do Recife. ;Olhei o resultado na internet e nem acreditei que meu primeiro romance tinha sido premiado;, completa. O escritor já morou no Recife, Rio de Janeiro e grande parte da vida, 30 anos, em Brasília. Aqui, graduou-se em jornalismo e trabalhou em jornais locais, além de ter militado em vários movimentos culturais. Em 2006, pouco antes da finalização do livro, mudou-se para Cabedelo, município da Paraíba. Antes do término do primeiro semestre de 2010, planeja publicar uma coletânea de contos.

Tão interessante quanto a história, de narração veloz, não linear e delicioso desenvolvimento, são as passagens sobre religião e superstição. Sempre em tom crítico, por vezes mordaz, como quando atesta: ;Aquela gente atribui sempre a Deus ou ao diabo a responsabilidade por seus medos e sofrimento, ou por tudo que não consegue explicar as causas, onde a crendice e a superstição falem mais alto;, sob a voz de Cassiano. Mais do que apresentar fragmentos do povo nordestino com habilidade e lirismo, Carlos Araújo investiga, perscruta e questiona crendices, maneirismos e mazelas da caatinga que o trouxe ao mundo. O livro será lançado amanhã, a partir das 19h, no Café com Letras (203 sul, Bl. C, Lj. 19).

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