Talvez você nem saiba, mas já deve ter ouvido muita música composta por Alberto Rosenblit. Desde os anos 1980, o compositor e arranjador carioca cria a trilha instrumental para novelas e minisséries da Globo. Agora mesmo, é dele o tema As 4 estações do Leblon, tocado em Viver a vida e feito a pedido de Manoel Carlos. Não é a primeira vez, aliás, que Rosenblit compõe para uma história do autor. Foi ele quem assinou as trilhas instrumentais de Por amor, Laços de família, Presença de Anita, Mulheres apaixonadas e Páginas da vida.
Fora da tevê, Alberto Rosenblit lançou recentemente o álbum De bem com a vida, no qual tem suas músicas letradas por Paulinho Tapajós, Joyce e Xico Chaves, entre outros, e cantada por intérpretes do calibre de Ney Matogrosso, Lenine, Ivan Lins, Leila Pinheiro, Mônica Vasconcelos, Zé Renato, ex-integrantes do Boca Livre e pelo Arranco de Varsóvia. Uma verdadeira declaração de amor ao Rio de Janeiro idílico, que resiste às investidas da violência e da dura realidade.
De bem com a vida é inspirado pelo Rio de Janeiro. Como é sua relação com a cidade?
Sou Carioca. Nascido e criado no Rio de Janeiro. E nunca morei fora daqui. Desenvolvi minha paixão por esta cidade a partir de suas belezas naturais. São praias, montanhas, lagoas, rios, baías, cachoeiras, mirantes com vistas maravilhosas. É mesmo uma cidade única e maravilhosa. Você se desloca de um ponto ao outro da cidade e pode ver "parte deste filme" no percurso. E eu nunca perdi a noção deste privilégio. E toda esta natureza convivendo de forma harmoniosa. Harmonia de uma canção do Tom;
Rio continua lindo, mesmo com os problemas que enfrenta?
Estamos vivendo uma decadência social profunda. E isso é mesmo muito triste. E cada um de nós tem que fazer sua parte, cada qual com sua responsabilidade, para tentarmos reverter este quadro. Mas o Rio de Janeiro é uma cidade que esbanja tanta beleza que, pelo fato em si, já é uma esperança. Quem não gostaria de viver numa cidade melhor e mais calma, num cenário tão lindo como esse? Apesar de tudo, o Rio de Janeiro continua lindo.
Deu trabalho reunir tanta gente de agenda lotada, como Ney Matogrosso Ivan Lins, Joyce, Zélia Duncan...?
Este CD demorou para ser realizado. Muito em função das agendas desses artistas maravilhosos. Cantores e músicos. Mas sempre preferi esperar um convidado a procurar soluções alternativas. E o fato é que todos que participaram foram muito generosos comigo. Valeu a pena esperar por cada um.
Como aconteceram essas escolhas de convidados?
Cada uma das canções me sugeria um cantor para interpretá-la, quase imediatamente após ser escolhida para o repertório do CD. Cada um foi convidado por um motivo específico.
Depois de escrever tantas músicas, você nunca pensou em cantar também?
Neste CD, arrisco pela primeira vez. De uma forma muito discreta e "meio secreta". Tenho até uns amigos que me dizem que eu deveria cantar. Mas acho que ainda não encontrei minha voz. Então acho que ainda não está na hora.
Você nunca se arriscou em compor letras?
Já escrevi uma coisa aqui, outra ali. Mas acho que este é um talento muito específico. E que necessita de muito exercício. O que, sinceramente, pelo menos por enquanto, não é o meu caso.
Como aconteceu o envolvimento com a composição para novelas e minisséries?
Desde menino, sempre tive paixão pela música para imagem. E sempre procurei caminhos que me levassem nessa direção. Em 1985 comecei a compor vinhetas institucionais para a CGCOM da TV Globo. E, com o tempo, acabei tendo espaço para compor música para dramaturgia. Comecei com seriados: Você decide e Retratos de mulher. E em 1992 fiz minha primeira novela: o remake de Irmãos Coragem. Em 1993, a primeira minissérie: Agosto. E de lá pra cá foram várias novelas e minisséries.
O músico que compõe sob encomenda precisa de alguma habilidade especial?
A música para imagem é uma atividade muito específica. É compor a música certa para o momento adequado. O compositor da música original tem que estar muito afinado com o pensamento do diretor e ter intimidade com o texto que vai ser realizado. Antes de se compor qualquer coisa, tudo o que se fala pode ficar muito subjetivo. Muitas vezes o diretor convida aquele compositor que melhor se encaixa no estilo de música e sonoridade que ele está imaginando. Mas, às vezes, ao compositor, por força da dramaturgia, é solicitada uma peça completamente fora de seu estilo natural. E também terá que ter recursos para atender a esta situação. Numa novela, que é uma obra longa e aberta, isso acontece muito. Vários núcleos, muitos personagens, vários estilos, várias sonoridades.
Você, particularmente, como lida com isso?
Gosto muito dos desafios. Encaro todas as situações que aparecem no decorrer da novela (e mesmo em alguma minisséries mais longa) como uma oportunidade de aprender e crescer.
Como é o processo de criar num caso como o mais recente, em que Manoel Carlos lhe pediu algo específico, As 4 estações do Leblon?
Já fiz vários trabalhos com o Manoel Carlos (Por amor, Laços de família, Presença de Anita, Mulheres apaixonadas, Páginas da vida). E ele alimenta também esta paixão (e preocupação) incondicional por esta Cidade Maravilhosa. E sei mais ou menos a linguagem que ele necessita para a música que vai se encaixar na obra dele quando o assunto é Leblon. Todas as histórias vêm sempre com novidades. Mas ele tem um sotaque próprio. E tento compor da forma mais adequada a este sotaque.
Só agora as trilhas instrumentais de novelas estão sendo lançadas em disco. Acha que essa música está sendo mais valorizada?
Já há alguns anos tenho visto o setor de música original e trilhas sonoras nas lojas de CD. E me parece que há muito tempo existe uma demanda pela música que se compõe originalmente para a tevê. A Som Livre está sensível a este fato e resolveu ajudar mais ainda na valorização deste trabalho de muita qualidade realizado por compositores excelentes.