Mariana Trigo
postado em 02/11/2009 10:46
Bela, a feia é uma espécie de Sessão da tarde da Record em horário tardio. Vilões que apertam os olhos ao cometerem maldades, cenas de comédia pastelão com direito a puxões de cabelos, louras turbinadas e uma edição veloz chamam a atenção na trama adaptada por Gisele Jóras. No entanto, grande parte dos acontecimentos entre os núcleos não se cruzam, o que torna a produção uma espécie de vaudeville, num mosaico de situações burlescas.
A começar pelos papéis maquiavélicos, como o forçado Ataulfo (André Mattos). Com interpretação exagerada, o ator passa a muitos tons do personagem, o que contrasta nitidamente com Thierry Figueira, como seu filho Dinho. Thierry está justamente aquém do que deveria ser o tom do personagem, o que causa disparidade nas cenas entre a dupla. Entre os pérfidos da trama, Iran Malfitano tem começado a convencer como o ganancioso Rodrigo. Mesmo assim, o personagem não apresenta nuances, é sempre maniqueísta em suas cenas.
Com cenários bem acabados e coerentes com seus núcleos, a produção se destaca pela cuidadosa edição e disposição das cenas, assinadas por Edson Spinello. Com tomadas interessantes em travelling e um ritmo quase de desenho animado, a história se desenrola com atrativos visuais e um excesso de colorido que até funciona diante da proposta da trama quase kitsch.
Nesse universo de matizes quentes, Bárbara Borges reina com suas formas irretocáveis e astuciosa composição da divertida e atirada Elvira. Como a irmã bonita de Bela (Giselle Itiê), a atriz diz a que veio não só nas cenas de seu núcleo familiar, ao lado do irrepreensível pai, Clemente (Bemvindo Sequeira). Mas, principalmente nas cenas do salão, onde Bárbara contracena com Laila Zaid, que vive a espevitada Magdalena. Ambas são responsáveis pelas melhores tomadas cômicas da história, num salão de cabeleireiros tão chinfrim que mais parece um dos cenários suburbanos de A grande família.
Mas essas locações e cenários exagerados são justamente o tempero da história que tem destacado Giselle Itiê como a desengonçada Bela. Sem pudores nos trejeitos mal-ajambrados da personagem, a bela atriz se despiu de preconceitos para encarar uma protagonista que se destaca em sua carreira de quase uma década na tevê.
Enquanto alguns núcleos se desenrolam com êxito na trama, outros necessitam de ajustes. É o caso da família de Armando (Raul Gazolla). O ator não consegue se destacar diante da convincente interpretação de atrizes adolescentes, como Marcela Barrozo e Pérola Faria, que interpretam, respectivamente, Ludmila e Juliana. Marcela, inclusive, faz com que cada pequena cena de sua personagem ganhe apelo único, com interpretação à vontade e segura. Na verdade, a maior surpresa na adaptação de Gisele Jóras não tem sido a insatisfatória audiência de 8 pontos de média, mas as irretocáveis atuações femininas.