Diversão e Arte

Começa hoje o 11º FicBrasília, que traz 87 produções de 33 países

Ricardo Daehn
postado em 04/11/2009 08:22
Enraizado nas expectativas de qualquer cinéfilo da capital, o FicBrasília chega à 11ª edição num clima distante da euforia, pelo que avalia o diretor geral do evento, Marco Farani. "Está cada vez mais difícil, por ser, a cada ano, mais cara a manutenção do festival: há desde os aluguéis dos filmes, muitos na faixa dos mil euros, até os impedimentos orçamentários, que inviabilizam a aprovação de exigências de convidados. Já não tenho vontade de organizar tudo sozinho e aplicar, acreditando em retorno futuro. Não tenho tanto entusiasmo, não. O público local não cresceu muito, mas a oferta de eventos culturais, ao contrário", comenta Farani. <i>A fita branca</i>, de Michael Haneke, é o filme que abre o festival e é um dos mais esperadasDesânimo à parte, o quartel-general do festival - a Academia de Tênis José Farani, com 11 salas exibidoras - recebe, a partir de hoje, 87 filmes com produção a cargo de 33 países. "Continuar fazendo o festival é importante para a cidade", destaca o também diplomata Marco Farani. Há um ano, ele seguiu o que houve "de melhor" em festivais como os de Sundance, Berlim e Cannes. "Trazemos filmes inéditos na cidade", ressalta o diretor, que desencoraja a crítica de estar "refém" ou condicionado ao Festival do Rio e à Mostra de São Paulo. "Os filmes são os mesmos bons títulos que estiveram em São Paulo e no Rio. Adiando o festival para novembro, fazemos o que dá para ser feito. Se rompermos a barreira econômica, com um captador, podemos fazer um festival de padrão internacional, mesmo", diz. Sem apoio financeiro expressivo das embaixadas, a logísitica do FicBrasília, ao menos, traz boas novas: além dos ingressos mais baratos (a R$ 4, a inteira) na sala do CCBB (com o apoio do Banco do Brasil), há a implantação do prêmio TV Brasil (no valor de R$ 30 mil), em lugar do extinto prêmio Itamaraty, que beneficiava filmes nacionais. "Além da quantia, o vencedor terá firmado contrato de exibição do filme na TV Brasil, isso dois anos depois da exploração comercial do filme", conta Marco Farani. Os espectadores avessos à projeção de filmes no formato Beta podem comemorar a pequena representação, entre os títulos a serem mostrados. "Cerca de 90% dos filmes estão em película ou no suporte de alta definição", conta o organizador. Na lista de produções de ficção - bastante divulgada - está um dos trunfos da programação: os 5 filmes de Ryuichi Hiroki, um tanto desconhecido no Brasil. "Ele é muito bom. Vibrator, que está na mostra, é um filme excepcional dele, que tem uma mão japonesa, um tanto fria, mas com bons resultados", observa. Entre as mais de 50 fitas de teor ficcional selecionadas para o FicBrasília, A fita branca (que abre a festa, às 21h), de Michael Haneke, é uma das mais esperadas, ao lado dos badalados Anticristo (de Lars von Trier), Coco Chanel & Igor Stravinsky (de Jan Kounen) e Todo mundo tem problemas sexuais (de Domingos Oliveira), esse com participação de um dos apresentadores da noite de abertura do Fic, Orã Figueiredo (mestre de cerimônias, ao lado da jornalista e atriz Renata Caldas). Entre os convidados confirmados estão o ator Sebastian Hülk (de A fita branca), as atrizes Elsa Amiel, Victoria Tate e Natalia Oreiro (respectivamente, de Nulle Part terre promise, Prince of Broadway e Francia, do qual vem o diretor, Israel Adrián Caetano) e os cineastas Ryuichi Hiroki, Eduardo Valente, David França Mendes e Santiago Losa. 11º FICBRASÍLIA - FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE BRASÍLIA Academia de Tênis José Farani (SCES, trecho 04). De hoje a 15 de novembro. Na noite de hoje, com exibições do longa A fita branca (de Michael Haneke) e do curta O teu sorriso (de Pedro Freire), os ingressos custam R$ 30 e R$ 15 (meia). Depois, saem por R$ 14 e R$ 7 (meia). Não recomendado para menores de 18 anos. O real na tela Tendo ainda a realidade como eixo, o 11º FicBrasília aposta na exibição de quase 20 documentários. Na lista está o vencedor do festival É Tudo Verdade Cidadão Boilesen (do carioca Chaim Litewski, formado em Londres), que traça um painel da atuação de empresários como Henning Boilesen, capazes de reforçar o aparato militar dos anos de 1970. A denúncia de sólida plataforma para o império norte-americano habita Apology of an economic hit man (do grego Stelios Koul), outro longa selecionado. Com origem japonesa, a libanesa Soraya Umewaka dirige I am happy, centrado no cotidiano de cariocas economicamente desfavorecidos, mas que contam com a felicidade como aliada. O estabelecimento de um sucesso, no caso, a remontagem para a Broadway da celebrada A chorus line puxa outra linha documental do FicBrasília, em Every little step. O exame da produtividade artística do cineasta Andrei Tarkovsky - exaltado em depoimentos da equipe de Solaris - está em primeiro plano no espanhol La zona de Tarkovsky, 23 anos depois da morte do cineasta. A criação artística, igualmente, orienta filmes como O homem que engarrafava nuvens, O pequeno buguês, O poder do soul e A todo volume. Portentoso, com mais de duas horas e meia de duração, o longa Material traça um painel afetivo, desde os anos 80, da memória do diretor alemão Thomas Heise, numa obra muito experimental. No cardápio oferecido pelo festival despontam opções para espectadores mais pragmáticos. Nesse bloco de filmes, há méritos para obras atentas a fatos políticos do porte de Petition, cuja realização se estende desde 1996, com o diretor Zhao Liang empenhado no registro de reivindicações de cidadãos chineses que cobram medidas de governantes. Premiado pelo júri do Festival Gay de Miami, Outrage (de Kirby Dick) é uma produção do Reino Unido que expõe como decisões tomadas por políticos enrustidos acabam por afetar diretamente a vida de cidadãos gays.

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