Diversão e Arte

Enfermeira que cuidou por oito anos de Chatô revela detalhes desse cotidiano em livro

postado em 05/11/2009 08:05
EU FUI ENFERMEIRA DE CHATÔ - Emília Belchior de Araúna. Função Assis Chateaubriand. 335 páginas. R$ 30.Em 1996, poucos meses depois de o jornalista Fernando Morais lançar a biografia Chatô, o rei do Brasil, a enfermeira Emília Belchior de Araúna, responsável por cuidar durante oito longos anos do mito da imprensa Assis Chateaubriand ; vítima de uma grave lesão neurológica que o deixou tetraplégico ;, recebeu um telefonema do cineasta Walter Lima Jr. O motivo da ligação do diretor de Menino de engenho era um convite para entrevista para programa especial sobre a vida de um dos homens mais importante do país. ;Fiz questão que o encontro fosse na Casa Amarela, uma das residências dele em São Paulo;, recorda Emília, hoje com 73 anos.

;Durante a entrevista, o Walter (Lima Jr.) me provocou com a ideia de escrever um livro sobre estes oito anos que convivi, dia e noite, com o Chateaubriand. No início, fiquei assustada, não me achava capaz de tamanha proeza. Mas, com o tempo, aceitei a ideia e comecei a trabalhar no livro;, conta a enfermeira aposentada, que lança hoje, em São Paulo, às 19h, no Museu de Arte de São Paulo (Masp), o livro Eu fui enfermeira de Chatô. O lugar não poderia ser mais apropriado. Projetado pela arquiteta modernista ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, o espaço foi inaugurado em 1947 por Chateaubriand. ;Hoje, o museu leva o nome dele, ou seja, não poderia ter lugar melhor para o lançamento da obra;, comenta Márcio Cotrim, diretor-executivo da Fundação Espaço Chatô, instituição responsável pela edição do livro. ;É um resgate objetivo dessa fase da vida de Chateaubriand, da saga dessa mulher que durante oitos anos não arredou os pés da ;cabeceira; de seu paciente;, emenda Cotrim, que assina o prefácio do livro.

Dona de uma memória prodigiosa, Emília Belchior conta que só começou a trabalhar no projeto em 2008. No primeiro esboço, rascunhou 15 páginas. Meticulosa, fez um curso rápido de computação e, embalada pela empolgação, não demorou para se debruçar de vez no projeto. Ilustrado por inúmeras fotos, o livro, a partir de uma narrativa simples e direta, coloca o leitor a par dos bastidores do drama vivido por um dos homens mais poderosos do país. ;Até o dia em que fui convidada para chefiar a equipe de enfermagem que cuidaria dele, não fazia a menor ideia de que fosse Chateaubriand;, confessa Emília. ;A partir dali, viveria uma experiência de vida que seria a minha maior escola;, diz.

Ao longo das 335 páginas de Eu fui enfermeira de Chatô a autora faz revelações surpreendentes. Destaca, por exemplo, como teve que se adaptar a um novo mundo que se abria ao seu redor, repleto de empresários, banqueiros, autoridades políticas nacionais e internacionais, além de artistas. Também expõe, sem cair no sensacionalismo, as fragilidades de um homem conhecido pelo temperamento ágil e magnânimo, capaz das maiores proezas em prol da construção de seu grande império das comunicações. Entre um episódio e outro, elucida elementos humanos de uma relação que ia muito além de um simples paciente e sua enfermeira.

;Não era fácil lidar com o Chateaubriand. Ele era um homem de grande genialidade, mas de um gênio difícil também;, detalha. ;A gente brigava muito, chorava muito, mas éramos muito próximos. Com tempo, essa relação acabaria quase sendo como de pai e filha. De admiração e respeito mútuo;, revela.



; Leia trecho do livro Eu fui enfermeira de Chatô

"Gilberto, que era um rapaz maravilhoso, apesar de não concordar com a renúncia, mas obediente, sem querer contrariar a ordem do pai, tentou convencê-lo de que aquela providência lhe parecia muito precipitada, diante do seu pouco tempo de reabilitação, que prosseguia relativamente bem. O Pequeno Gigante que já aparecia muito cansado e nervoso, não querendo perder mais tempo falando sobre o assunto, disse-lhe:

- Você não está vendo meu filho, que eu estou completamente aleijado. Vá! Fale com Juscelino. É uma ordem e decisão minha.

O presidente tão logo tomou conhecimento do pedido demissionário do seu grande amigo e embaixador, pedi para visitá-lo no hospital.

O pedido deixou Chateaubriand visivelmente angustiado e constrangido, pois não queria, de forma alguma, deixar-se ver naquela situação de tetraplégico. Com isso, levou quase uma semana para se decidir receber a visita do chefe na nação. "

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