Nahima Maciel
postado em 09/11/2009 09:39
Uma intenção pueril perpassa as obras de Bororo, Samy Benmayor e Matías Pinto d;Aguiar. Ora no traço confessamente infantil, ora nas lembranças pescadas ao acaso ou em perspectivas extraídas do mundo onírico, os três artistas chilenos confessam dialogar com a infância nas obras da exposição Pintura en el camino, em cartaz a partir de hoje no Instituto Cervantes.O trio tem em média 50 anos e ficou conhecido na cena chilena nos anos 1980 quando, semelhante ao ocorrido no Brasil, um movimento de resgate da pintura pautou toda uma geração de artistas. Cada um seguiu por linguagens diferentes, mas que acabam por se encontrar no mesmo desejo de visitar universos pueris.
Bororo, na verdade Carlos Maturana, é o único que já expôs em Brasília. No ano passado, mostrou uma série de pinturas em rolos de papel na Caixa Cultural. Desta vez, os trabalhos são apresentados sobre lona, emobra mantenham a mesma simplicidade e o mesmo traços contínuo das obras apresentadas na Caixa. A máquina elétrica mostra um ser cujo corpo é uma mistura de homem e máquina que cospe salsichas.
A ironia está presente no olhar trágico de Bororo, que lamenta a mecanicização do ser humano e os dejetos resultantes deste processo. ;Toda minha pintura é um pouco um retrato da sociedade contemporânea. É muito narrativa, conta histórias de gente e da vida cotidiana. Mas minha maneira de abordar isso é muito dramática, mas cômica;, avisa. A dramaticidade fica clara em Deságua, reprodução cinzenta de um esgoto poluente. O conjunto, no entanto, ganha um ar leve graças ao traço que aproxima Bororo do grafite. ;Assumo minha pintura como um traçado de parede. Sempre me senti mais grafiteiro.;
A intenção gráfica também aparece em A fundação da América, de Aguiar. A lona pintada em acrílico conta cenas do nascimento das nações hispânicas latino-americanas, mas nada muito detalhado ou narrativo. É do sonho que o artista tira as imagens que ficariam melhor definidas se chamadas de impressões. ;Meu trabalho, geralmente, é mais metafísico do que isto. Mas nesta pintura conto uma história de como os conquistadores fizeram a América como se fosse uma tira cômica;, explica. A loucura sanguinolenta das primeiras conquistas, a formação das cidades e a paisagem chilena com suas montanhas e praias são alguns dos símbolos utilizados por Aguiar no trabalho.
A narrativa dos conterrâneos cede lugar à abstração na série Espelhos da memória, de Benmayor. A obra começou há dois anos e já conta com 64 pinturas em telas de 50X50cm, das quais apenas 22 estão na mostra de Brasília. A espontaneidade e o gestual saltam dos quadros e traduzem a motivação do artista.
Benmayor começou a série movido pela liberdade de experimentar até onde podia desenvolver a experiência gráfica. Queria, de alguma forma, tentar recuperar um olhar infantil. ;Sempre trabalho com o tema da infância e a época em que aprendemos a reconhecer os elementos. Fico pensando que não há como recuperar esse primeiro olhar;, diz. A história da pintura, porém, não escapa ao pincel do artista. ;O que me preocupa é basicamente construir uma ideia que tenha sentido no quadrado, com composição, forma e cor. E só.;
Pintura en el camino
Exposição de pinturas de Bororo, Samy Benmayor e Matías Pinto d;Aguiar. Abertura hoje, às 19h, no Instituto Cervantes (SEPS 707/907, conj D). Visitação até 12 de dezembro, de
segunda a sexta, das 8h às 20h, e sábado, das 8h às 14h.