Diversão e Arte

Pouco conhecido no Brasil, o japonês Ryuichi Hiroki ganha pequena retrospectiva durante o festival

Ricardo Daehn
postado em 09/11/2009 09:45
Quando, nos anos de 1970, o cineasta japonês Ryuichi Hiroki se interessou pelo cinema eram raros os casos de jovens diretores em formação. ;Pouco antes dos 25 anos, trabalhei com amigos num filme independente e, logo, investia no posto de assistente de direção de filmes pink (pinku eiga, segmento equivalente ao da pornochanchada brasileira);, conta o diretor, ainda pouco reconhecido no Brasil, mas que, com homenagem no 11; FicBrasília, tem a exibição de um painel recente da obra. Ainda que o mais novo filme, April bride, tenha alcançado dois milhões de espectadores, Hiroki diz não ser tão conhecido ;a ponto de ser um famoso;.

Hiroki não compactua com o mainstream e investe no contemplativoUm pouco na periferia, o diretor se aplica em filmes cultuados, com teor de vanguarda. ;Presto muita atenção nas mulheres e em mudanças que possam torná-las mais fortes ou fracas. Não tento nunca impor meu olhar sobre o feminino, mas investigar as mulheres e repassar o olhar que creio ser o delas;, observa.

Na segunda passagem pelo Brasil, Ryuichi Hiroki avalia que Brasília o fisgou por notória qualidade: ;daqui, o céu é muito bonito e amplo;. Nada de incomum, diante de um olhar apurado que, na tela de cinema, resulta em imagens pouco dinâmicas. Aos 55 anos, o descansado e risonho cineasta não perde de vista a reação dos espectadores. ;Eles estranham as tomadas que faço, longas e um pouco diferentes. É questão de estilo;, analisa.

A seleção de cinco longas na programação do FicBrasília cobre um período fértil para o cineasta que, desde o começo da década, apostou na tecnologia do cinema digital. Sem titubear, Ryuichi Hiroki aponta a predileção por filmes dos diretores Nagisa Oshima (O império dos sentidos) e Tatsumi Kumashiro.

Distanciado da ;subcultura; que fomenta seus jovens admiradores, Hiroki prepara a investida numa nova trilha, explorada com precisão pelo mestre Akira Kurosawa. A empreitada contará com a estrutura épica dos filmes de samurai. ;Será no período Edo, com tom dramático um pouco mais triste;, adianta.

Frente ao novo desafio, Hiroki sublinha a simplicidade de não se julgar ;especial, pela condição de cineasta;. Certe za que encontra ressonância na maneira como delimita o tema de Vibrator (2003), em cartaz no FicBrasília: ;Todo mundo é diferente, o que torna cada pessoa única. Ciente disso, seja você mesmo;.

[SAIBAMAIS]Vale lembrar a peculiaridade no tratamento da protagonista, uma escritora atormentada por vozes que, literalmente, a consomem. Engana-se, porém, quem detecta barreiras para personagens como a portadora de necessidades especiais de Your friends (2008) e a noiva moribunda de April bride (2009). ;Não trago a intenção de ser pessimista. Meus filmes, acredito, estão mais ligados à esperança.;



Hoje, no 11; FicBrasília

Your friends (2008), às 19h (HH)

;Trabalho com a memória das pessoas e de como veem o passado. Trago acontecimentos da vida das personagens que repercutem no presente e viram uma história bonita;, define Ryuichi Hiroki. No filme, a narrativa central, guiada por duas amigas, pode até tropeçar numa desencontrada trama paralela que alinha estudantesdo esportistas, mas sobra poesia na;f nessa produção em que a felicidade ganha a forma de estufadas nuvens no céu.

I am a S M writer
(2000), às 19h (HH)

Ainda sem refinamento e fluidez na realização, Hiroki se detém no processo de criação de um pervertido escritor. O protagonista tende a viver na própria carne as experiências sexuais que compõem um livro a fim de imprimir veracidade ao texto. Daí, o flerte com um erotismo cru, capaz de suscitar as origens de Hiroki junto ao pinku eiga. ;Mostro que há condições de situações tristes comportarem humor e que elas podem ser revertidas por meio do amor;, defende o cineasta.

April bride
(2009), às 19h20 (HHH)
Um sentimento incondicional une dois jovens: ela com perspectiva de vida diminuta (ao enfrentar um câncer de mama), e ele dedicado até os últimos momentos, mesmo à beira do leito do hospital. Um melodrama sólido, construído com inspiração em caso real ocorrido em 2007. ;Viver é um milagre, ao contrário da noção que temos de que se trate de algo muito natural;, opina o diretor.

It;s only talk (2005), às 21h10 (HHH)
;A vida não é tão séria assim. Há espaços para sorrisos, sob quaisquer circunstâncias;, diz o cineasta, ao examinar a trama que envolve a depressiva e desempregada Yuko. Cercada por homens problemáticos, a trintona estende a mão, numa via de duplo auxílio, para o primo Shoichi, outro desamparado.

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