Ricardo Daehn
postado em 09/11/2009 16:14
Em setembro último, durante mostra argentina no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o diretor Adrián Caetano não pôde vir a Brasília. Ficou preso em Veneza, onde o longa era apresentado ao público durante a Jornada do Autor. Agora, aos 40 anos e com o mesmo filme , ele mata a vontade de detectar a modernidade da Brasília que o intrigava na infância. "Me surpreendi com o ar estatal, governamental e com a modernidade retrô", observa o diretor, que esteve no Brasil há 11 anos para acompanhar a exibição de seu primeiro filme i>Birra, pizza, faso, laureado no Festival de Gramado. "Não acredito em hierarquia e em prêmios. Sou um agradecido da vida e das pessoas que trabalham comigo", comenta.
[SAIBAMAIS]Caetano não tira méritos de Pizza, birra, faso, mas diz que talvez tenha sido mais um oportunismo da crítica a badalação que veio a revitalizar, por meio do filme, "a própria crítica, emplacando profissionais desconhecidos". Ele se considera um "sobrevivente", junto a nomes como Lucrécia Martel e Daniel Burman. "A unidade de um cinema latino-americano ainda é irreal, mas temos que batalhar por obtê-la. Todos os feitos políticos repercutem no meio cultural. É o momento propício de se pensar a produção do cinema latino. Agora, é difícil falar de uma indústria", avalia.
Influenciado por Jean-Luc Godard, o cineasta inclui em Francia até enxertos literários num moderado "vale tudo" cinematográfico. "Trato de seguir menino, buscando o lado lúdico dos filmes. A arte é como um jogo. Caso contrário, estaria traindo meus princípios. Não ligo para a crítica. Só lamento quando não entretenho o público." Nascido em Montevidéu (Uruguai), Adrián crê no universal: "filmes bairristas, por um vício, perdem a oportunidade de comun icação. Não aposto numa arte elitista. Os bons títulos não prescindem de entendimento geral". O diálogo proposto pelo cineasta passa por personagens com problemas muito concretos, presos a uma situação sociopolítica, sem a ambição de vencê-la, mas visando a sobrevivência.
Com Francia selecionado para festivais em Huelva, Mar del Plata e Havana, o diretor enfrentará o problema de distribuição em solo argentino. "Os exibidores trabalham para os Estados Unidos, não para o cinema argentino. Parece até um sentimento de culpa: não se arriscam nem se arejam, são amigos do êxito, verdadeiros comerciantes." Ele reitera, no novo longa, o amor e o humor como posturas políticas de gente comum e defende que, mesmo apartidários, personagens com motivações amorosas e de paixão trazem teor político.
Atento ao conselho do avô - "ele me disse: 'se quer viver uma vida feliz, cerque-se de pessoas sensíveis e inteligentes'" -, Adrián Caetano trouxe para frente da câmera a filha, Milagros Caetano. "Desde os seis meses de idade, ela vai ao cinema e sempre circulou nas filmagens. No filme, ela atua de verdade, já que é muito diferente na vida real", explica Caetano. "Milagros é Mariana, que responde com a imaginação à realidade amarga que vive (dos pais separados). Para isso, recorre ao que é agridoce. Meu objetivo é examinar como personagens sobrevivem. E mais: com dignidade, com orgulho, e até felizes", ressalta.