Irlam Rocha Lima
postado em 14/11/2009 15:45
Primeiro foram os estudantes da UnB. Em seguida, chegaram os de outras universidades, que passaram a ocupar bares, cafés culturais e restaurantes. Quatro anos depois, a quadra comercial da 408 Norte, com mesas sempre lotadas, de quinta-feira a sábado, transformou-se no point de novos boêmios. Entre bate-papos e apreciação de atividades artísticas, jovens não abrem mão de "molhar a palavra" depois que deixam as salas de aula.
Nas grandes rodas que se formam, é comum ver até 10 pessoas reunidas numa mesa de quatro lugares, que se espalham pelas calçadas, levando altos papos sobre assuntos diversos: de temas acadêmicos a baladas, de questões relacionadas com a política nacional a shows; e, obviamente, no caso dos homens, de futebol à mulherada. E o que não falta naquela quadra da Asa Norte são ambientes que se adaptam ao gosto de cada um - sobretudo daqueles com anseios culturais.
O local de maior concentração na rua é a confluência entre o Por do Sol, o Meu Bar e o Vale da Lua, bares de características populares, onde a presença dos universitários começa a ser notada, em número expressivo, a partir das 18h. "Estamos instalados aqui desde 1998, mas foi de quatro anos para cá que a galera descobriu o local. Noventa por cento são universitários", revela o brasiliense Alonso José da Silva Filho, dono do Por do Sol.
Juntos numa das mesas, os amigos Rafael Paruck (concurseiro); Alex Rampezzo (estudante de engenharia florestal) e Rodrigo Figueiredo (professor de violão formado pelo departamento de Música da Universidade de Brasília), todos com 26 anos, faziam "esquenta" antes de ir para uma festa no Centro Comunitário Darcy Ribeiro. "Venho na 408 Norte desde a época em que estudava na UnB. Virou tradição marcar ponto para levar papo com os amigos, combinar a ida às baladas, dar uma olhada na mulherada, que fica em outras mesas. Mas falamos também de coisas sérias", pondera Alex Rampezzo.
Se o foco da conversa for cultural, o caminho aponta para as duas extremidades da 408 Norte, onde estão localizados dois espaços de boa música. Mais próximo da L2, o Senhoritas Café é uma espécie de oásis em meio à agitação da quadra. Lá, pode-se degustar um bom vinho e saborear caldos e sopas feitas no capricho. A atração das quintas-feiras, porém, é a roda de choro, comandada pelo violonista Fernando César, diretor da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello.
Ex-integrante do grupo Dois de Ouro, César tem em sua companhia, na roda, outros músicos talentosos: Dudu Maia (bandolim), Pedro Vasconcellos (cavaquinho) e Valerinho (pandeiro). Há sempre a participação de outros instrumentistas, que comparecem para dar a chamada "canja". Já circularam pelo Senhoritas, Hamilton de Holanda, Gabriel Grossi, Reco do Bandolim, Rafael dos Anjos, Pablo Fagundes e Ted Falcon. Às quintas, é cobrado couvert artístico de R$ 7 aos ocupantes dos 100 lugares (em mesas). "Quem vem aqui sabe que há uma preocupação com cultura, a partir da ambientação da casa. Temos feito noites de autógrafo de livros e, na segunda-feira, estaremos lançando o Cardápio Literário, com performance do ator Adeilton Lima", adianta Renato Fino, proprietário do café.
Primeiro bar temático a se instalar na quadra, o Café da Rua 8 tornou-se conhecido por abrigar a cultura brasiliense. Com capacidade para 100 pessoas, oferece música ao vivo de quinta-feira a sábado, entre as 20h30 e 23h. "Temos uma programação variada e criteriosa, na qual privilegiamos o trabalho de artistas da cidade. A programação é elaborada pelos maestros Joaquim França e Fernando Machado", conta Eva Pimenta, sócia majoritária da casa, que tem como carro-chefe uma famosa salada.
Lá, o público pode curtir, blues e rock. Quinta-feira é dia de música instrumental, enquanto, na sexta, o espaço é ocupado por trabalhos autorais de músicos da cidade. "O pessoal do Liga Tripa já é da família do café. Quem se apresenta com frequência é o guitarrista Haroldinho Matos (do antológico Mel da Terra) e o vocalista Bemol (ex-integrante da Oficina Blues). Daqui, saíram grupos como o Maracangalha e o Tersamba. Pelas nossas mesas, passaram Milton Nascimento, Geraldo Vandré, Paulo Moura, Paulinho Pedra Azul e a cantora e compositora Lucina", comemora Eva.
Sofá de chita
Instalada com um grupo de amigos, num grande sofá comunitário, forrado com chita, Natasha Funes, 21 anos, estudante de cinema do Iesb, era o centro das atenções. Justifica-se: a garota, que no futuro pretende escrever roteiros, estava comemorando o aniversário no bar Godofredo. "Gosto de muita coisa daqui, como a decoração à base de objetos artesanais (em destaque, imagens de santos de diferentes religiões), a música e, principalmente, a possibilidade de encontrar os amigos", justifica. O bar toca música de qualidade. "Até as 23h, ouve-se jazz e blues. Daí em diante, o DJ programa rock para dançar", conta o gerente Bruno Pepito.