postado em 15/11/2009 09:51
Fábio Jr., quem diria, é um cara caseiro, que quando sai é para trabalhar ou ir ao sÃtio, ouvir moda de viola e pescar. Por isso, não estranhe quando escutar a voz dele por aÃ, em clássicos caipiras, como Estrada da vida, Cabecinha no ombro e Rio de Piracicaba. É ele mesmo, o cantor popularÃssimo que há três décadas interpreta músicas de amor - e regrava, regrava, regrava - e que agora decidiu fazer de seu 25º disco, Romântico, um CD... sertanejo. E não é que ficou bom?
Sem carregar nos tons (agudos), Fábio Jr. aposta num repertório de "classicões", como ele diz, de músicas que o emocionam, que gosta de cantar em casa (e ouvir no sÃtio que tem há 20 anos, perto de São Paulo). Com mais acertos do que erros (o inverso dos últimos álbuns), interpreta à sua maneira pérolas do campo, como No rancho fundo, de Lamartine Babo e Ary Barroso, e Amizade sincera, de Renato Teixeira. "Meu xodó é Cabocla Tereza, que meu pai adorava", conta ele, que também gravou os hits Fio de cabelo, É o amor e Telefone mudo.
Pode parecer engraçado, mas Fábio se sai melhor no repertório sertanejo do que nas quatro regravações que escolheu, fora do universo caipira, para o novo trabalho. Alma gêmea, segundo ele, só entrou (de novo) porque teve o andamento mudado, "ficou mais intimista, mais simplezinha, na praia do resto do CD". Amar é perdoar, versão de Don%u2019t know why feita por Sylvia Massari (também autora da outra versão do disco, de When a man loves a woman, traduzida para Quando um homem se apaixona), ele explica que foi a música que lhe fez achar o caminho para os arranjos do álbum. Ok, mas entre as quatro estranhas no ninho, a melhor é Românticos, de Vander Lee.
Prestes a completar 56 anos (no próximo dia 21), Fábio Jr. diz que o tempo lhe trouxe serenidade para lidar melhor com tudo - a carreira, os cinco filhos, o sexto casamento. "Estou numa fase boa, animado com a vida", garante o cantor, que vive na estrada e fazia um tempo que não dava entrevistas, embora se considere low profile para essas coisas de paparazzi e celebridades. "Imagina se vou me incomodar com fofoca... Tem coisa mais importante na vida."
Sem nenhuma vontade de voltar para a tevê, ele hoje se emociona vendo os filhos na televisão - Fiuk é o novo protagonista de Malhação; Cléo Pires teve seu melhor momento como Surya, na novela Caminho das Ãndias. Também se entusiasma ao ver a renovação do público em seus shows. "As mães agora levam as filhas, já, já estão levando as netas. Isso dá um gás, um fôlego que... nossa"
Cinco perguntas
Você quis fazer um disco sertanejo, mas incluiu uma música do Vander Lee (Românticos) e duas versões (de Don%u2019t know why, conhecida na voz de Norah Jones, e When a man loves a woman) que não fazem parte do universo caipira. Por quê?
Na verdade, a gente achou o caminho do disco com Amar é perdoar, a versão da música da Norah Jones. Quando Guto (Graça Mello, o produtor) trouxe uma demo para eu ouvir, falei: "Véio" Engraçado, foi ali, com a música de uma artista supercontemporânea, que encontrei o jeitão de cantar, os arranjos e tudo mais do disco. Porque os classicões sertanejos, a maioria é cantada em duas vozes desde o inÃcio. E eu ficava: meu Deus, como resolver isso? Quando achei o caminho, substituà (a segunda voz) pelos quatro vocalistas, numa linha mais pro gospel, pro spiritual. Deu certo, graças a Deus.
As pessoas não estranharam quando você disse que faria um disco sertanejo?
O Guto estranhou, e ele me conhece há 30 anos: "Pô, será que seu público vai entender?. E será que os sertanejos não vão ficar meio assim?" Ah, meu deus do céu, mas será que não posso cantar as músicas que gosto de ouvir? E são clássicos, músicas que um monte de gente já regravou. Por que eu não posso regravar? Recebi o disco agora, no último fim de semana. Não sei se alguém (um dos sertanejos) já ouviu, mas queria escutar a opinião deles.
Você se sente mais à vontade fazendo um disco de intérprete?
Não. Já, já vai sair um de inéditas, quase de autor, só não sei quando. Mas eu gosto de cantar, essas são músicas que gosto de ficar cantarolando em casa. Na hora em que a gente foi pesquisar, falei, meu Deus, é um universo infinito! Para você ter uma ideia, a gente escutou umas 500 músicas. Dava para fazer uns 20 discos. Foi um parto escolher o repertório.
Seu filho Fiuk agora é mocinho de Malhação e tem uma banda, a Hóri%u2026 De certa forma, repete um pouco sua história, não?
Ah, é demais, né? O moleque fez 19 anos no mês passado e já saiu com as duas carreiras, de ator e de cantor e compositor. Também está no novo filme de LaÃs Bodanzky, que vai sair no ano que vem (As melhores coisas do mundo). Ele morava comigo desde os 13 anos, se mudou para o Rio em outubro por causa de Malhação. Chorei muito quando o vi na televisão. Foi impressionante ver o moleque ali. Gostei pra caramba. Quando a Cléo (Pires) estreou, também foi assim. Nossa, que emoção!
Você tem vontade de voltar para a televisão, como ator ou apresentador?
Não, não tenho. Foram três anos seguidos como apresentador, caramba. Como ator, também não penso, não. Não digo que nunca mais vou fazer, a gente nunca sabe, mas não é algo que eu tenha em mente.
De Uncle Jack a cantor caipira
Paulistano do Brooklyn, filho de um taxista e uma professora de piano, Fábio Corrêa Ayrosa Galvão, quando adolescente, revezava-se com os irmãos, Heraldo e Danilo, na banca de jornal do pai. Nas horas vagas, os três mandavam brasa no grupo vocal que eles criaram naquele fim dos anos 1960 - e que conseguiram mudar de nome três vezes em apenas três anos: Os Colegiais, Os Namorados, Bossa 4 e Arco-Ãris. "A gente brigava um pouquinho, sim. Até porque era uma banda de irmãos. Mas o resultado era muito legal", comenta ele, que começou a compor nessa época, por volta dos 15 anos, e gravou sua primeira música no lado B do compacto de Os Namorados.
Quando se lançou em carreira solo, em 1972, Fábio usava o pseudônimo Uncle Jack. Em 1973, já era Mark Davis. Bem no espÃrito dos tempos, cantava em inglês para o público pensar que era norte-americano, "coisa fina". "Embromation, né?", lembra à s gargalhadas o cantor, que assinou em 1976 seu primeiro LP como Fábio Jr. (o Júnior foi acrescido ao nome para que não o confundissem com o cantor Fábio, sucesso na época). Pouca gente conhece esse disco. Virou raridade. O detalhe interessante: a maioria das faixas foi composta em parceria com Paulo Coelho.
De lá para cá, foram 25 discos. Nos primeiros, ele ainda apostava mais nas próprias composições, nas inéditas. Os últimos foram de regravações (Fábio Jr. e elas, Minhas canções, Ao vivo, Acústico%u2026). "Acabei emendando um projeto no outro", justifica o cantor, que nem tinha o CD sertanejo como sonho antigo. "Deu vontade e fiz. O que tenho em mente já há algum tempo é um disco de autor", adianta ele, que já vem tirando do baú umas músicas inéditas (ou pedaços delas), retomando a parceria com Sérgio Sá (de O que é que há e Eu me rendo) e estreando outras, com nomes como Aldo Gouveia e Márcio Cruz, vocalistas de sua banda. "Gosto de compor com parceiros. Quando um pedaço da letra ou da melodia enrosca, eu passo o pepino para eles", ri.
Raridades
As oito canções de Fábio Jr. e Paulo Coelho gravadas no LP de estreia do cantor são muito pouco conhecidas: Nós, os filhos, Coisas de agora, Agora chega, Bicho de sete cabeças, Novos tempos, Se saudade matasse, Tua idade e Já são quinze para as sete. E não dá vontade de regravá-las? "TaÃ, é uma ideia que você está me dando", diz Fábio. "Foram músicas que não fizeram sucesso, vão soar como inéditas."
Ouça trecho da música Rancho Fundo com Fábio Júnior