O gosto pela política acompanha o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro desde os primeiros anos de vida, há quatro décadas. Mesmo em dias de crise e indefinições, a tradição volta e meia dá provas de resistência na tela do Cine Brasília. Se faz notar em filmes socialmente engajados, sessões polêmicas e cerimônias de premiação que valorizam obras radicais. Mas, como em poucos outros momentos na história da mostra, essa vocação será levada ao pé na letra na solenidade de abertura, só para convidados, da 42; edição, hoje à noite na Sala Villa-Lobos. A cinebiografia Lula, o filho do Brasil não concorre a prêmios, mas chega a Brasília com status indiscutível de atração principal e traz com ela um viés político-eleitoral que vai dar o que falar até o pleito do ano que vem.
;É uma honra, uma emoção voltar ao festival, que é um dos quatro mais importantes do país;, comenta o diretor Fábio Barreto, que retorna à mostra 32 anos depois de competir, em 1977, com o curta A história de José e Maria. Levou o prêmio de melhor direção. ;Naquela época as pessoas já diziam que eu estava ganhando o prêmio porque era o filho do Barretão (o produtor Luiz Carlos Barreto). Mas agora o filho do Barretão é o Lula;, ironiza o cineasta, indicado ao Oscar de produção estrangeira por O quatrilho, de 1995.
Em clima de gala, a pré-estreia do longa-metragem cria mais expectativas que todos os candidatos ao Candango de melhor filme deste ano. A mostra competitiva começa amanhã, mas a estrela do festival promete brilhar antes disso. É a primeira exibição pública do filme. Daqui a dois dias o longa será exibido em Recife, estado natal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e dia 28, em São Bernardo do Campo, em São Paulo. ;Sei que o filme vai passar por estes ataques e aprovações. Vários jornais já acusaram que este seria um filme de campanha eleitoral. Mas não quero falar de política. O filme é sobre um ser humano que por acaso é o presidente atualmente;, desconversa. ;Minha expectativa é que ele vá bem de público. Até o Obama já pediu para ver o filme. Espero que eu inaugure o ano de 2010 com um baita sucesso;, torce. O longa chega ao circuito comercial em janeiro.
O tom sentimental do projeto é assumido. Mas o retrato afetuoso do metalúrgico, da infância às lutas sindicais, certamente não será poupado de discussões politizadas à saída do Teatro Nacional. Durante a exibição, uma ausência será sentida pelo público: Lula não deverá comparecer. Assistirá ao filme longe da plateia, quando chegar de Roma, numa cópia de serviço enviada pela produção. Mesmo sem a presença do protagonista da história, a sessão promete um encontro inusitado entre a comitiva palaciana, companheiros do PT na Esplanada dos Ministérios e no Congresso e um elenco (não tão numeroso) de celebridades liderado por Glória Pires, que vive na ficção a mãe de Lula, dona Lindu. Milhem Cortaz faz o papel do seu Aristides, pai do presidente.
Uma das primeiras a confirmar presença ao evento, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, não deve chegar a tempo de prestigiar a abertura do festival. Ela está em Copenhague, onde participa da 15; Conferência das Partes (COP -15). A expectativa é de que a maioria dos ministros compareça ao evento. Cada gabinete solicitou convites à Secretaria de Cultura do DF. Hospitalizado, depois de uma cirurgia no pé direito, o governador José Roberto Arruda deve ser representado pelo governador em exercício Paulo Octávio. O único representante do GDF que tem poltrona garantida é o secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho.
[SAIBAMAIS];O presidente pediu que todo o pessoal que trabalha com ele fosse convidado. Quer garçons e secretárias do Planalto na sessão. Espero que a organização do festival esteja cumprindo com isso;, destaca Fábio Barreto. Para Gorgulho, o filme tem potencial para emocionar o público comparável ao de 2 filhos de Francisco, sobre a dupla sertaneja Zezé di Camargo & Luciano. ;Uma coisa é o PT, outra é o Lula. Goste ou não, devemos respeitar a história dele;, afirmou o secretário. Aos eleitores, será difícil conseguir uma brecha na festa do poder: o Correio apurou que foram distribuídos 800 convites para o governo federal. A Sala Villa-Lobos tem capacidade para 1.322 pessoas.
Colaborou Ricardo Daehn.
42; FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO
Hoje, às 20h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, cerimônia de abertura com exibição do filme Lula, o filho do Brasil, de Fábio Barreto, e apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro. Acesso apenas para convidados.
O número
800
Lugares, dos 1.322 da Sala Villa-Lobos, estão reservados
ao governo federal