Diversão e Arte

Governo prefere dizer que não está tratando o filme como grande evento

Mirella D'Elia
postado em 17/11/2009 08:52
Lula, O Filho do Brasil estreia sem a presença de grandes estrelas do PT e partidos aliados. O presidente Lula e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, estarão fora do país. O líder do PT na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (SP), disse que irá priorizar as atividades em plenário e que já assistiu ao filme, há três meses, antes da edição final. Familiares do presidente prestigiarão sessões fora do Planalto Central, em especial, a de lançamento em Recife, na quinta-feira, e a de São Bernardo do Campo (SP), dia 28. As ausências não devem ser creditadas ao acaso. Fazem parte de estratégia do governo que quer despolitizar a exibição do filme mais esperado do ano, pelo menos entre governistas e oposição.

Procurada pelo Correio, a assessoria de imprensa da Presidência da República disse que não havia uma mobilização em prol da presença de chefes de gabinete e outras autoridades do Palácio do Planalto. Ressaltou que o lançamento não faz parte de agenda oficial. A estreia também está fora dos planos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Os presidentes da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), e o do Senado Federal , José Sarney (PMDB-AP), não confirmaram presença.

[SAIBAMAIS]Mas se o governo prefere dizer que não está tratando o lançamento do filme como um grande evento, a oposição não esconde a preocupação com a repercussão da película, que tem estreia nacional em ano eleitoral. ;Isso tudo foi programado desde a origem para ter impacto emocional e político. É uma verdadeira operação de propaganda eleitoral. Essa é uma manobra absolutamente programada com intenção deliberada de favorecer o governo e os candidatos do governo, isso é óbvio;, criticou o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP).

Indagado sobre a possibilidade de o filme ser alvo de questionamento na Justiça por iniciativa da oposição, um ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lembrou que a Justiça Eleitoral só age mediante provocação. ;O nosso papel é ficar de prontidão. Em matéria de propaganda eleitoral antecipada não agimos por impulso;, declarou. Segundo especialistas em legislação, se o filme for alvo de representação no TSE, terá dificuldade em ser aceita. O cinema, por ser considerado uma atividade artística, é protegido pela Constituição.


Três perguntas // Milhem Cortaz


Você trouxe carga política para o filme?
Quis fazer o filme, independentemente,a de retratar a história do Lula. Aceitei por ser a história de um brasileiro. É uma história parecida com a do meu avô e da minha mãe. Acho incrível a trajetória do Lula: um cara predestinado. O cara sair de um inferno do sertão e hoje ser presidente da República é uma coisa deslumbrante.

Seu papel, de ser o violento pai do Lula (Aristides Inácio da Silva), é vilanesco?
Minha meta foi humanizar essa pessoa. Ele é colocado no filme, na partida de casa e depois, já alcoólatra, quando perde o controle. Agora, se pararmos para pensar o amor era muito diferente no começo do século passado. Nossa perspectiva de metrópole, hoje, é outra. Não tem beijo: amor, lá (no sertão), é respeito. A educação era outra, sem muita conversa. Você tem que estar de coração aberto, para entender as diferenças. Mesmo com os aspectos violentos salientados, todos admitem que ele nunca deixou faltar nada em casa. No sertão, não deixar faltar nada é amor ; é cumprir uma obrigação.

Como foi a relação com Glória Pires? E o que você vê no trabalho do Rui Ricardo Dias (Lula, no filme)?

A produção pediu para eu não criar vínculo nenhum com a Glória, e preservar o respeito enorme que tenho por ela. Para ela, sobrou o mistério de não saber quem eu sou. Isso foi o mais difícil: criar uma cumplicidade com uma pessoa que você não conhece. Nunca vi uma atriz tão generosa quanto ela: Glória é uma pessoa que merece estar onde está. O maior desafio meu foi jogar no mesmo nível, para cumprir essa história, sem cair no clichê. O Frei Chico (irmão do Lula) se emocionou bastante no set. Quanto ao Rui Ricardo, ele é um ator muito inteligente e politizado. Vi cenas dele com as quais fiquei muito comovido. Ele se banhou: sem copiar o Lula, ele entendeu demais a essência desse homem. Rui, pela coragem do papel, ;é o cara;. (RD).

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