Diversão e Arte

Jovem diretor André Miranda acaba de filmar Deus

postado em 18/11/2009 08:46
No clássico O sétimo selo, de Ingmar Bergman, um cavaleiro medieval vaga, errante, em busca de soluções para suas crises existenciais. A angústia, de caráter quase bíblico, é potencializada pela presença mítica da morte e sua foice. Mesmo que num tom cômico, o jovem diretor André Miranda recorreu ao eterno embate entre o mundo real e a força superior para ilustrar a trama do seu segundo curta-metragem Deus, que acaba de ser filmado. Na história, o protagonista, vivido por Edu Moraes, simplesmente questiona a existência divina. "É aquele tipo de ideia que temos quando nos damos conta de que a vida passou e não fizemos nada", destaca Miranda. "Esse é o drama do personagem, que duvida que Deus existe", continua. O mote para o enredo surgiu num período barra pesada na vida do diretor, quando este sofria de depressão profunda por conta de um coração partido. "Desabafando numa mesa de bar, um amigo tentava levantar minha bola, mas de um jeito bem debochado. Então fiquei pensando, e se Deus fosse desse jeito, meio cínico?", lembra André, que desenhou a figura do Todo-Poderoso tendo em mente Lauro Montana, seu confidente naquele bate-papo dor de cotovelo. Vencedor do prêmio de melhor ator no Festival de Gramado de 2005, pela atuação marcante do sequestrador Marcão, Montana caiu como uma luva na pele do gozador ser supremo. "Foi perfeito", resume o diretor. O toque surrealista na narrativa foi dado com a utilização de quatro grandes painéis grafitados em pontos diferentes da cidade. Um deles, com 22m de comprimento e 3m de altura. Espalhados pela Asa Sul (506 Sul e 515 Sul) e por uma fábrica desativada de leite no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), tais interferências visuais compõem a trama deDeus. A reprodução em forma de grafite da famosa tela Guernica, do pintor espanhol Pablo Picasso, localizada ao lado do Espaço Cultural Renato Russo, da 508 Sul, também entrou como personagem da história. "Eu queria que as passagens em que Deus aparecesse fossem algo bastante colorido, me veio à cabeça, na hora, os trabalhos com grafite", revela o diretor, que contou com o talento coletivo dos grafiteiros Rodrigo Level, Juliana Borges e Daniel Banda, também responsável pela direção de arte do curta. "Os desenhos estão ligados diretamente com a história, quase que sublinhando os diálogos", detalha Banda, que foi buscar inspiração conceitual para os desenhos do coletivo nos trabalhos do gravurista e desenhista holandês M.C. Escher. "A obra dele passa a impressão de ser uma coisa e é outra completamente diferente. Tem duplo sentido visual e a gente quis captar essa ideia", explica o grafiteiro. Com mestrado da Escola Superior de Cinema e Audiovisual da Catalunha (Barcelona), André, diretor também do curta Ódio puro concentrado, não se limitou a recorrer somente às técnicas de grafite para construir a narrativa de seu segundo projeto. A partir de exaustivas conversas com o diretor de fotografia Krishna Schmidt, vislumbrou a possibilidade de explorar outros caminhos tendo como suporte criativo tripé importante no cinema: o trabalho de direção de arte (assinado por Daniel Banda), fotografia e direção. Daí a presença também no curta de stop motion e marionetes confeccionadas especialmente para o filme. "A ideia era experimentar mesmo linguagens distintas", destaca. O experimentalismo narrativo despertou a atenção do estudante de antropologia Igor Karim, que relaciona a disciplina com alguns elementos da arte visual. "Em alguns pontos as duas ciências têm a mesma fonte", filosofa. Passo a passo Trata-se de técnica de animação que dá movimento a objetos inanimados tais como massinhas de modelar. Na maioria das vezes, é utilizada em tramas lúdicas, voltadas para o público infantil.

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