Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

V Festival Brasília de Cultura Popular traz atrações de vários cantos do país e até da Colômbia

Brasília é a síntese do Brasil e consegue reunir um pouco da cultura de cada região. O maracatu, a ciranda, o carimbó, a capoeira de coco, o samba pisado e o de roda. Todos esses ritmos, e outros com o cheiro, o suor e a poesia brasileira estão presentes no V Festival Brasília de Cultura Popular que está sendo realizado neste fim de semana na Fundação Nacional de Cultura (Funarte) e é organizado pelo grupo Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro, que é uma das atrações. Grupos e artistas não só do Distrito Federal como de Pernambuco, Bahia, Goiás, Pará, Alagoas, Sergipe, e também do exterior, prometem levantar e conquistar o público. ;Cada vez mais, o festival vem crescendo, amadurecendo. Grupos de vários lugares do país entram em contato com a gente para participar também. E todos eles trazem essa carga tradicional, de raiz muito grande, que é a tônica do nosso evento;, comenta o curador, Tico Magalhães.

Ele acrescenta que o objetivo do festival é revelar um Brasil desconhecido, e também mostrar nomes que representam a nossa legítima cultura e que já estão despontando. ;Em comum, todos os artistas são representantes autênticos da nossa cultura popular. Sejam já consagrados, como o Ilê Aiyê e a Mariene de Castro, da Bahia, o Maciel Salú, de Pernambuco, ou mesmo os menos notórios, como as Baianas do Coqueiro Seco, de Alagoas, que têm um trabalho muito bonito. Todos eles enriquecem o nosso evento;, comemora.

Entre os destaques, está o grupo colombiano Paíto & Los Gaiteros de Punta Brava. Força, alegria e magia são os pilares dos artistas que se apresentam pela primeira vez na capital federal. ;Sabemos que é um festival com uma importância muito grande no Brasil e mostra a raiz das culturas, que têm tudo a ver conosco, já que somos um grupo bem tradicional que existe há 62 anos;, conta a produtora do grupo, Liliana Gongora.

O fundador e maestro Paíto, de 73 anos, nasceu em María la Baja, uma comunidade negra do litoral da Colômbia. Ainda criança, começou a tocar. Hoje, toca com seus descendentes. ;A música de gaita preta é bem típica na Colômbia e é um dos nossos instrumentos mais importantes. Ela é feita pelos indígenas locais e, por isso, a música do grupo mescla os negros com os índios, produzindo algo bem forte e alegre;, explica Liliana Gongora.

Quem também participa pela primeira vez do festival é o artista pernambucano Maciel Salú, 35 anos. E ele logo dá o recado para a sua estreia no evento: ;Vamos fazer o bambu gemer!”, brada. Filho de Mestre Salustiano e neto de João Salú, ele carrega no sangue o que de melhor tem na cultura popular pernambucana. E assim, não podem faltar o autêntico maracatu, a ciranda e o cavalo-marinho na apresentação do cantor e compositor. ;É claro que todos esses ritmos estão presentes na minha música. Mas, pela influência das minhas viagens pelo mundo, acabo criando outros ritmos também, colocando muitos metais, bateria. Tem esse lado inovador. A gente se renova, mas mantém a identidade;, revela Maciel, que está na reta final do seu terceiro CD.

Atividades
Além dos shows, o público tem à disposição outras atividades, como a Feira Cultural, na qual os artistas expõem a história de sua cultura, abrindo espaço para a venda de instrumentos, discos e DVDs. Nela, também há uma praça de alimentação com comidas típicas de vários estados. Uma novidade para esta edição é um espaço voltado para o público infantil, a Tenderê, tenda enfeitada e cheia de novidades para que as crianças possam conhecer mais a cultura popular brasileira.

Já na Mostra Brasis, dois grupos tradicionais ; neste ano os convidados são o Maracatu Nação Leão Coroado (PE) e o Maracatu Baque Solto Piaba de Ouro (PE). Eles serão colocados frente a frente para tocar, propondo um contraste entre as semelhanças e diferenças de cada um.

Ouça a música Ka nho naben, do grupo Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro veja as atrações locais no festival:


V Festival Brasília de Cultura Popular
Neste sábado e domingo, a partir das 16 horas, nos gramado da Funarte (SDC, atrás da Torre de TV). Entrada franca e área coberta. Informações: 3522-8884.

Programação


Sábado
Roda de Palhaços 11h-16h
Mambembrincantes (DF) 17h
Cacuriá Filha
Herdeira (DF) 18h
Passarinhos do
Cerrado(GO) 19h
Vozes da Mussuca (SE) 20h
Maciel Salú (PE) 21h
Carimbó Os Quentes
da Madrugada (PA) 22h
Mariene de Castro (BA) 23h

Intervenção cultural com Pé de Cerrado (DF) e Delirantes (DF)

Domingo

Roda de Mamulengo 11h-16h
Baianas do Coqueiro
Seco (AL) 17h
Seu Estrelo e o
Fuá do Terreiro -
lançamento do CD (DF) 18h
Paíto e Los Gaiteros
de Punta Brava (COL) 19h
Ilê Aiyê (BA) 20h

Intervenção cultural com Mestre Zé do Pife e as Juvelinas (DF) e Cia Fluxo (DF)


Algumas atrações


Mariene de Castro (BA)

; Representante fiel dos ritmos de origem negra, como o samba tradicional, o samba-de-roda, o samba-canção, o maracatu, o ijexá, entre outros, a cantora é hoje uma das maiores representantes da cultura baiana. Em suas apresentações, mostra a estreita relação que tem com o candomblé e os orixás, principalmente Oxúm. A voz potente e a forte presença cênica também são traços marcantes da artista que recebeu o Prêmio TIM de Melhor Disco Regional, em 2005, por seu álbum Abre caminho.

Vozes da Mussuca (SE)
; A mistura das várias nações africanas, costumes ibéricos e do sincretismo religioso originou, na região da Mussuca (SE), o Samba de Parea, que foi criado como um ritual para celebrar o nascimento de um bebê no quilombo. Com tamancos de madeira, que para os negros simbolizavam a liberdade frente aos brancos, mulheres sambam e rodam em parelha, enquanto a banda toca e canta canções que falam de libertação e de afirmação da cultura de seu povo.

Baianas do Coqueiro Seco (AL)
; Com uma sonoridade ritmada por ganzá e zabumba (e, no caso de Alagoas, do tarol), o folguedo tem cenografia simples, executada por um grupo de mulheres vestidas em saias rodadas com muitos penduricalhos.

Ilê Ayiê (BA)
; O Ilê Aiyê, ou simplesmente Ilê, é o primeiro bloco afro do Brasil. Hoje, constitui um grupo cultural de luta pela valorização e inclusão da população afrodescendente, inspirando a criação de muitos outros grupos culturais no Brasil e no mundo. O Ilê é um patrimônio de cultura baiana e um marco no processo de reafricanização do carnaval baiano.

Cacuriá Filha Herdeira (DF)
; O cacuriá é uma dança folclórica típica e cultural do Maranhão. Criada há aproximadamente 32 anos no interior, ela foi levada para São Luís, por dona Florinda e o senhor Lauriano, mais conhecidos por Filoca e Lauro. O cacuriá foi criado a partir do carimbó de caixa (instrumento de batuque), que era tocado com a caixa da Festa do Divino Espírito Santo. A sua dança é coreografada, cheia de simbolismo, e cada passo da dupla transmite a manifestação da cultura, a crença e os costumes do povo.

Carimbó Os Quentes da Madrugada (PA)
; O carimbó está para o Norte assim como o forró está para o Nordeste. Junção de pé batido indígena com o rebolado do africano, o carimbó é um dos gêneros tradicionais mais significativos do país. A Irmandade de São Benedito ; Os Quentes da Madrugada, fundada há quase 200 anos no município, mantém uma tradição extremamente complexa que envolve 11 dias ininterruptos de festa.

Paíto & Los gaiteros de Punta Brava
; Paíto nasceu em María la Baja, comunidade negra no litoral da Colômbia. Cresceu acompanhado do som da gaita tocada pelo seu pai, famoso gaiteiro, e herdou seu estilo e repertório. Paíto teve vários filhos, dos quais três aprenderam a arte da gaita e dos tambores e o acompanham em suas apresentações. O grupo é formado por uma gaita fêmea, uma gaita macho, que se executa com um maracá, dois tambores africanos e um tambor alegre. A música das gaitas e dos tambores se converte em uma verdadeira festa sonora que faz tremer os espectadores e desperta os espíritos adormecidos!