Nahima Maciel
postado em 25/11/2009 08:28
O maestro Claudio Santoro completaria 90 anos na segunda-feira se não tivesse sofrido um enfarte naquele 27 de março de 1989, enquanto ensaiava, na Sala Villa-Lobos, com a então recém-fundada Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. Foi, portanto, o palco que assistiu ao sonho e ao fim do maestro o local escolhido pela Câmara Legislativa do Distrito Federal para a sessão solene de leitura do decreto de tombamento da obra do compositor.
Desde segunda-feira, o legado musical e pictórico de Claudio Santoro é patrimônio imaterial protegido pelo governo do DF. O decreto assinado pelo governador José Roberto Arruda e de iniciativa do deputado Claudio Abrantes (PPS-DF) se refere ao acervo de 400 partituras e telas guardadas no apartamento de Gisele Santoro, viúva do maestro. O texto, no entanto, nada diz em relação à maneira como a obra deve ser preservada e não prevê mecanismos de salvaguarda do acervo, que continuará com Gisele. "O tombamento ainda não implica uma ação do governo de proteção efetiva, mas é um primeiro passo, um reconhecimento oficial da obra do Santoro. Esse reconhecimento abre portas para captar, mas na prática ainda não traz o que a gente deseja, que é a proteção e a catalogação da obra", admite Abrantes.
Gisele acredita que a iniciativa pode facilitar e viabilizar o sonho de construir uma sede para uma fundação consagrada à obra de Santoro. "No meu entender, significa que é protegido pelo governo. As obras continuam comigo, apenas são, em tese, protegidas. Por enquanto é uma coisa de honraria, de reconhecimento público e que, de certa maneira, protege a obra", diz. "O ideal seria guardar em condições certas de umidade, com possibilidade de consulta virtual. Não adianta nada música trancada no armário. Tem que ser tocada."
A sessão solene na Villa-Lobos foi a primeira homenagem da semana. Além da leitura do decreto, contou com participação do pianista Ney Salgado, da violinista Valeska Hadelich e do Quarteto Santoro, que executaram obras do maestro. A plateia, no entanto, não passou de 24 pessoas. "Se fosse na Alemanha estaria cheio", comentou o DJ Raffa, filho de Santoro, ao lembrar que parte da vida musical do pai foi construída e reconhecida em solo germânico.
Colagens
Hoje, Raffa continua a sessão de homenagens ao pai em duas apresentações da série de concertos Santoro 90 anos com um arranjo eletrônico da Sinfonia nº 7, escrita por Santoro e dedicada a Brasília. Inicialmente, Raffa deveria executar o Concerto para DJ e orquestra - sobre temas de Claudio Santoro, partitura escrita por Silvio Barbato, morto no acidente do avião da Air France em maio. "A partitura sumiu com ele e tive que escrever a peça. A sétima sinfonia é para orquestra, mas fiz uma peça para um homem só, com variações sobre os temas e colagens de textos com gravação da voz em que ele (Santoro) fala sobre música contemporânea e moderna", conta Raffa, que vai operar toca-discos, computador e sintetizador para tocar ao vivo. A segunda parte de Santoro 90 anos é dedicada a quatro peças do maestro tocadas pela Camerata do Brasil sob regência de André Cardoso.
Ontem, a Universidade de Brasília (UnB) também deu início a uma série de eventos destinados a homenagear o compositor. Um concerto inaugurou o projeto Claudio Santoro: transitoriedades e permanências. Até 7 de dezembro, a Biblioteca Central da UnB recebe exposição com documentos e gravações inéditas do maestro.
Santoro 90 anos
Concerto com DJ Raffa e Camerata do Brasil sob regência de André Cardoso. Hoje, às 13h e às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia). Sessão de 13h é gratuita.