Diversão e Arte

Gafes, emoções e o quente 'Recife frio'

Ricardo Daehn
postado em 26/11/2009 10:12
Numa edição em que a safra de curtas renovou o vigor, ao lado dos grandes vencedores Recife frio e Ave Maria ou a mãe dos sertanejos, o brasiliense A noite por testemunha venceu prêmios Candango de elenco masculino e trilha sonora. Junto a críticas em torno da política cultural, feitas pelo produtor Rojer Madruga, e um momento constrangedor, levantado pela acusação de "analfabetismo político" (por parte de Jorge Oliveira), o esquecimento do ator indígena Fidelis Baniwa entre os premiados foi lamentável. A vitória de Camilo Cavalcante (com o melhor curta, Ave Maria) veio como surpresa: "Não esperava, mesmo. O público mergulhou no filme e conseguiu encontrar o sertão. Este é um filme muito especial porque foi feito coletivamente. O júri reconheceu a honestidade do projeto". Nada, porém, tirou o brilho do prestígio alcançado por Recife frio, de Kleber Mendonça Filho, que acumulou sete prêmios, entre eles o de direção, júri popular e prêmio da crítica. Concedido pelo Correio, o Prêmio Saruê demarcou um momento especial lembrado pelo diretor. "Fico muito feliz. Este prêmio oficializa o que aconteceu no sábado. Eu esperava um pouco o prêmio de público, por causa da onda de aplausos e do nível de decibéis daquela sessão", disse. A exibição de Brasília, a última utopia, na noite de premiação, trouxe uma energia nostálgica e reforço para a identidade da capital, num revival da produção de José Pereira, (1)que integra curtas de cineastas como Vladimir Carvalho, Pedro Anísio e Geraldo Moraes. Esse último, concorrente ao festival, pelo longa O homem mau dorme bem, que conquistou apenas troféu para o coadjuvante Bruno Torres e montante de R$ 35 mil dado pela Câmara Legislativa. "Fiquei muito satisfeito com o resultado, com os debates, com a reação do público e adorei a premiação do Bruno (filho dele)%u201D, observou. Politizado, o cineasta fez apenas uma ressalva à entrega dos Candango. "Se os documentários estão, de fato, melhores do que as ficções, devem prevalecer. Na hora da premiação, porém, ficam restritos. Isso não concerne ao júri, mas à organização do festival: talvez coubesse fazer uma divisão entre documentários e ficções. Sei que tudo é cinema, mas poderiam categorizar os prêmios", concluiu. 1 - Saudade precoce Produtor cultural natural de Campina Grande (PB), José Pereira da Silva (1956-1992) trabalhou intensamente nos anos 1970 e 1980 em Brasília. Na Pedra Produções, realizou filmes Conversas paralelas (1980) e Visita do Papa a Brasília (1980). Faleceu aos 36 anos em consequência de um acidente vascular cerebral. Como homenagem, seu corpo foi velado no Cine Brasília.

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