Diversão e Arte

Novas gerações de poetas brasilienses buscam uma linguagem própria

postado em 03/12/2009 09:03

Há pouco tempo, um dos ícones poéticos de Brasília, Nicolas Behr, ministrava uma palestra em uma escola quando de repente foi questionado por um aluno: ;Mas ainda existem poetas? Achei que todos tivessem morrido;; E então Behr respondeu: ;Enquanto o homem existir e tiver a capacidade de se emocionar, sempre haverá poetas e poesia;.

Novas gerações de poetas: inspirações com outras expressões artísticasE foi assim que ao longo dos anos surgiram Cruz e Sousa, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Mário Quintana, Ferreira Gullar, entre tantos outros. E a cada dia florescem novos poetas no Brasil e no mundo afora. ;A poesia está sempre se renovando; não existe limite para a criação e tem uma nova geração surgindo aí sim. E isso é muito bom;, destaca Behr.

Gabriela Ziegler,16 anos; Bruno Soares, 19; Paulo Ohana, 20; e Carla Andrade, 32, são alguns dos jovens poetas que estão jogando versos, rimas e prosas em toda Brasília. Cada um deles já publicou um livro. Mas reconhecem que, especialmente para a sua geração, as ferramentas da internet têm sido de grande valia. ;A internet é um espaço democrático e assim acaba sendo uma vitrine para a gente, já que não temos muito espaço no mercado editorial;, opina Carla, que conseguiu publicar seu livro com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) do DF.

Já Paulo Ohana acredita que mais que uma ferramenta, os blogs, sites e afins são espaços que dão suporte e expressão à poesia. No entanto, jamais vão substituir a experiência de se ler um livro. ;Hoje, você não se vende, não se divulga, se não ocupar um espaço virtual. Mas jamais vai substituir o significado que tem o papel. São experiências diferentes, porém, sempre válidas;, destaca.[SAIBAMAIS]

Inspiração

Mas em que fonte de inspiração bebe essa nova geração? E qual o espaço que esses jovens ocupam? Conflitos, amores e paisagens são temáticas sempre recorrentes, mas Nicolas Behr acredita que há uma descrença e uma desesperança bem maior na juventude atual do que na que ele pertenceu. ;Muita gente se pergunta: já fizeram de tudo o que nos falta fazer? Mas é claro que ainda falta muito para se fazer, se criar. Há uma tendência de se glamorizar o passado, mas são épocas diferentes. A minha geração tinha outras temáticas, como a luta contra a ditadura, o desejo pela liberdade. Hoje, estamos em uma democracia. É um outro momento, outras aspirações;, ressalta.

O jovem poeta Paulo Ohana acredita que, realmente, o contexto em que emergiu a poesia do próprio Nicolas Behr e de outros poetas daquela geração é bem diferente do atual. Ohana acredita que a nova geração corre atrás de experiências com a linguagem.

;Na época deles, a poesia ocupava um espaço mais claro, uma possibilidade de expressão numa sociedade onde não se podia expressar de maneira tão livre. E hoje, a gente tem a liberdade, mas qual o espaço que a poesia ocupa agora? Acho que estou fazendo uma poesia que não tem nada a ver com o que as pessoas querem ouvir no momento, que estou meio na contramão de tudo, apesar de não me importar muito com esse retorno;, enfatiza.

Para Bruno Soares, de apenas 19 anos, que aos 17 anos publicou seu primeiro livro de poesias, o que atrai e inspira são a proximidade cada vez maior com outras expressões artísticas, como a música e as artes plásticas. ;Há muito tempo, a poesia já saiu desse lado só da literatura. Ela se encontra muito com as outras artes, ou até mesmo com a comunicação visual. Hoje, você consegue ir muito mais além do que antigamente;, salienta.

Já Gabriela Ziegler, 16 anos, que tem a poesia no sangue ; ela é filha dos poetas Francisco Kaq e Ana Paula Ziegler ; conta que busca inspiração nos mais diversos temas, como a natureza, o amor, a vida e até sobre Brasília e o cerrado. A garota começou a escrever poesias assim que foi alfabetizada, por volta dos 6 anos, e lançou seu primeiro livro quando tinha apenas 13. Ela admite que ainda não tem um estilo próprio. ;Faço algumas rimas, tem uma certa métrica, mas são versos livres;, diz.

Caldo de sotaques

E será que a cidade de concreto projetada por Oscar Niemeyer combina com poesia? O mercado aqui é promissor? Para a poetisa Carla Andrade, 32 anos, que é mineira, mas mora em Brasília há quase uma década, o mais interessante na cidade é que, pelo fato de ela ser a capital do país, reúne gente de todos os lugares e, por isso, há uma poesia peculiar por aqui. ;Brasília tem um caldo de sotaques, de vários cantos do Brasil. É uma síntese do que tem de qualidade no resto do país e isso faz da poesia daqui bem especial;, acredita. ;A capital tem uma vida poética intensa. Percebo isso muito claramente, ainda mais aqui que tem poetas de tudo quanto é lugar;, acrescenta a poetisa Gabriela Ziegler. Bruno Soares também é da teoria de que a cidade tem um grande potencial, mas se queixa do restrito mercado editorial brasiliense. ;Temos grandes e bons poetas, mas falta visibilidade.;

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