Diversão e Arte

Ecco apresenta imagens de três renomados fotógrafos

Nahima Maciel
postado em 03/12/2009 11:36
A figura humana é personagem ausente nas imagens do carioca Thiago Barros e dos norte-americanos Nijole Kurdika e Chris Rauchenberg. Sobressai o olhar contemplativo nas imagens em cartaz no Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco). A escolha é deliberada e independente, mas forma uma conversa delicada entre as obras, opção da curadora Karla Osório, diretora do espaço que foi buscar nos artistas uma poética capaz de celebrar os nove anos do Ecco.

Thiago Barros e a paisagem parisiense: homenagem a Daguerre e AtgetO carioca Thiago Barros assume a contemplação como uma atividade motivadora. É o tempo necessário para praticar este verbo que define as escolhas da série Metrópoles. Barros trabalha com câmera de madeira equipada com filme 35 mm, cortina preta e tripé, tal qual faziam os precursores da fotografia. É uma homenagem, ele admite, a figuras como Louis Daguerre e Eug;ne Atget, pioneiros no manuseio dos primeiros negativos, ainda no século 19. Além da técnica, Barros transporta o olhar para a perspectiva dos mestres.

Metrópoles apresenta uma Paris vazia, registrada em preto e branco e com destaque para os monumentos que constituem a capital francesa. São imagens realizadas enquanto Barros fazia uma residência na cidade. ;O grande barato desse trabalho foi reproduzir técnicas da fotografia do século 19 para trazer todo o problema que eles tinham das longas exposições, que era uma dificuldade;, conta. Nos primórdios da fotografia, figuras humanas praticamente não povoavam as imagens, já que estas eram obtidas após longos períodos de exposição do negativo à luz do dia. ;Trouxe isso para os dias de hoje tentando trabalhar o tema das metrópoles. A gente vive meio atordoado numa cidade um tanto confusa e não percebe o entorno.;

O mesmo processo contemplativo guia a norte-americana Nijole Kurdika pela América Latina. Às vezes, a fotógrafa dedica sete horas à observação de uma paisagem para encontrar a luz correta. Há mais de uma década Nijole percorre as terras latino-americanas para compor imagens trabalhadas de tal forma que mais se parecem pinturas. ;Eu comecei com pintura e minhas fotos têm essa visão de pintura. Não estou perseguindo nenhuma documentação, quero registrar a paisagem como uma lembrança da memória;, avisa. As enormes impressões de registros panorâmicos na Venezuela e as texturas conferidas pela bruma úmida amazônica ao nascer do dia são exemplos da intenção da artista.

Pessoas também não aparecem nas imagens de Chris Rauschenberg. Apenas objetos amontoados num cenário cheio de barroquismos. A série Mercado das pulgas percorre os cantos do mercado de mesmo nome no norte de Paris. Tradicional e centenária feira de antiguidades, o local é caracterizado pela enorme quantidade de objetos que Rauschenberg, filho do pintor expressionista abstrato Robert Rauschenberg e fundador do festival PhotoLucida.

É, também, uma homenagem aos antiquários que há décadas constróem a fama de um dos mercados mais famosos de Paris. Imagens de um caos cotidiano, a série Mercado das pulgas se encaixa numa das ideias que guiam Rauschenberg: o ordinário espalhado à nossa volta está bem longe de ser ordinário. ;Para mim, era importante que parecessem fotos que fiz enquanto estava sonhando, como se fossem coisas que invadem o cérebro de uma pessoa;, explica o fotógrafo. ;É a mesma coisa que ter um sonho e precisar dar um sentido a ele.;

Fotografia contemporânea: arte,
difusão e o contexto internacional

Exposição de Nijole Kudirka, Chris Rauschenberg e Thiago Barros. Visitação até 23 de fevereiro, de terça a domingo, das 9h às 19h, no Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco ; SCN Quadra 3 Lote 5). Hoje, às 17h, os artistas participam de mesa redonda. Inscrições pelo e-mail ecco@arte21brasilia.com.br ou pelo telefone 3327-2025 R. 20 e 31.

Espaço nobre
O Ecco nasceu há nove anos com a intenção de expor arte brasileira. Criado por Karla Osório, foi instalado no subsolo do Venâncio 2000 e recebeu apenas exposições de artistas brasileiros até se mudar para o início da Asa Norte, em 2005. O novo espaço, concebido e reformado para receber grandes mostras de arte, passou então a abrigar também exposições internacionais. ;O grande diferencial entre esse e o Ecco anterior é que nunca tinha tido exposição internacional;, diz Karla, que escolheu uma mostra de fotografia para celebrar a data como forma também de lembrar o FotoArte, festival de fotografia realizado pelo Ecco. ;A grande mudança do Ecco foi justamente um engajamento maior na formação de público em Brasília e o programa de acessibilidade que a gente conseguiu instituir nessa nova sede.;

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação