Diversão e Arte

Bar do Escritor: livro ensina as receitas dos drinques preferidos de grandes autores norte-americanos

postado em 05/12/2009 07:55
Inspiração para contar histórias não faltava. A fórmula era viver intensamente. Ficar na rua, nos bares ou nos restaurantes até tarde, sair cambaleando do táxi ao amanhecer, ter conversas filosóficas com amigos e desconhecidos, participar de brigas e ter muitos casos de amor. Tudo sempre acompanhado de um bom drinque. A época gloriosa e boêmia inspirou o roterista Mark Bailey e o ilustrador Edward Hemingway - cujo sobrenome não é uma simples coincidência, ele é neto de Ernest Hemingway, autor de O velho e o mar - a criarem o Guia de drinques dos grandes escritores americanos (Ed. Jorge Zahar). Com muita pesquisa e um pouquinho de imaginação, eles listaram as bebidas favoritas de 43 homens e mulheres da literatura americana. Tudo começou, como não deveria deixar de ser, em uma conversa de bar entre os dois amigos. Os autores, que vivem em Nova York, estavam de certa forma decepcionados com a cena artística americana. "Nós sentimos, nas idas e vindas pela cidade, que nossa vida social era muito mais monótona do que costumava ser. O clima de bebedeira tinha se tornado temperado e desanimado demais, especialmente se comparado às histórias que ouvimos do passado", contou Mark Bailey ao Correio. Foi Hemingway, o neto, que teve a ideia de livro, como uma forma de celebrar uma outra época, de escritores legendários que produziam muito, mas também viviam muito. De acordo com os dois amigos, os principais escritores americanos viveram em um tempo que a bebida fazia parte da sociedade. Não importava se você era escritor, bancário ou publicitário. Beber um destilado e ser capaz de se manter inteiro era apenas parte de ser um homem. "Isso também contava para as mulheres, mas, provavelmente, em um nível abaixo", diz Mark. "Muitos autores trabalhavam em casa e depois se juntavam nos bares ou em festas - em Nova York, Paris, Los Angeles, onde fosse -, e isso era de certa forma glamoroso", completa. Ernest Hemingway costumava dizer que quando você trabalha com a cabeça, a única forma de sair do escritório é com uma bebida. Assim como ele, os autores bebiam depois de escrever, não antes. Jack Kerouac tinha um grande amor pelo México, por isso adorava uma margarita. Edgar Allan Poe sempre escolhia um sazarac feito com absinto, enquanto F. Soctt Fitzgerald preferia um gin rickey - mistura de limão, gim e club soda. Alguns autores faziam do ato de beber uma coisa fácil e legal, como se fosse parte de uma história, como se não houvesse nenhum problema em tomar umas a mais e curtir a vida. Palavras O conselho de Bailey para novos escritores é um ou dois drinques depois de ter escrito mais de mil palavras ou qual for o seu objetivo do dia. O ideal são as misturas mais sólidas e sem muita frescura. "Um manhattan, um martini, uma coisa antiga - depende se você prefere vodca, gim ou uísque. Mas que seja um clássico, um drinque que te traga de volta ou que te leve à algum lugar", sugere. Feita com uísque tipo rye, vermute doce, dois fios de angostura e cereja, o manhattan é uma das preferências do roteirista e, no livro, homenageia o colunista esportivo, contista e dramaturgo de Chigaco Ring Lardner, que conseguiu bater um recorde: beber durante 60 horas seguidas. Mas ultimamente, Bailey prefere o french 75, que ele descobriu depois de escrever o guia. O coquetel era o preferido de Djuna Barnes, autora do romance No bosque da noite, gay assumida e figura conhecida no universo boêmio dos anos 20 e 30. "O drinque é feito com champanhe e gim, o que não soa muito bem. Mas é uma mistura leve e refrescante e dá um boa surra nos outros. Eu adoro. Pelo menos por enquanto", brinca. Para Deise Novakoski, sommelier, bartender e apresentadora do programa do canal GNT Menu confiança, o french 75, que teve o nome tirado da marca de canhão usado na Segunda Guerra Mundial, é a "arma" ideal para a pré-azaração. Escolher um drinque favorito, no entanto, é um desafio para a especialista. %u201CConsidero cada drinque perfeito para um horário ou estado de espírito. Mojitos e suas variantes são perfeitos para fim de tardes quentes. O dry martini pede para ser bebido às 17h48 de uma segunda-feira extra-aborrecida e o shandy gaff é bom para momentos de indecisão", aconselha Deise, que foi revisora técnica da edição brasileira da obra.
» Trecho do livro
Para Bailey, todos os drinques podem e devem ser degustados. Beber não faz de ninguém um bom escritor, mas ajuda a tornar a vida mais divertida. "Eu realmente não poderia escolher um autor favorito, eles são todos fantásticos, e seu trabalho e vida tão ricos. De fato, assim como os coquetéis, eu descubro que meus favoritos mudam a cada dois ou três meses. Eu entro no clima com um deles e depois preciso tomar um gole com um outro." » E no Brasil Deise Novakoski,sommelier e bartender "No bar perfeito, nunca cabe todo mundo, então digamos que hoje seja uma quarta-feira e eu estou servindo à minha escritora favorita, Zélia Gattai, um kir feito com água de coco e creme de romã. Ao Rubem Fonseca, um black velvet; a Nelida Piñon, um manhattan (adoro imaginá-la com um manhattan nas mãos). Para Afonso Romano de Santana, um negroni; a Marina Colasanti, um bellini; a Nelson Motta, um whisky sour e a Tony Belotto, um old fashioned. Arnaldo Antunes recebe uma piña colada; João Ubaldo Ribero, um between the sheets; Geraldinho Carneiro, um long island iced tea. E Luís Fernando Verissimo, um sazerac. Aí chega, que o bar lotou. Amanhã tem mais..."

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação