Diversão e Arte

Mostra no Museu da República conta a história artística do país sob os olhares dos artistas

Nahima Maciel
postado em 05/12/2009 04:23
A ideia paira há muito na cabeça de Wagner Barja. Desde que assumiu a diretoria do Museu Nacional da República, em 2007, o curador sonha em reunir sob a cúpula projetada por Oscar Niemeyer obras de todos os acervos públicos da capital. O projeto começou a parecer interessante quando a inauguração do museu suscitou discussões sobre a pertinência ou não de a instituição abrigar um acervo ou, até mesmo, receber acervos de outras casas. Com a proposta amadurecida, Barja chegou à conclusão de que as coleções de bancos e órgãos públicos de Brasília devem permanecer onde estão, mas que seria muito rico mostrá-las sob o mesmo teto de vez em quando. Assim conseguiu convencer a Caixa, Banco Central, Memorial dos Povos Indígenas e Universidade de Brasília (UnB) a emprestar obras para a mostra Entreséculos. Como garantia, levou também para essas instituições um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Ministério da Cultura, que banca a mostra com um patrocínio de R$ 398 mil. Projeção do Abaporu, de Tarsila do Amaral, complementa lacunas das coleções. A cadeira distorcida de Regina Silveira está no núcleo de obras contemporâneas Em cartaz a partir de hoje, a exposição reúne, pela primeira vez, os acervos públicos mais importantes da cidade. Para incrementar o conjunto, Barja e Xico Chaves, parceiro na curadoria, incluíram ainda obras do Museu de Arte de Brasília (MAB), fechado desde 2007, e os quadros doados este ano ao Museu da República pelo governo federal após uma apreensão feita pela Polícia Federal. A única instituição de peso a ficar de fora foi o Ministério das Relações Exteriores, cuja coleção ajudaria a complementar o sentido histórico da mostra. "Foi difícil trabalhar com eles, então desistimos", lamenta Barja. "As instituições ficaram reticentes em emprestar, mas como tinha seguro de ida e volta viram que queríamos fazer uma coisa séria. E como eu conhecia bem os acervos, pudemos escolher." Um total de 170 obras dispostas na galeria central do museu contam a história da arte e do Brasil desde os tempos do império e do neoclacissismo até a produção contemporânea. Todos os movimentos artísticos mais significativos da produção nacional estão representados. "Optamos em criar núcleos que fizessem dialogar esse acervo histórico com os acervos e ideias mais contemporâneas para não ficar uma exposição cronológica demais, senão ficaria sem dinâmica", destaca Chaves. A divisão em núcleos também não é rígida e as intersecções ajudam a conectar história e arte. Para complementar lacunas, os curadores optaram por material audiovisual. Os modernistas não poderiam estar completos sem o Abaporu, de Tarsila do Amaral, projetado em uma parede. E a parte consagrada à etnografia indígena tem como respaldo um vídeo realizado com textos e imagens das expedições de Claude Lévi-Strauss pelo Brasil. "O acervo de Brasília prova que é uma cidade que tem uma base cultural importante para o país. Embora esteja com a imagem abalada, a gente tem que lutar para se desfazer dessa imagem", diz Chaves. "A exposição procura contextualizar isso e não ser apenas mais uma exposição de acervo, senão não faz sentido e poderia ser feita em qualquer outro lugar. Estou numa campanha de valorização de Brasília. O processo de formação cultural da cidade é muito rico e isso tem que ser evidenciado." Serviço Entreséculos Visitação até 30 de janeiro, no Museu Nacional da República (Conjunto Cultural da República), de terça a domingo, das 9h às 18h30 Guia de visita Um termômetro em tamanho gigante introduz o público de Entreséculos ao que é "quente" ou "frio" na história da arte brasileira. %u201CÉ uma brincadeira", avisa Wagner Barja. Em seguida, uma enorme parede com desenhos de Tarsila do Amaral, pinturas de Anita Malfati, Di Cavalcanti e Djanira conduz o visitante pela transição do necolássico para o moderno. Dois Portinaris - Anchieta (1956) e Figura em paisagem (1938) - cedidos pelo Banco Central e uma Minerva, de Alfredo Ceschiatti, emprestada pela UnB, completam o núcleo modernista, que tem ainda algumas das 280 obras doadas este ano após apreensões da PF. O conjunto está guardado desde maio e passou por limpeza e catalogação antes de ser exposto. "Agora a gente está descobrindo a utilidade deste acervo, ele cobre certas lacunas", conta Barja. No centro da galeria estão as esculturas contemporâneas, a maior parte cedidas pelo MAB. Um canto ficou reservado para peças indígenas, apresentadas ao lado de obras de artistas contemporâneos que trabalharam com símbolos etnográficos, como Rubem Valentim. No teto da cúpula do museu, para lembrar os concretistas, um vídeo retoma poema de Júlio Plaza e alterna rostos de personalidades marcantes da cultura brasileira.

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