Diversão e Arte

Coletânea de trabalhos do autor gaúcho Allan Sieber mostra uma visão crítica e divertida do cotidiano

postado em 05/12/2009 04:38
Elogiar o trabalho de Allan Sieber é chover no molhado. Envolvido com animação e quadrinhos desde meados dos anos 1990, o gaúcho de 37 anos é um dos mais profícuos representantes de sua geração - e, justiça seja feita, talvez o melhor dela. Basta dar uma olhada em É tudo mais ou menos verdade para conferir. Lançamento da editora Desiderata, o título compila histórias publicadas em diversas revistas, das grandes Playboy, Trip e Sexy às independentes Tarja Preta e F, entre outras, e ainda material inédito. O subtítulo O jornalismo investigativo, tendencioso e ficcional de Allan Sieber, pode passar a ideia de que o álbum apresenta apenas matérias ou reportagens em quadrinhos. Não é o caso. Além das impressões do autor sobre eventos para os quais foi %u201Cpautado%u201D, estão presentes histórias inspiradas na vida do autor e, claro, fictícias. Dono de uma verve ácida e ranzinza, Sieber faz humor (negro, muitas vezes) com as mais diversas situações do cotidiano: farras adolescentes, relacionamentos desfeitos, seu passado como adventista do sétimo dia e gozações a tipinhos diversos (publicitários, fashionistas, subcelebridades, pitboys, metrossexuais%u2026) e às classes média e alta com suas frescuras. Sátira social é com ele mesmo. Sua ida a um desfile de moda, a um camarote no sambódromo, o passeio por um favela carioca, pela feira literária de Paraty ou os três dias num inacreditável workshop de sedução rendem situações hilárias - ou, no mínimo, observações cômicas do cartunista. Parte do humor de Sieber está nos desenhos, simples, sujos e muito expressivos - é bater o olho para saber que ele é o autor. E é essa personalidade que transborda das páginas um dos trunfos de Allan Sieber. Frequentemente, ele se coloca como protagonista, conversa com o leitor, faz referências a acontecimentos e episódios que poderiam ter sido vividos por todos, mas nunca soando óbvio, sempre imprimindo uma marca muito pessoal. Interessante notar como Sieber absorveu bem suas influências. Seu trabalho bebe da tradição de O Pasquim (em especial Millôr e Jaguar, duas influências assumidas do autor), da turma da geração Circo/ Chiclete com Banana (Angeli, Laerte, Glauco), Robert Crumb e outros quadrinhos underground (as revistas Dundum e Animal, por exemplo), mas tem cara própria. Além da seleção do material, do ótimo acabamento gráfico, É tudo mais ou menos verdade merece elogios por trazer uma informativa entrevista de quatro páginas, nas quais Sieber comenta suas referências, a formação artística, o começo da carreira, o passado como punk, o que gosta de ler e o processo criativo. Na entrevista, o gaúcho (morador do Rio de Janeiro há anos) adianta que um de seus próximos trabalhos será a adaptação de conto de João do Rio para os quadrinhos. No blog do autor, talktohimselfshow.zip.net, é possível acompanhar suas novidades, rascunhos, charges, cartuns, algumas histórias e textos.

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