postado em 08/12/2009 08:09
Difícil não lembrar da cena. Um negrinho malemolente e faceiro vindo ao mundo para logo em seguida ser abandonado por uma mãe debochada e meio blasé encarnada nas telas pelo ator Paulo José. Uma das passagens do clássico Macunaíma (1969), adaptação de Joaquim Pedro de Andrade para obra homônima do escritor paulista Mário de Andrade, o registro traz como protagonista um rosto que, assim como o herói da trama, entraria para a memória brasileira como a cara do Brasil: Grande Otelo, homenageado de hoje até o dia 3 de janeiro no CCBB com mostra que conta com 25 filmes dos mais de 100 em que trabalhou. "O Grande Otelo sempre teve oportunidade de encenar personagens populares no cinema. Acredito que isso fez com que o público gostasse dele em qualquer coisa que fizesse, seja no teatro de revista, televisão e no cinema", comenta o curador Raphael Freire.Nascido em Uberlândia (MG), em 1915, como Sebastião Bernardes de Souza Prata, logo no início da carreira o mulatinho baixinho e despojado ganharia dos amigos do teatro de revista do Rio de Janeiro o apelido de "pequeno Otelo", atrevidamente alterado por ele pelo nome que o eternizaria. Polivalente e versátil nos palcos dos cassinos da era de Getúlio Vargas como ator e cantor, brilhou nas telonas do país em grandes sucessos de público, atravessando com maestria a várias fases do cinema brasileiro. São clássicas as parceiras com outros dois comediantes da época, Oscarito e Ankito, ambos revisitados na mostra em filmes como É de chuá (1958), de Victor Lima, e Matar e correr (1954), de Carlos Manga.
"Por meio das paródias e das chanchadas, ele se firmou como um dos maiores artistas brasileiros, perpassando por valores populares e eruditos, sociais e ideológicos, políticos e culturais, e se tornando não só o nosso autêntico Macunaíma, mas um verdadeiro e completo autêntico da cultura nacional", observa Freire, que tentou ampliar o número de filmes da mostra. "Os filmes foram escolhidos pela importância que cada obra tem dentro da carreira cinematográfica do ator. Outros títulos foram pesquisados, mas é inviável a exibição pois não foram preservados", lamenta o curador, que participa de debate na próxima quinta-feira, às 20h30. O encontro será norteado pelo tema A paródia e o riso na trajetória de Grande Otelo.
O filme que abre a mostra Saudades de Grande Otelo hoje, às 16h30, não poderia ser mais simbólico. Dirigido em 1961 por Roberto Farias, a comédia Um candango na Belacap tem história ambientada na época da inauguração de Brasília. Outros destaques do encontro são O assalto ao trem pagador, filme de 1962 também dirigido por Roberto Farias, Quilombo (1984), de Cacá Diegues, Nem tudo é verdade (1986), enigmática releitura de Rogério Sganzerla para o inacabado projeto brasileiro de Orson Welles, no Brasil (It;s all true) e o seminal Rio Zona Norte (1957), filme embrionário do movimento Cinema Novo. "Neste trabalho, Grande Otelo mostra todo o seu potencial para realizar papéis dramáticos, fazendo o público reconhecer que ele não segue só a linha do cômico, como muitos imaginam", destaca o curador, que não consegue visualizar no cenário artístico contemporâneo, um artista tão completo, morto há 15 anos. "Otelo amava e respirava a cultura nacional", resume.
Programação completa da mostra Saudades de Grande Otelo, em cartaz de hoje a 03 de janeiro
Dia 8
16h30 - Um candango em Belacap
18h30 - Natal da Portela
20h30 - Rio Zona Norte
Dia 9
16h30 - O barão Otelo no barato dos bilhões
18h30 - Os cosmonautas
20h30 - Garota enxuta
Dia 10
16h - Jubiabá
18h - Macunaíma
20h30 - Debate 1 - "Grande Otelo: Reserva artística, moral e ética da cultura nacional" - Mediação: Bárbara Kahane / Debatedores: Sergio Bazi, Ciro Inácio Marcondes e Raphael Freire.
Dia 11
16h30 - Se meu dólar falasse
18h30 - É de chuá
20h30 - O flagrante
Dia 12
14h30 - Pistoleira bossa nova
16h30 - O flagrante
18h30 - De janela pro cinema A baronesa transviada
20h30 - Os três cangaceiros
Dia 13
16h30 - Um candango em Belacap
18h30 - Nem tudo é verdade
20h30 - O assalto ao trem pagador
Dia 15
16h30 - Com jeito vai
18h30 - É de chuá
20h30 - E o bicho não deu
Dia 16
16h30 - Vai que é mole
18h30 - O dono da bola
20h30 - Amei um bicheiro
Dia 17
16h - É de chuá
18h - Matar ou correr
20h30 - Debate 2 - "Uma trajetória de paródias e risos". - Mediação: Barbara Kahane / Debatedores: Alessandra Vasconcelos, Berê Bahia e Raphael Freire.
Dia 18
16h30 - Os cosmonautas
18h30 - Mulheres à vista
20h30 - Quilombo
Dia 19
16h30 - O assalto ao trem pagador
18h30 - O barão Otelo no barato dos bilhões
20h30 - Macunaíma
Dia 20
14h30 - O flagrante
16h30 - Natal da Portela
18h30 - De janela pro cinema Jubiabá
20h30 - Se meu dólar falasse
Dia 22
16h30 - Garota enxuta
18h30 - Pistoleiro bossa nova
20h30 - Os três cangaceiros
Dia 23
16h30 - A baronesa transviada
18h30 - Rio Zona Norte
20h30 - Um candango em Belacap
Dia 26
16h30 - Vai que é mole
18h30 - Garota enxuta
20h30 - Quilombo
Dia 27
16h30 - Com jeito vai
18h30 - E o bicho não deu
20h30 - O dono da bola
Dia 29
16h30 - Pistoleiro bossa nova
18h30 - Os três cangaceiros
20h30 - Nem tudo é verdade
Dia 30
16h30 - Mulheres à vista
18h30 - Jubiabá
20h30 - De janela pro cinema Se meu dólar falasse
Janeiro
Dia 2
16h30 - Amei um bicheiro
18h30 - O barão Otelo no barato dos bilhões
20h30 - Rio Zona Norte
Dia 3
16h30 - O assalto ao trem pagador
18h30 - Macunaíma
20h30 - De janela pro cinema Matar ou correr
Serviço
Centro Cultural Banco do Brasil
SCES, Trecho 2 Conjunto 22
Informações pelo telefone: (61) 3310-7087
Data: de 08 de dezembro a 03 de janeiro
Preço:
R$ 4 (inteira) - filmes em película
Entrada Gratuita - filmes em DVD
A venda antecipada de ingressos inicia-se na terça-feira da semana anterior à do espetáculo, restrita a quatro ingressos por pessoa