Diversão e Arte

Terceiro longa de Aluísio Abranches esbarra em temas como incesto e homossexualidade e provoca reações diferentes

Ricardo Daehn
postado em 11/12/2009 07:03
João Gabriel Vasconcellos e Rafael Cardoso interpretam os irmãos: relação delicada em ninho toleranteSe com o filme de estreia, Um copo de cólera, o diretor carioca Aluizio Abranches inflamou as telas, com erotismo e desentendimentos verbais, agora, em Do começo ao fim, o combustível é a polêmica. Inserida num filme "com ares dos anos 1950, mas moderno", a trama desnuda a relação intensa entre os irmãos Thomás (Rafael Cardoso, de Beleza pura e Cinquentinha) e Francisco (João Gabriel Vasconcellos, que integra o casting da Ford Models). Diante de um público tradicionalmente machista, Abranches não se acovarda: "Estou contente à beça com a abordagem. A homossexualidade, para mim, nem é mais tabu. Aliás, nunca entendi por que foi. Sexualidade não pega, não é doença. Sobre a questão do incesto, as personagens não vão procriar - não é pai com filha, nem mãe com filho. Se dizem que a situação não é plausível, rebato com o contrário: existem pessoas que respeitam o direito dos outros." Recebido com frieza pela crítica, o terceiro longa de Abranches chega às telas, na capital, com um público acumulado de 27 mil espectadores (para as 12 cópias que circulam no Brasil), isso depois de involuntária promoção na internet, que contabilizou mais de dois milhões de acessos. "Não foi estratégia: fiquei até apavorado, porque achei muito cedo (à época, maio) para divulgar". O diretor sabe que tem nas mãos um filme capaz de fisgar ou repelir. "É para um público ou que gosta muito, ou que se incomoda demais. Aliás, pra mim, surgiram críticas equivocadas. Há quem cobre uma problematização do caso que, de propósito, não pretendi ter. A ausência, por sinal, tem as discussões", diz. Família libertária Lançar luz sobre "coisas que nunca existiram" (diz o cineasta, ao citar Bernard Shaw) foi uma das motivações para o filme, que não encontrou facilidade nos patrocínios. Vislumbrando diálogo com a elegância de um filme de François Truffaut, o artista carioca diz ter se atido a "cenas superdelicadas, nem muito eróticas, para dizer a verdade". "É quase como se não fizessem sexo - eles fazem amor. Esses irmãos têm uma relação aberta, mas protegida. Eles não debatem isso com os amigos. A proteção é proposital e necessária", avalia. Um dos cuidados veio na escolha do diretor de fotografia da fita, o suíço Ueli Steiger, lembrado pela associação com Rolland Emmerich (de O dia depois de amanhã e Godzilla). "Ele estava em busca de algo mais autoral", resume. Além das participações de Fábio Assunção e de Jean-Pierre Noher no elenco, Do começo ao fim traz Julia Lemmertz, no papel de mão dos irmãos apaixonados. "Julieta traz uma melancolia. Preocupa-se, mas não reprime. O filme vai pelo caminho da tolerância ao mostrar uma família amorosa e libertária. Não levanto bandeiras nem faço julgamentos", conclui.

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