postado em 11/12/2009 08:19
No ano em que o rock britânico foi assombrado por nuvens pesadas, algumas das bandas mais aduladas do ano - como The XX e The Horrors - trilharam caminhos noturnos, com referências dark dos anos 1980 e atmosfera de filme de suspense. Poucas, no entanto, soaram tão peculiares quanto o Wild Beasts. Numa primeira audição, as canções do quarteto carregam num lirismo agoniado, sem estribeiras, que pode provocar calafrios. O susto, no entanto, faz parte do jogo. "Sempre existe o medo de cair no ridículo, mas aprendemos cedo a aceitar que uma banda de rock deve estar disposta a tudo", contou o baixista Tom Fleming ao jornal The Guardian.
A coragem é recompensada: provoca efeito hipnótico. Quando o segundo disco do grupo, Two dancers, chegou às lojas da Grã-Bretanha (em junho deste ano), os jornalistas mais entusiasmados o definiram como um álbum genuinamente inglês: melancólico e um tanto excêntrico, mas com irresistível apelo pop. Talvez essa combinação de características explique por que, na ilha, poucos outros lançamentos provocaram tanta repercussão em 2009. Tratado como "obra-prima" pelo jornal Sunday Times, emplacou ótimas posições nas listas de melhores do ano publicadas no semanário New Musical Express (4º lugar) e na revista Uncut, uma das mais respeitadas do ramo (5º lugar).
Até o site americano Pitch-fork, conhecido por esnobar os queridinhos da imprensa britânica, rendeu-se ao fenômeno - destacou os personagens outsiders que habitam a poesia de canções como Hooting and howling e This is our lot. Os agudos do tecladista Hayden Thorpe, 23 anos, e o uso de percussão com um quê de afro-funk também magnetizam os críticos. Mas os principais elogios vão para a forma como, no período de um ano, a banda se reinventou. Em 2008, quando lançou Limbo, panto, o Wild Beasts era tratado como uma promessa extravagante - um projeto experimental com traços pop. A faixa Brave bulging buoyant clairvoyants chegou à posição de número 17 na parada de discos independentes. Mas poucos apostariam que haveria um público maior para uma novidade tão fora dos padrões.
Por isso mesmo, Two dancers surpreendeu principalmente os fãs. Com arranjos mais polidos e canções acessíveis, o disco embala as idiossincrasias do quarteto num formato radiofônico. As ousadias não foram abandonadas - as canções ainda soam misteriosas e doloridas -, mas o Wild Beasts renasce com fome de popularidade. "Nosso objetivo era tratar temas complexos de uma forma que facilitasse a digestão do público. Mas sempre a partir do pressuposto de que é necessário contar essa história de uma forma que é apenas nossa", definiu Hayden ao site Music OMH.
Formado em Kendal, no sudeste da Inglaterra (uma cidadezinha sem tradição roqueira, mas famosa por uma deliciosa torta de menta), o grupo hoje dialoga com o minimalismo dos conterrâneos do The XX. "Na nossa música, não há espaço para desperdício. Cada palavra tem uma função muito específica. Nada é usado em vão", comentou Hayden. Composto ainda pelo guitarrista Ben Little e pelo baterista Chris Talbot, o Wild Beasts tem potencial para vencer os limites do rock independente e disputar a atenção dos fãs de Coldplay. Assina canções que provocam impressão de estranha familiaridade. Mas o conforto é apenas aparente: dentro de cada refrão, dorme uma fera.
WILD BEASTS
Conheça o quarteto inglês em www.myspace.com/wildbeasts. O segundo álbum da banda, Two dancers, foi lançado pela Domino Records.