Uma das referências mais importantes no país quando o assunto é música caipira autêntica, a dupla Zé Mulato e Cassiano defende essa bandeira há três décadas. Eles chegaram a Brasília com a família em 1970, vindos de Passabem, sudeste de Minas Gerais. E foi aqui na capital que iniciaram a carreira como cantadores, violeiros e compositores.
;A gente guarda bem na memória a primeira apresentação, em Ceilândia, na inauguração de uma farmácia, em 1974. Naquela época, havia muito preconceito em relação à música caipira;, conta Zé Mulato. ;Conseguimos vencer essa barreira a partir da abertura que nos foi dada em programas da Rádio Nacional AM, onde nos apresentamos antes mesmo de gravar o primeiro disco;, recorda-se Cassiano.
Gravado em 1978, no primeiro álbum, Zé Mulato e Cassiano, eles interpretam sucessos de Zé Carreiro e Carreirinho. Agora, lançam um projeto intitulado Zé Mulato & Cassiano ; 30 anos de fidelidade a Brasília, pacote (tipo três em um) que inclui o álbum Sertão ainda é sertão, um CD com temas instrumentais e um DVD que traz documentário sobre a carreira da dupla. ;Esse projeto ficou pronto no ano passado, mas só agora é que está chegando ao público, até porque se trata de uma produção independente, para a qual tivemos que buscar apoios e patrocínios;, comenta Zé Mulato.
Em Sertão ainda é sertão, foram reunidas 15 músicas, todas inéditas e de autoria de Zé Mulato. Conhecedor profundo do universo caipira, ele passeia por ritmos como cururu, presente na faixa que dá nome ao discom, e em Como Deus quiser e Ninho de marimbondo; cateretê (Ciclo vicioso e Rompendo o laço); pagode (A morte tá caducando); moda de viola (Desabafando e Viola proteção); xote (O doutor dos anéis); batuque (Calçadão) e rasqueado (Recaída).
Nessa viagem, a maioria das letras aborda relações afetivas. Há, também, as com enfoque satírico, como A morte caducando e O doutor dos anéis. Em Sertão ainda é sertão, que abre o repertório, a dupla critica com veemência a devastação da natureza. ;Nosso sertão sobrevive apesar da agressão/ Da ganância do homem/ Que destrói nosso chão;, diz um dos versos.
Com técnica, virtuosismo e emoção, os violeiros Zé Mulato e Cassiano dialogam nas 14 faixas instrumentais do CD que leva o nome deles no título. Os dois assinam cinco delas, Candonga, Estrela da manhã, O direito de cantar, Devaneio e Água do peito cinzento. Também foi incluída a versão instrumental de Meu céu (Zé Mulato), presente no CD homônimo que rendeu à dupla o Prêmio Sharp em 1998.
;Há, ainda, algumas regravações, com as quais homenageamos os autores;, explica Cassiano, citando Sapo cururu (Braz da Viola), Reminiscências imortais (J. Oliveira), La Paloma (Sebástian Yradier), Viola paulista (Vanuque), o chorinho Fogo na canjica (Dilermando Reis) e a valsa clássica Saudade de matão (Antenógenes Silva, Jorge Gallati e Raul Torres). ;Esse disco instrumental era reclamado pelas pessoas que acompanham nossa carreira;, justifica Zé Mulato.
Os fãs agora vão poder apreciar, também, imagens da trajetória da dupla, registradas no DVD, que está dividido em três partes. A primeira traz depoimentos dos dois, falando do começo da carreira e da relação deles com Brasília. A segunda mostra trechos do show comemorativo dos 30 anos de música, apresentado na Sala Villa-Lobos em 15 de dezembro de 2008, com a participação de Inezita Barroso, Pena Branca, Roberto Corrêa e Pereira da Viola. Na terceira estão aparições deles em programas de televisão, como Viola, minha viola, da TV Cultura.
Com 30 anos de fidelidade a Brasília, Zé Mulato e Cassiano comemoram também os 80 anos da música caipira, que tem como marco a gravação do primeiro disco do gênero, em 1929, por Cornélio Pires. A dupla, hoje popular em todo o Brasil, inicia na próxima terça-feira uma turnê por cidades do interior do Rio Grande do Sul. O lançamento oficial do projeto em Brasília será no dia 28, na 10; edição do Encontro de Folia de Reis do Distrito Federal, na Granja do Torto, em show que terá como convidados Renato Teixeira e Pena Branca.