E a rua se transformou em salão de baile. Quase 3 mil pessoas dançaram, juntas ou sozinhas, acompanhando o tom de violoncelistas, violinistas, contrabaixistas. Seguiram os comandos do regente com as palmas, pediram bis com euforia. A noite de sexta-feira, na entrequadra 312/313 Norte, foi assim: com uma orquestra de música erudita no palco e outra popular formada pelo público brasiliense.
No encerramento dos eventos do Açougue Cultural T-Bone deste ano, a Orquestra Johann Strauss Capelle de Viena tocou por exatas duas horas, sob céu estrelado, para famílias, jovens e crianças. Espetáculo internacional de graça, no meio da rua e que foi além de uma apresentação tradicional, com o público sentado e em silêncio, em contemplação.
O Quarteto de Brasília abriu a noite com repertório que foi de Chico Buarque a Chiquinha Gonzaga. Às 21h15, a orquestra de Viena subiu ao palco. Ali, as pessoas dançavam e arriscavam até passos de frevo. As palmas empolgaram até os músicos.
Com trajes do século 19 e seguindo partituras originais, os 23 músicos iniciaram aqui a turnê que farão pelo país, passando por Goiás, Pernambuco, Ceará e Rio de Janeiro. Especializada em composições da família Strauss, a orquestra fundada em 1843 levou o público ao delírio com a famosa execução de Danúbio azul, que concedeu a Johann Strauss o título de ;pai da valsa;, e de Mozart.
[SAIBAMAIS]O regente Rainer Ross entrou no clima e em um esforçado português soltou: ;Boa noite. A orquestra saúda a todos. Que seja uma ótima noite;. E assim foi. ;Lindíssimo. O povo e a orquestra pareciam estar tocando juntos. Precisamos de eventos assim. Gratuitos, a céu aberto e de qualidade;, comentou a servidora pública Sandra Silva, 45 anos.
Mas houve quem sentisse falta do silêncio. ;As pessoas não têm educação. Não param de conversar, não param para escutar. Fiquei incomodada;, lamentou a jornalista Raquel Flores. O fato é que, entre bochichos, palmas, casais e crianças dançando no meio da rua, o som da orquestra ecoou longe e emocionou o público.
O momento mais surpreendente foi quando Luiz Amorim, dono do T-Bone e idealizador dos eventos culturais ali há 12 anos, subiu ao palco. Deu ao maestro o jaleco do açougue e recebeu em troca o casaco de gala vermelho. Trocaram de papel, mas, juntos, regeram a orquestra. Luiz, com sua irreverência, incorporou o posto. De tão boa, a cena se repetiu no encerramento do espetáculo. A essa hora, o maestro estrangeiro puxava as palmas. E era Luiz quem regia a orquestra.
Eu fui
;Isso é um acontecimento. Falta cultura de rua em Brasília, unindo o erudito e o popular. As pessoas acham que eventos assim são austeros. Mas foi uma grande festa;
Paulo Cac, 57 anos, professor