Diversão e Arte

Trechos de poesias Cidade e Se-para, do livro Sangradas escrituras, de Reynaldo Jardim

postado em 16/12/2009 07:00
Cidade
Equipamentos urbanos:
edifícios, viadutos,
praças, ruas, monumentos,
cemitérios, aquedutos,
(a primeira inspiração
o derradeiro reduto.)

O mobiliário urbano:
bancos na praça gramada,
o chafariz transbordando,
luminárias encurvadas.
(A puberdade beijando
os beijos da namorada.)

As viaturas urbanas:
o ônibus que passa cheio,
a moto segue rachando
o asfalto pelo meio.
(No conversível de luxo,
a mocinha exibe o seio.)

Os recursos humanos:
diplomatas, estafetas,
secretárias, deputados,
brancos, pardos e pretas.
(Todas pessoas fichadas
arquivadas nas gavetas.)


Se-para


Separa o joio do trigo,
separa o para do se.
Paar debaixo do abrigo.
Brigo de mim pra você.
"Se" é nosso inimigo,
"para" é censura do vê.
Quando as pontas eu ligo,
ligo o eu mais você.
O joio já vira trigo
se no trigo a gente crê.
E lendo que o joio é trigo
mais sabe quem menos lê.
Cabe no olho do umbigo
o trigal menos o trigo,
a solução do "por quê?"
O amor se faz castigo
se o melhor inimigo
fala A e pensa B.
(Para no tempo retido
a hipótese do "se".)

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