Diversão e Arte

Dos Arcos da Lapa aos bares de Brasília, o molejo e o suingue do ritmo brasileiro atraem admiradores. É retorno certo e imediato

postado em 16/12/2009 08:21
De segunda a segunda, Brasília cai no samba. Seja em espaços tradicionais do gênero ou mesmo nos lugares que nunca tiveram em sua programação alguma atração ligada ao mais brasileiros dos ritmos. O fato é que cada vez mais, a capital do país se consolida como um polo de sambistas, seja de músicos, cantores, público ou casas de shows. "Esse movimento do samba está crescendo em todo o Brasil. Começou muito por causa do projeto de revitalização da Lapa, no Rio de Janeiro, há uns quatro anos, que também proporcionou uma valorização do samba tradicional, da gafieira, nos bares, nos restaurantes e nas casas noturnas, não só do Rio como em outras cidades. O surto da revalorização do samba alcançou tal magnitude que, em Brasília, vários lugares destinados ao rock, ao pop ou à MPB acabaram se rendendo também ao samba", destaca o empresário e produtor artístico Helder Cunha, um dos responsáveis pelo projeto Projeto Quinta do Samba, que leva samba há dois meses no Stadt Bier. O samba come solto no Tartaruga Lanches ao som de Marcos Benon e sua turma de bons músicosAliás, a casa é uma das que nunca teve tradição no samba e acabou abrindo um espaço, mesmo que semanalmente, a esse gênero musical. Para o produtor do grupo Adora Roda, Marcelo Barki, o samba tem um apelo muito comercial e, por isso, essa profusão de lugares em Brasília implementando projetos sambistas. "Existe um público fiel ao samba na cidade e os produtores e donos de bares, restaurantes e afins sabem disso. O ritmo tem essa coisa de ser genuinamente brasileiro, é algo bem nosso e conquista muito fácil as pessoas. É natural que, pelo menos uma vez na semana, ele seja oferecido como opção musical", acredita. Já o músico Marcos Benon, vocalista do grupo de samba do Tartaruga Lanches, acredita na velha fórmula: samba não tem erro. "Alguns locais da cidade têm investido porque tem dado certo. Não é uma moda, mas um ritmo que não tem erro porque praticamente todo mundo gosta", enfatiza. Variedade Há casos também de em um mesmo lugar o samba dominar praticamente todos os dias da semana. Mesmo que com suas variações, como o samba funk, o jazz, o samba rock ou mesmo o samba-canção, como no bar e restaurante Calaf, um dos principais redutos sambistas da capital. No entanto, o produtor do lugar, Tino Freitas, ressalta que o público para cada dia é variado, apesar de ter em comum o gosto pelo samba. "Na terça é aquele mais tradicional, no Adoraroda, com um público de músicos, gente que gosta e entende muito de samba; na quinta, tem um samba mais rock e com uma música brasileira diversificada. Mas o nosso carro-chefe é mesmo o samba de sábado, que ficou bem famoso na cidade", salienta o produtor. Aliás, esse é o dia em que vários espaços de Brasília se rendem ao ritmo. Para Tino Freitas, isso se deve ao fato de que o samba é bastante associado à feijoada, cujo dia tradicional é justamente o sábado. E como a capital federal não tem praia, o programa para o sábado à tarde acaba sendo um sambinha com os amigos. "O samba à tarde é a praia do brasiliense. Uma maneira de reunir os amigos, tomar uma cerveja, escutar uma boa música. Virou tradição por aqui", reitera. Confira trecho da música Sagrado respeito, do grupo Adoraroda Onde sambar Calaf Chiquita Bacana (Taguatinga) Tartaruga Lanches O Cafetina Bar & Cultura Choperia Posto 9 Bar Brahma Stadt Bier Garota Carioca Público se renova Com a expansão do samba em Brasília, é natural que ele acabe conquistando mais e novos adeptos. O produtor Marcelo Barki diz que é natural esse movimento de renovação dos ritmos tradicionais como o samba e o forró e, consequentemente, acabam angariando mais admiradores. "Por mais que haja esse resgate do tradicional, esses ritmos têm que se reinventar. É algo inevitável e, dessa forma, acaba conquistando um público até mais jovem", opina. Já o produtor e empresário artístico Helder Cunha vai além e acredita que, em função de todo esse crescente movimento do samba pelo país, e por estar atingindo cada vez um público mais jovem, o chamado samba universitário, o ritmo vai bombar em 2010. "Vai estourar cada vez mais. Acho até que, no próximo ano, o samba terá a mesma projeção que teve a lambada ou o axé no começo da década de 1990. É a hora do samba", assegura Helder, que junto com outros adeptos e sambistas da cidade, tem a intenção de criar em Brasília o Clube do Samba, nos mesmos moldes do Clube do Choro. O casal de amigos Nayane Ribeiro, 24, e Geraldo Palmeira, 24, são exemplos de novos admiradores do gênero. Há um bom tempo, os dois frequentam várias rodas de samba e fazem questão de dançar muito. Para Nayane, o ritmo acabou virando uma febre entre a juventude e a tendência é ele se expandir cada vez mais. "Onde tem samba, a gente está indo. E isso acontece com nossos amigos também. É como diz a música: quem não gosta de samba, bom sujeito não é", destaca. Outra que não abre mão de um sambinha é a psicóloga Adriana Carvalho, 24, fã do ritmo desde criança. Apesar de ser filha de nordestinos, que preferem o forró, ela acredita que o fato de o samba agregar as pessoas é um dos ingredientes que o tornam tão especial, fora o batuque, que contagia qualquer um. "Eu adoro e é bem democrático também. A roda de samba faz com que as pessoas se aproximem e, por isso, todo mundo é contagiado pelo ritmo", diz ela, que convenceu o seu grupo de amigos a realizar um amigo oculto em pleno samba no Calaf. Músicos O produtor Helder Cunha acredita que, com esse movimento de revitalização da Lapa e do samba em si em todo o país, houve também um rejuvenescimento dos próprios sambistas e, dessa forma, novas expressões desse gênero musical vêm despontando no Brasil, como Diogo Nogueira, Roberta Sá, Teresa Cristina e Dhi Ribeiro. "Uma nova geração está despontando aí e a tendência é isso aumentar", salienta. O cavaquinista Pedro Molusco, 23, sendo 12 só de samba, é um dos músicos dessa nova safra de bambas. Integrante do grupo brasiliense Santo sem dia, ele diz que, mesmo tocando há alguns anos, se reconhece como um autêntico exemplo da nova guarda do samba. "Está havendo sim uma transição. Novos artistas surgindo, um novo público também. O samba está crescendo e se inovando e isso é extremamente saudável", enfatiza. Já Marcos Benon, do grupo de samba do Tartaruga Lanche, lembra que um movimento interessante tem acontecido com toda essa renovação: o público jovem valoriza mais os músicos tradicionais, como Cartola, Noel Rosa e Zé Keti. "É verdade que muita gente passou a acompanhar o ritmo com a ajuda de Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal, mas a linha do nosso grupo privilegia o samba de gafeira, tradicional, os compositores do passado. E essa moçada que tem escutado tem gostado muito. Isso é sempre positivo", considera. Personal samba Desde fevereiro, os amantes do samba têm à disposição o blog Personal Samba, que traz uma agenda completa de todos os eventos em Brasília e, nas cidades do Distrito Federal, ligados ao ritmo. O criador do site, o sambista Paullo Galvão, conta que o blog é uma ferramenta mais prática para divulgação na internet e que ele oferece uma programação intensa, provando que a capital federal é sim um grande polo consumidor e produtor de samba no país. "A gente divulga não só os eventos fixos, mas também os shows de sambistas daqui e de fora que se apresentam na cidade. Brasília tem samba todo dia. É só procurar. Mas, como muita coisa, as pessoas nem ficam sabendo, então a gente divulga aqui. É uma agenda cheia", reitera. O endereço do blog é paullogalvao.blogspot.com.

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