postado em 18/12/2009 08:48
Ainda abatida pela crise econômica, a indústria musical adotou em 2009 uma estratégia agressiva: investiu pesado em discos com porte de superproduções cinematográficas - projetados para agradar ao maior número possível de pessoas. Nem os gigantes, no entanto, conseguiram desempenho à altura de tanta expectativa. Ídolos do pop rock como U2, Green Day, Bruce Springsteen e Kiss provocaram reações mornas. Mas, enquanto os blockbusters desapontaram, os selos independentes encontraram um terreno amplo para apresentar ao mundo uma safra de novidades que, sem megalomania, conquistaram a crítica, se espalharam na internet e mostraram que é possível deslumbrar o público sem apelar para os efeitos especiais.
Num universo paralelo ao habitado pelo U2 (cujo No line on the horizon vendeu menos que qualquer outro disco dos irlandeses nos últimos 10 anos), o trio norte-americano Animal Collective chegou ao 13º lugar na parada da Billboard com um álbum de rock psicodélico e experimental. Desde o fim de 2008, Merriweather Post Pavilion já era cultuado na internet como o ponto de maturidade da carreira de Avey Tare, Panda Bear e Geologist. Não é um disco para as rádios: fragmentadas, as canções revelam camadas de guitarras, sintetizadores e vocais. Por isso mesmo, é curioso que um trabalho tão inventivo tenha sido acolhido de forma unânime por jornalistas dos Estados Unidos e da Inglaterra. Sorte parecida teve o quarteto nova-iorquino Grizzly Bear, que, com as sutilezas bizarras de Veckatimest, expandiu o próprio nicho e caiu nas graças até do rapper Jay-Z. Vendeu 33 mil cópias na semana de lançamento.
A ótima aceitação a um rock decididamente alternativo consolidou o poder de influência dos selos independentes. O londrino Domino Records, casa do Animal Collective, apostou na elegância sombria dos ingleses do Wild Beasts (do ótimo Two dancers) e nos surtos criativos do americano The Dirty Projectors (que lançou Bitte orca, eleito o melhor do ano pela equipe do Garagem). Curiosamente, os novatos surpreenderam ao ganhar mais prestígio que a "primeira divisão" da gravadora, formada por Arctic Monkeys e Franz Ferdinand - ambos lançaram discos eficientes, mas de pouca repercussão. O selo americano Jagjaguwar cobrou atenção para álbuns ruidosos e complexos como Dragonslayer, do Sunset Rubdown (projeto paralelo de Spencer Krug, do Wolf Parade), Rated O, do Oneida, e Unmap, do Volcano Choir (nova empreitada de Justin Vernon, também conhecido como Bon Iver).
Não foram os únicos. Essa (saudável) corrida pelo ouro permitiu o lançamento de discos fora dos padrões, como o sombrio Fever Ray (codinome da sueca Karin Dreijer Andersson, do The Knife), e joias de apelo pop, a exemplo das estreias dos americanos The Pains of Being Pure at Heart e Passion Pit. Na Inglaterra, o flerte com a delicadeza marcou o som do The XX - mas houve quem preferisse submergir em agressividade (The Horrors, Fuck Buttons). No "lado B" da decadente indústria musical (que reagiu com uma quantidade pequena de álbuns relevantes, como os do Flaming Lips, Yeah Yeah Yeahs e Phoenix), o rock arriscou. E, revigorado, elegeu a estranheza como o sabor da temporada.