Diversão e Arte

Exposição de 22 formandos da Universidade de Brasília mostra a diversidade e os pontos em comum dos trabalhos produzidos no espaço acadêmico

Nahima Maciel
postado em 20/12/2009 09:13
A expressão individual costuma ser estímulo fundamental em exposições de projetos de conclusão de cursos de artes. Curiosamente, no entanto, a reunião de trabalhos dos formandos em artes visuais da Universidade de Brasília (UnB), expostos no Espaço Piloto, carrega uma certa unidade na intenção figurativa de boa parte dos 22 artistas integrantes da mostra. Trajetos tem muita pintura e desenho sobre diversos tipos de suportes, alguma colagem e um pouco de fotografia, mas é a presença da mão do artista que sobressai. A mostra no Espaço Piloto da UnB reúne pinturas, desenhos, colagens e fotografias"A exposição de diplomação acontece todo semestre e é curioso porque a gente nunca vê o trabalho dos outros e só vai conhecer durante essa exposição", repara Fabio Baroli, que mostra uma série de pinturas autorreferenciais. "A exposição tem um ponto positivo, que é mostrar a diversidade das coisas produzidas no espaço acadêmico e que apontam para diferentes tipos de pesquisa. São caminhos que parecem distintos, mas, na verdade, são próximos e convergem na experiência artística." Um bom lote de pinturas ocupa o andar térreo da galeria. Muitos desses trabalhos exploram questões referentes aos próprios autores. Para Fernando Lopes, cujo trabalho O espelho da pintura mescla autorretrato com pintura e reflexos, o conjunto de Trajetos revela tendências, como uma inclinação para o uso do pincel e pela figuração. "A exposição reflete um pouco o retorno à pintura e ao desenho, ao excesso de existencialismo e à utilização de meios tradicionais", diz o artista, também ilustrador do Correio Braziliense. Apenas uma instalação e um vídeo fazem parte da mostra. Além de Lopes, Fabio Baroli e André Mota tomam o autorretrato como ponto de desenvolvimento da linguagem pictórica. No caso de Baroli, o tríptico apresentado resulta de pesquisa aprofundada nos últimos seis anos. "Decidi fazer esse trabalho como rememorização das coisas que venho pesquisando. É a pintura como linguagem e o erotismo como tema que fecham um ciclo autorreferencial", explica. Mota está mergulhado numa busca que acredita ser infinita. "Busco técnicas variadas que possam atualizar esses autorretratos como se quisesse sempre fazer uma autoimagem de mim mesmo. Talvez nunca consiga fazer uma imagem que esgote esse tema." Fotografia Na pesquisa de Camila Soato, a pintura passa pela fotografia. Foi depois de tirar fotos de caretas de amigos que ela chegou aos 20 quadros em formatos de 13cm x 18cm expostos em Trajetos. "Queria trabalhar com retratos, mas não queria a coisa séria que o retrato tem de, tradicionalmente, revelar um status quo. Então resolvi fazer uma brincadeira com caretas", conta. "Comecei a perceber, nos últimos três anos, que os artistas estão utilizando mais o desenho, a pintura, o figurativo." Dois trabalhos de fotografia também chamam a atenção no térreo da galeria. Uma parede com 30 fotografias de fachadas da arquitetura brasiliense lembra ao visitante o quanto a cidade é um tabuleiro de mosaicos modernistas. "A ideia é criar composições que, à primeira vista, não remetam a algo, composições abstratas e geométricas de parte da cidade inspiradas na arquitetura moderna. A cidade que a gente mora tem muito disso", diz Joana Campelo, autora das imagens. Mais adiante estão duas composições que unem fotografia e fotograma de rendas, uma mescla delicada que Andressa Moreira trouxe da intimidade familiar para a galeria. No mezanino da Espaço Piloto, a figuração continua em primeiro plano em trabalhos como a série de xilogravuras de Airton Cardim, as colagens da série Vogue sobre papel, de Clara Santos, e as ironias sinistras de Tatiana Sayuri Takamura, que coloca personagens de contos de fadas clássicos em situações contemporâneas como a gripe suína, a poluição dos mares e a obesidade infantil. "Queria fazer um diálogo entre as problemáticas do século 21 e os contos de fadas infantis e clássicos", avisa a artista. TRAJETOS Exposição de projetos de diplomação de 22 artistas, no Espaço Piloto (Ed. de Oficinas Especiais, Bl. A, Câmpus Universitário Darcy Ribeiro - UnB). Visitação até 28 de janeiro, de segunda a sexta, das 9h às 19h, e sábado, das 9h às 13h.

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