Diversão e Arte

Alguns dos lançamentos brasileiros mais interessantes de 2009 usaram a internet como plataforma de divulgação e apostaram na ousadia

postado em 25/12/2009 08:52
Comparado com anos recentes, 2009 foi atípico para o rock brasileiro. Os hypes passaram longe do radar e nenhuma banda nova alcançou o status de sensação do momento. As grandes gravadoras apostaram ou nos filhotes do emo ou em trabalhos pouco inspirados de nomes consagrados e ficaram devendo discos de relevância. Dentre os veteranos, Caetano Veloso (Zii e zie) e Erasmo Carlos (Rock%u2019n%u2019roll) reforçaram sua importância histórica com álbuns de destaque. Mas coube, mais uma vez, à produção independente lançar os discos mais interessantes dos últimos 12 meses. Entre os eleitos pelo Garagem, difícil apontar alguma tendência sonora que coloque as bandas no mesmo escaninho. Tem um pouco de tudo: country, rockabilly, brega, indie e folk rock - ainda que o hibridismo entre o rock e a música brasileira (samba, MBP ou o que for) seja uma característica recorrente. Em Zii e zie, Caetano apostou mais uma vez no que ele chama de transambas: sambas arranjados por uma banda de rock. O paulistano Romulo Fróes injetou guitarras à Jimi Hendrix em sambas-canção num dos mais ousados trabalhos do ano, o duplo No chão sem o chão. O regional e o universal também pautam Certa manhã acordei de sonhos intranquilos, do pernambucano Otto. Surpresa brasiliense do ano, Tiro Williams usou a web como trincheiraFácil notar também que, independentemente das influências que definem suas personalidades musicais, todos na lista fazem música pop inteligente, relativamente acessível e que não soaria estranha em qualquer rádio rock mais antenada. A diversidade de propostas também comprova que o português se encaixa tranquilamente em bandas com qualquer tipo de direcionamento sonoro. Em um ano de crise econômica mundial, os selos independentes colocaram menos discos na praça do que o usual. O caminho foi a internet - veículo, aliás, cada vez mais utilizado pelos artistas brasileiros. Basta lembrar que seis das 10 bandas listadas adiantaram ou lançaram gratuitamente seus discos pela rede - e, em tempos de banda larga, quase todos os outros já circulavam por aí antes do lançamento oficial. As estratégias foram as mais diversas. Romulo Fróes, por exemplo, espalhou No chão sem o chão em blogs de música. Terrorist?!, dos paulistanos Jumbo Elektro, fez caminho parecido. A banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju inovou: produziu para seu site vídeos com todo o repertório de C_mpl_te. Antes de o CD chegar às lojas, as músicas do disco foram liberadas para download gratuito pelo projeto Álbum Virtual, da gravadora Trama. É no site da Trama Virtual, aliás, onde muitas bandas depositam seus discos na íntegra - a exemplo dos goianos do Black Drawing Chalks com seu Life is a big holiday for us. O Atlântico negro de Wado pode ser baixado no site do catarinense-alagoano e o SMD comprado por R$ 5 nos shows. E por falar em download, uma tendência recente é deixar apenas o álbum para baixar em algum site e fazer, quando muito, algumas cópias caseiras (com encarte e tudo mais) dos discos para vender nos shows. Caso dos brasilienses Tiro Williams, Disco Alto, Nancy e Pedrinho Grana e também de tantas outras bandas pelo Brasil. Cabe agora especular como o cenário - para grandes, médios e pequenos - vai se configurar a partir do ano que vem. Por mais que existam iniciativas para apresentar novas bandas em rádio, tevê, mídia impressa e internet, o caminho até um público mais amplo ainda parece longe demais.

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