postado em 25/12/2009 08:58
Amaro Junior
Em tempos de livros eletrônicos, blogs, twitter e até mesmo o já sovado e-mail, a leitura digitalizada ainda está longe de se tornar única. O cheiro do papel, a tinta, a encadernação e o gesto de folhear ganharam forte aliado: o livro Impresso no Brasil, 1808-1930: destaques da história gráfica no acervo da Biblioteca Nacional. Produzido a partir de pesquisa no acervo da Fundação Biblioteca Nacional, o projeto apresenta um estudo histórico da imprensa e das artes gráficas em solo brasileiro, em ínterim de 122 anos, de 1808 a 1930.
No século em que o termo e a prática das propinas eram apenas uma determinação régia, que consistia em remeter para a Real Biblioteca um exemplar de todos os impressos produzidos nas oficinas tipográficas de Lisboa e na Imprensa Régia do Rio de Janeiro, o volume faz um panorama evolutivo da produção gráfica a partir da chegada da corte portuguesa em 1808 e, consequentemente, com os prelos reais dando início à história oficial dos impressos no Brasil. Desde então, até as três primeiras décadas do século 20, o livro está prenhe de jornais, revistas, livros, estampas e os chamados impressos efêmeros, ou avulsos (cartazes, rótulos, anúncios, folhetos, santinhos, cardápios etc.).
Como grande desafio do século 19, o livro mostra as primeiras tentativas de integração entre texto e imagem na página impressa. Somente após muita experimentação entre diversas técnicas, que se pôde realizar publicações com ilustrações. Mesmo assim, no princípio, uma solução muito comum em livros era a de imprimir imagens e textos em páginas separadas, em função das dificuldades de conciliar a distinta técnica de impressão entre imagem e texto.
As cores também sofreram experimentos. Um exemplo quase impossível de se imaginar atualmente aconteceu nas décadas de 1860 e 1870, em que algumas revistas, após tentativa frustrada de aplicação de cores, devido aos altos custos, seguiram pintando suas páginas manualmente, exemplar por exemplar, e, muitas vezes, em grandes tiragens.
Como gênero jornalístico, a fotografia só recebeu novo olhar no início dos anos 1920, acrescentando ao ato sagrado de registrar e documentar a interação à estrutura das páginas, por meio de intervenções, como recortes, molduras, colorização e até fotomontagem. Essas e outras histórias poderão ser apreciadas no ótimo trabalho da Verso Brasil Editora.
Com aproximadamente 350 ilustrações, a maioria inédita ao grande público, a obra é testemunha de que diante de recursos audiovisuais, internet e o hibridismo dos meios de comunicação, a indústria gráfica evoluiu, cresceu e ainda cresce em quantidade e variedade. A compreensão da história da visualidade, que o volume oferece, é essência para entendermos o porquê de vivermos em uma época dominada por imagens. As técnicas de reprodução, aliadas ao bom gosto e talento de alguns profissionais, geraram sedutora beleza nos primeiros trabalhos gráficos produzidos no Brasil, boa parte registrada nas 180 páginas de Impresso.
Organizado pelo escritor e historiador Rafael Cardoso (O design brasileiro antes do design - Cosac Naify, 2005) e com artigos realizados por historiadores e pesquisadores de arte e design, como Isabel Lustosa, que aborda a evolução histórica da imprensa; Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, escrevendo sobre a evolução das tecnologias de impressão; Lúcia Garcia, sobre a formação do acervo da Biblioteca Nacional; e o próprio Rafael Cardoso, que narra a evolução do projeto gráfico. Todos em tom acessível para o leitor que se inicia no assunto. Valéria Lamego, editora e pesquisadora em literatura brasileira, é responsável pela coordenação editorial, resultando uma peça gráfica digna de ocupar o canto mais acessível de uma estante.
IMPRESSO NO BRASIL, 1808-1930/i>
Organização: Rafael Cardoso. Editora Verso Brasileira. páginas. R$ 112, 50. Informações: (22) 2205 7348 ou www.versobrasil.com.br.