Diversão e Arte

Olha o panetone aí, gente...

Escândalo de corrupção do GDF inspira marchinhas para a folia de 2010

Irlam Rocha Lima
postado em 26/12/2009 08:00

A repercussão do escândalo da Operação Caixa de Pandora chegou às letras de músicas de carnaval. Veterano cantor e compositor rio-grandense-do-norte, radicado em Brasília desde a década de 1960, José Emídio escreveu Champanhe com panetone, marchinha que abre o CD Recordando os carnavais ; 50 anos de Brasília. O disco de 17 faixas é lançado de forma independente. No concurso que vai escolher a música a ser cantada pelos foliões do Pacotão (o anárquico bloco brasiliense), seis das 10 composições já inscritas têm como tema o panetone e outros aspectos das denúncias feitas por Durval Barbosa.

RECORDANDO OS CARNAVAIS - 50 ANOS DE BRASÍLIA
Produção independente de José Emídio, 17 faixas. Preço: R$ 10Em Champanhe com panetone, Emídio diz na abertura: ;Do Natal ao carnaval antes que me detone/ Só quero champanhe regada com panetone;. Na sequência, ele canta: ;Dinheiro para mim vai sobrar/ E eu já sei onde guardar/ No bolso, no lenço, na meia ou na cueca/ Vou curtindo a onda/ No Lago Sul em festas;. O músico revela que a letra foi criada logo depois de ouvir no rádio e ver na tevê a enxurrada de denúncias. ;Esse tipo de marchinha fazia muito sucesso nos anos 1940 e 1950. Embora os tempos sejam outros, quis fazer o resgate.;



José Emídio conta que o álbum estava em fase de finalização, quando tomou conhecimento do escândalo. ;Parei tudo no estúdio para incluir Champanhe com panetone, que fiz em poucas horas. Mandei prensar mil cópias, mas só chegaram 200. Cantei a música numa festa de um amigo no Lago Sul e a aceitação foi muito boa. Na hora, vendi vários discos;, comemora.

Emídio Santos faz batuque e canta: Das 17 faixas, Champanhe com panetone é a única inédita. As outras são marchas e sambas que Emídio já havia gravado, a exemplo de Subi no pé de cana (Haroldo Brasil e Albano Pereira), Vou pagar pra ver (Milton de Oliveira e Walter Levita), Doido também apanha (Dozinho e J. Silveira), Quem pode, pode (Henrique de Almeida e RCP), Sinfonia do zum zum (Carvalho França), Barbado (Henrique de Almeida e Monsieur Pantera), Marcha do calçadão (Zé Emídio e Pantera), Deus fez a lua pra mim e Como fala Dorival (Rômulo Marinho) e Brasília cidade céu (Ci Magalhães).

A bolseta de Eurides
Oito das 10 concorrentes à música do Pacotão, o bloco formado por jornalistas, artistas e representantes de outros segmentos da sociedade, participaram, no último sábado, da prévia no Clube da Imprensa, Dessas, seis focalizam o escândalo Caixa de Pandora. Um dos coordenadores do concurso, José Antônio Filho, o cartunista Joanfi, acredita que, até janeiro, quando será feita a escolha, o número de participantes aumentará. Os interessados podem se inscrever pelo e-mail pacotaofolia@gmail.com. Entre as já inscritas estão: Arruda não é boldo (Wilson Brother), Não quero panetone (Paulão de Varadero), Cai fora Arruda! (Joanfi). ;A que obteve melhor acolhida, na prévia inicial, foi A bolseta de Eurides, de Cicinho Filisteu.; No verso inicial ele escreveu: ;Eurides Brito guardou no bolsetão/O dinheiro da corrupção;. A música é forte candidata a ser cantada nas ruas da capital, durante o carnaval, no 32; ano do Pacotão.

Personagem da notícia
De porteiro a cantor

Quando José Emídio chegou à cidade, em 1967, ele vinha do eixo Rio-São Paulo, onde deu início à carreira artística. ;Lá, havia trabalhado com nomes famosos à época, como Altemar Dutra, Reginaldo Rossi, Sérgio Reis, Adilson Ramos e o cantor mexicano de bolero Bienvenido Granda. Ao chegar aqui, fui morar com parentes. Vim para ficar 15 dias e estou até hoje;, revela. ;Logo comecei a cantar, mas, paralelamente, durante quatro anos, trabalhei como porteiro do Edifício Ceará, no Setor Comercial Sul;, lembra.

Aqui, José Emídio se apresentava, com frequência, na boate Tendinha (Hotel Nacional), no Piano bar do Brasília Palace Hotel, e nos restaurantes Cachopa e Panela de Barro, na Galeria Nova Ouvidor, no Setor Comercial Sul. ;Formei um público que costumava me acompanhar em todos os locais onde eu cantava;, acrescenta, sem esconder uma certa nostalgia.

Em 1976, foi levado pelo senador Dinarte Maris, do Rio Grande Norte, para trabalhar na gráfica do Senado Federal. ;Cheguei a ter lotação no gabinete do senador Maurício Corrêa;, diz. Atualmente, aposentado pelo Senado e morando em Ceilândia, Emídio mantém-se em atividade artisticamente. ;Recebo bastantes convites para cantar em reuniões e festas particulares no Lago Sul. Pelo menos duas vezes por mês, faço show no restaurante Xique Xique, na Rua da Igrejinha (107 Sul), que é do Rubens Lucena, um conterrâneo de Caicó.;

Para o cantor, com o advento dos trios elétricos, o carnaval com as marchinhas foi deixado de lado. ;Houve um tempo, em Brasília, que todos os clubes sociais faziam bailes de carnaval com orquestras. Os cantores mostravam as músicas com as quais participavam de concursos de sambas e marchas;, recorda-se. ;Eu participei de vários deles e venci o de 1975, no Ginásio de Esportes, cantando Subi no pé de cana. A música era do desembargador Milton Sebastião Barbosa. Ele tinha como pseudônimo Cid Magalhães. Como ele era presidente do Tribunal de Justiça do DF, não quis assinar a marcha, que foi gravada como sendo de Haroldo Brasil e Albano Pereira. Venci o concurso superando cantores consagrados, como Jamelão, Blecaute, Alcides Gerardi, Ângela Maria e Eliana Pittman. Foi uma grande vitória de Brasília;, comemora, 34 anos depois.

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