Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Ex-vocalista da Maskavo Roots, Joana Duah chama a atenção ao trocar o reggae pelo samba

No dia 20 de setembro, as 20 mil pessoas que estavam na plateia do Porão do Rock, na Esplanada dos Ministérios, viram Joana Duah mergulhar no túnel do tempo e voltar aos anos 1990. Ao lado de seus ex-companheiros do Maskavo Roots, ela relembrou sucessos da banda de reggae, destaque na música da cidade na década passada. Foi apenas um flashback, uma vez que a cantora já está em outra. Radicada no Rio de Janeiro há três anos, ela chama a atenção como sambista, com shows concorridos em bares como Semente, na Lapa; Trapiche, na Gamboa, e Drink Café, na Lagoa. Essa nova faceta da cantora pode ser apreciada no CD Dá licença, de produção independente, distribuído inicialmente como brinde de Natal de uma empresa - e que deve chegar às lojas a partir de janeiro, por um selo com que está sendo feita negociação. "Eu estava desenvolvendo outro projeto, com o Guinga e o Sérgio Santos, e já havia feito algumas gravações. Aí recebi uma ligação do produtor João Samuel, que se mostrava disposto a fazer um trabalho comigo. Ele disse que havia assistido a todas as minhas apresentações, tanto na Lapa quanto na Zona Sul, e que tinha viabilizado a produção de um disco, dando detalhes do que pretendia", conta Joana. O projeto foi tocado em apenas dois meses - julho e agosto. "João sugeriu nomes de músicos que poderiam gravar comigo. Entre eles estavam dois que eu já conhecia e por quem tinha grande admiração: o contrabaixista Jamil Joanes (banda Black Rio) e o pianista Fernando Merlino, que já tocou com Gal Costa, Leny Andrade e Emílio Santiago. O violonista Arismar do Espírito Santo e o baterista brasiliense Erivelton Silva, outros instrumentista sugeridos, já haviam me acompanhado", comenta. A eles se juntaram Sidinho (percussão), José Arimatéa (trompete) e Julio Merlino (sax). Joana revela que o entrosamento entre ela e a banda foi imediato. "No primeiro encontro, no apartamento do Fernando Merlino, com a presença do Jamil e do Arismar, as coisas já ficaram bem claras. A partir dali fomos para o estúdio, onde gravamos tudo, praticamente ao vivo. Para cada música, fizemos três takes e escolhemos o que consideramos melhor", explica. A cantora sugeriu quase todas as músicas de Dá licença. Algumas ela já vinha cantando em shows, com boa aceitação do público. É o caso de Recado (Gonzaguinha), Para-raio (Djavan), Tiro cruzado (Nelson Ângelo e Márcio Borges), Perfume de cebola (Filó Machado e Cacaso), Preciso aprender a ser só (Marcos e Paulo Sérgio Valle), Mambembe (Chico Buarque) e Cobra criada (João Bosco e Aldir Blanc). "João Samuel sugeriu Ilusão, de Dori Caymmi e Paulo Sérgio Pinheiro, obviamente bem aceita por mim", diz. Na complementação do repertório, Joana trouxe para o disco músicas de jovens compositores que conheceu em idas a São Paulo e dos quais se tornou amiga e admiradora. "São pessoas talentosas, que tenho o maior orgulho de apresentar nesse trabalho", afirma. A música que dá título ao CD e abre repertório, por exemplo, é de Debora Gurgel, Dani Gurgel e Thiago Rabello. Essa não tem a assinatura de Giana Viscardi e Michi Ruzitschka, enquanto Tranqueira trata-se de uma parceria de Tó Bradileoni e Vinicius Calderoni. "João Samuel foi importantísimo no processo de produção desse trabalho, mas quem elaborou a sonoridade, ao criar os arranjos executados pela banda, foi o Fernando Merlino", ressalta a cantora. "Com eles e outros músicos, as coisas fluíram de forma tranquila. Juntos no estúdio, gravamos como se estivéssemos num palco, fazendo show. O resultado, pelo menos para mim, soa como algo feito ao vivo." Cabrocha assumida A adolescente regueira, que na década de 1990 brilhou nos palcos brasilienses e de outras cidades como vocalista da banda Maskavo Roots, se reinventou depois de se graduar pela New School University (Nova York) em artes e performance musical, no começo dos anos 2000. Enquanto morava nos Estados Unidos, embarcou no projeto colombiano Coba e apresentou-se em Hong Kong, na China, com um grupo brasileiro chamado Massa, que contava, também, com músicos cubanos e norte-americanos. Ouça a música Dá licença, com Joana Duah. No retorno a Brasília, Joana já estava totalmente envolvida com o samba. Seu primeiro show, na volta, apresentado no Clube do Choro, tinha o samba de raiz como mote. Já morando no Rio de Janeiro, onde se instalou em 2006, assumiu de vez seu lado "cabrocha" ao soltar a voz em bares da Lapa e da Zona Sul. Um dos shows do qual participou foi 20 anos sem Quelé, em homenagem a Clementina de Jesus, no Trapiche Gamboa, na zona portuária carioca. Em Dá licença, Joana (que adotou Duah como sobrenome artístico), mostra-se totalmente inserida no universo do mais popular ritmo brasileiro. Com propriedade, recria músicas consagradas de importantes compositores, e interpreta novos criadores do gênero, descobertos por ela na Paulicéia Desvairada, a qual Vinicius de Moraes, num raro escorregão histórico, chamou de "túmulo do samba". DÁ LICENÇA CD da cantora Joana Duah, com 11 faixas. Arranjos de Fernando Merlino e produção de João Samuel. Preço: R$ 25. Para comprar o disco, deve-se enviar e-mail para joaosamuel1@gmail.com.