Diversão e Arte

Ex-vocalista da Maskavo Roots, Joana Duah chama a atenção ao trocar o reggae pelo samba

Irlam Rocha Lima
postado em 28/12/2009 09:46 / atualizado em 21/09/2020 12:31

No dia 20 de setembro, as 20 mil pessoas que estavam na plateia do Porão do Rock, na Esplanada dos Ministérios, viram Joana Duah mergulhar no túnel do tempo e voltar aos anos 1990. Ao lado de seus ex-companheiros do Maskavo Roots, ela relembrou sucessos da banda de reggae, destaque na música da cidade na década passada. Foi apenas um flashback, uma vez que a cantora já está em outra. Radicada no Rio de Janeiro há três anos, ela chama a atenção como sambista, com shows concorridos em bares como Semente, na Lapa; Trapiche, na Gamboa, e Drink Café, na Lagoa. Essa nova faceta da cantora pode ser apreciada no CD Dá licença, de produção independente, distribuído inicialmente como brinde de Natal de uma empresa - e que deve chegar às lojas a partir de janeiro, por um selo com que está sendo feita negociação. "Eu estava desenvolvendo outro projeto, com o Guinga e o Sérgio Santos, e já havia feito algumas gravações. Aí recebi uma ligação do produtor João Samuel, que se mostrava disposto a fazer um trabalho comigo. Ele disse que havia assistido a todas as minhas apresentações, tanto na Lapa quanto na Zona Sul, e que tinha viabilizado a produção de um disco, dando detalhes do que pretendia", conta Joana. Além de medalhões como João Bosco e Chico Buarque, Joana gravou músicas de jovens compositores paulistanosO projeto foi tocado em apenas dois meses - julho e agosto. "João sugeriu nomes de músicos que poderiam gravar comigo. Entre eles estavam dois que eu já conhecia e por quem tinha grande admiração: o contrabaixista Jamil Joanes (banda Black Rio) e o pianista Fernando Merlino, que já tocou com Gal Costa, Leny Andrade e Emílio Santiago. O violonista Arismar do Espírito Santo e o baterista brasiliense Erivelton Silva, outros instrumentista sugeridos, já haviam me acompanhado", comenta. A eles se juntaram Sidinho (percussão), José Arimatéa (trompete) e Julio Merlino (sax). Joana revela que o entrosamento entre ela e a banda foi imediato. "No primeiro encontro, no apartamento do Fernando Merlino, com a presença do Jamil e do Arismar, as coisas já ficaram bem claras. A partir dali fomos para o estúdio, onde gravamos tudo, praticamente ao vivo. Para cada música, fizemos três takes e escolhemos o que consideramos melhor", explica. A cantora sugeriu quase todas as músicas de Dá licença. Algumas ela já vinha cantando em shows, com boa aceitação do público. É o caso de Recado (Gonzaguinha), Para-raio (Djavan), Tiro cruzado (Nelson Ângelo e Márcio Borges), Perfume de cebola (Filó Machado e Cacaso), Preciso aprender a ser só (Marcos e Paulo Sérgio Valle), Mambembe (Chico Buarque) e Cobra criada (João Bosco e Aldir Blanc). "João Samuel sugeriu Ilusão, de Dori Caymmi e Paulo Sérgio Pinheiro, obviamente bem aceita por mim", diz. Na complementação do repertório, Joana trouxe para o disco músicas de jovens compositores que conheceu em idas a São Paulo e dos quais se tornou amiga e admiradora. "São pessoas talentosas, que tenho o maior orgulho de apresentar nesse trabalho", afirma. A música que dá título ao CD e abre repertório, por exemplo, é de Debora Gurgel, Dani Gurgel e Thiago Rabello. Essa não tem a assinatura de Giana Viscardi e Michi Ruzitschka, enquanto Tranqueira trata-se de uma parceria de Tó Bradileoni e Vinicius Calderoni. "João Samuel foi importantísimo no processo de produção desse trabalho, mas quem elaborou a sonoridade, ao criar os arranjos executados pela banda, foi o Fernando Merlino", ressalta a cantora. "Com eles e outros músicos, as coisas fluíram de forma tranquila. Juntos no estúdio, gravamos como se estivéssemos num palco, fazendo show. O resultado, pelo menos para mim, soa como algo feito ao vivo." Cabrocha assumida A adolescente regueira, que na década de 1990 brilhou nos palcos brasilienses e de outras cidades como vocalista da banda Maskavo Roots, se reinventou depois de se graduar pela New School University (Nova York) em artes e performance musical, no começo dos anos 2000. Enquanto morava nos Estados Unidos, embarcou no projeto colombiano Coba e apresentou-se em Hong Kong, na China, com um grupo brasileiro chamado Massa, que contava, também, com músicos cubanos e norte-americanos. Ouça a música Dá licença, com Joana Duah. No retorno a Brasília, Joana já estava totalmente envolvida com o samba. Seu primeiro show, na volta, apresentado no Clube do Choro, tinha o samba de raiz como mote. Já morando no Rio de Janeiro, onde se instalou em 2006, assumiu de vez seu lado "cabrocha" ao soltar a voz em bares da Lapa e da Zona Sul. Um dos shows do qual participou foi 20 anos sem Quelé, em homenagem a Clementina de Jesus, no Trapiche Gamboa, na zona portuária carioca. Em Dá licença, Joana (que adotou Duah como sobrenome artístico), mostra-se totalmente inserida no universo do mais popular ritmo brasileiro. Com propriedade, recria músicas consagradas de importantes compositores, e interpreta novos criadores do gênero, descobertos por ela na Paulicéia Desvairada, a qual Vinicius de Moraes, num raro escorregão histórico, chamou de "túmulo do samba". DÁ LICENÇA CD da cantora Joana Duah, com 11 faixas. Arranjos de Fernando Merlino e produção de João Samuel. Preço: R$ 25. Para comprar o disco, deve-se enviar e-mail para joaosamuel1@gmail.com.

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