postado em 02/01/2010 07:00
Em 2007, após uma apresentação da micropeça O auto da camisinha, na UnB, para aproximadamente 10 mil estudantes que participavam de um encontro sobre prevenção e saúde, a companhia de teatro de Ceilândia Hierofante foi abordada por uma figura exótica. "De longe ele já chamava atenção porque vestia uma roupa bem africana mesmo, com chapéu tradicional e tudo o mais", lembra o ator Wellington Abreu, produtor do grupo criado há 15 anos. "Era um representante do Unicef que tinha visto o espetáculo e queria nos levar para lá", conta Abreu, que visitou São Tomé e PrÃncipe em outubro de 2008 para uma série de encenações. "Na Ãfrica, o problema da Aids é muito sério, existem várias campanhas, então, fomos recebidos como se fossemos jogadores de futebol", compara.
Texto escrito pelo dramaturgo e autor de cordel cearense José Mapurunga, em 1997, a peça também fez sucesso no Ceará, onde chegou a ser montada simultaneamente por 30 companhias teatrais no estado. Importante veÃculo de propaganda no combate à Aids, alertando com humor sobre os riscos de transmissão do vÃrus HIV e os métodos de prevenção, a história acaba de virar um média-metragem com o ator Gero Camilo (Os narradores de Javé e Carandiru) e o humorista Chico Anysio no elenco. Dirigido por Clébio Viriato Ribeiro e com duração de 45 minutos, o filme, já exibido em algumas praças brasileiras, será lançado também em paÃses onde a epidemia é grave, como Moçambique, Timor Leste, Cabo Verde, Angola e São Tomé e PrÃncipe.
A experiência na Ãfrica serviu de motivação para que o grupo viajasse em setembro para Nova York, onde foi uma das atrações do Brazilian Day, encontro que desde 1984 reúne brasileiros em grande festa na 6ª Avenida. O convite partiu da organização do evento. "A recepção do público foi a melhor possÃvel", comenta Abreu, lamentando apenas não terem tido acesso acesso ao palco principal, reservado para a Rede Globo.
O ator e um dos produtores da companhia Hierofante, Pablo Peixoto conta que a ideia de montar o espetáculo nasceu depois que o diretor Humberto Pedrancini, por meio da Fundação Athos Bulcão, teve acesso a uma radionovela distribuÃda em CD para várias cidades brasileiras. "Achamos interessante e montamos a peça com recursos próprios", conta.
A primeira apresentação ocorreu na Torre de TV, em 1999. Até hoje ele lembra com satisfação do impacto que as encenações causaram. "Como é teatro de rua, a performance está acessÃvel a qualquer pessoa que passa pela calçada e algumas não estão preparadas para esse tipo de abordagem e, sobretudo, com o tema", comenta Abreu,, que rodou o paÃs com a montagem, indo de eventos sociais a assentamentos rurais. "Ela é eficaz na mensagem e não cai no didatismo, ou seja, antes de tudo é um espetáculo de teatro. Às vezes, os pais se sentem incomodados de os filhos assistirem a algo falando de preservativo, mas essa questão da erotização infantil é complexa, porque a televisão aborda a sexualidade de forma agressiva", acredita Peixoto.
Projetos
Depois de realizar o curta de documentário Cuidado! Palhaços, vencedor, recentemente do 1º Festival de Cinema Universitário do Iesb, o ator e produtor teatral Pablo Peixoto trabalha na finalização de Cala boca, criança, um registro dos bastidores da viagem que o grupo fez a São Tomé e PrÃncipe. "No inÃcio do grupo, a gente era bastante fechado, depois abrimos para outros diálogos e tendências e foi quando surgiu a turma do cinema", conta Wellington Abreu, protagonista do curta-metragem Dias de greve, projeto de Adirley Queirós (Rap, o canto da Ceilândia) todo rodado na Ceilândia. "Nós, do Hierofante (1), fomos geridos pelo signo da periferia", resume ele.
Ouça o ator Pablo Peixoto sobre o grupo Hierofante