postado em 02/01/2010 08:00
De Depeche Mode a Placebo, passando por Morrisey, Nine Inch Nails até chegar aos tempos atuais com os canadenses do Arcade Fire. Impossível não perceber a influência de David Bowie na cena musical. Para costurar um leque desses é preciso entender a importância do camaleão do rock em várias gerações. Porém, antes de tudo, é necessário compreender a vida do cidadão David Robert Jones. Marc Spitz, jornalista que conhece bem a cultura rock, mergulhou nesse mundo do ídolo David Bowie e presenteia os fãs com o ótimo Bowie ; A biografia. Quem edita no Brasil é o selo Benvirá, da editora Saraiva. Dono de uma linguagem ágil e inteligente, o jornalista ; que também escreveu a biografia da banda norte-americana Green Day ; traz para os leitores até os primórdios da vida do cantor e compositor inglês. Para compor esse rico material, o autor entrevistou amigos, parentes, vizinhos, músicos contemporâneos e quem mais integrasse de alguma forma o universo de Bowie. O resultado é uma obra bastante enriquecedora. Spitz conduz o leitor para além da vida do biografado e monta um mosaico que reúne contextos políticos, filmes, pubs, músicas.
Ele nasceu em Bromley, subúrbio londrino, na juventude era fã de James Dean e nutria uma timidez que contrasta com os personagens utilizados ao longo da carreira. ;Em vez de autonegação, muitos acreditam que timidez é, na verdade, uma elevada maneira de egocentrismo. Isso é crucial para entender como David Bowie, rock star, nasceu de David Jones, um operário suburbano em potencial;, lembra Spitz no livro.
O relacionamento com o irmão mais velho, Terry, fruto de um namoro da mãe com um homem da marinha, que a abandonou, é essencial para que David Bowie se encontrasse num mundo que parece não ter sido feito para ele. Foi Terry quem apresentou Londres a Bowie, e também a cultura beat de escritores como Jack Kerouac, o jazz, a noite londrina e, consequentemente, ajudou a moldar o personagem que até hoje é venerado no mundo da música.
Cicatriz
Na época do pós-guerra, os jovens britânicos começaram a consumir a cultura norte-americana. Por isso, a invasão do rock ;n; roll na terra da rainha salvou a vida do então adolescente. Nesse período, ele também descobriu a arte, a noitada, o bissexualismo e a marca no olho que ajudou a moldar o mito ; cada um de uma cor. O incidente no olho foi causado por conta de uma briga com o amigo de infância George Underwood. ;Aquele olho deteriorado é sinal do dom especial de Bowie, a parte alucinante de sua imaginação;, conta a fã Camille Paglia, em depoimento no livro.
O interessante de ler Bowie ; A biografia é sentir-se levado pelas palavras de Marc Spitz. É como se tivéssemos assistindo a um documentário. Além da vida pessoal, o leitor acompanha cada momento da carreira do astro. O envolvimento com novos artistas, parcerias, filmes, shows ao lado de bandas novas. Tudo está lá. Para apreciadores da obra de David Bowie. Mas, claro, também para amantes do rock e de uma boa leitura. Essencial em qualquer estante.
Bowie ; A biografia
De Marc Spitz com tradução de Santiago Nazarian. Editora Benvirá. Número de páginas: 448. Preço: R$ 49,90
Trecho do livo
(;) ;Foi no pub Three Tuns, no subúrbio de Beckenham, em Londres, que David Bowie fundou com alguns amigos o Growth, um ;laboratório de artes; criado para espalhar a consciência e importar as ideias progressivas de Londres e San Francisco para o subúrbio. O laboratório era basicamente uma reunião que ocorria todo domingo nos fundos do pub (agora é um restaurante da rede de comida italiana Zizzi) e, ainda assim, a modesta empreitada, trazida da parceria cultural e amorosa com uma jornalista recém-divorciada e mãe de dois filhos, chamada Mary Finnegan, daria a David sua primeira base permanente fora do lar, em Bromley, quase uma segunda família que criaria o padrão das entourages que o acompanhariam nos anos 1970 e 1980, formadas por profissionais e seguidores extravagantes. Mais importante, o modesto lar de Finnegan na sombria Foxgrove Road e o ;Lab; seriam lugares para escrever e apresentar seu novo material. (;);
Aquele olho deteriorado é sinal do dom especial de Bowie, a parte alucinante de sua imaginação;
Camille Paglia, fã