Diversão e Arte

Corpos esculpidos em telas

postado em 06/01/2010 08:01
Quando tinha 12 anos, Juarez Venâncio ganhou um concurso de desenho na escola. Cursava o 3º ano primário e saiu do evento com um diploma debaixo de um dos braços e um rádio de pilha no outro. O aparelho radiofônico não existe mais, mas o diploma serviu de motivação para que o jovem soubesse o que queria da vida: ser artista plástico. "Foi um grande estímulo", recorda anos depois. Mineiro de Uberlândia, há quase cinco anos radicado em Brasília, o artista, hoje com 46 anos, desenha desde os 7. "Aos 14 comecei a pintar telas", conta. Figuras humanas são temas frequentes no trabalho de Juarez VenâncioInfluenciado pelos traços contorcidos do alemão Lucian Freud e estilo contemplativo do norte-americano Edward Hopper, Venâncio, formado em belas artes pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desenvolve seu trabalho tendo como expressão maior elementos básicos na pintura como textura, sombra e intensidade. Parte desse estilo poderá ser conferida pelo público na exposição Ser Humano, em cartaz até o dia 22 no Espaço Chatô, localizado ao lado do Correio Braziliense. O encontro tem patrocínio da Petrobras. Ao todo, são 15 telas que flertam com correntes que vão do realismo ao surrealismo, passando pelo realismo fantástico. Para a historiadora da arte Regina Almeida, os traços elegantes de Venâncio parecem ganhar vida própria nas telas. "Seu pincel é capaz de esculpir como cinzel, burilar como buril e polir como a lixa, torcendo e retorcendo as figuras para lhes dar vida", elogia. O tema de suas obras, em grande parte, foca os contornos do corpo humano em traços que elucidam erotismo, beleza física e uma boa dose de mistério. "A figura humana é repleta de simbologia, agregando valores como carinho, temor, aprisionamento entre outras coisas, questões que nos permitem explorar inúmeras possibilidades. O corpo é apenas um desses caminhos", observa o artista, que gosta de explorar a dubiedade ótica em suas telas, uma influência, segundo ele, dos artistas renascentistas. "Algumas pinturas minhas trazem mensagens ocultas, exploram o lado ilusório, transformando o que é real em algo imaginário", explica. A discrição das cores também chama atenção na obra do artista, que gosta de ilustrar seus corpos esculpidos em telas com cores neutras como branco, preto e cinza, além de sépia, lilás e azul. "Acho que faço uma combinação boa com essas tonalidades", acredita o artista, bastante assediado por admiradores no mercado. Entre os compradores de suas telas está o estilista, apresentador de televisão e político Clodovil Hernandes, morto em março de 2009. "A tela que ele comprou era uma das que eu queria usar nessa exposição, mas ela está 'presa' no apartamento dele", lamenta. Com repertório talhado em igrejas e capelas, Venâncio se orgulha do enorme painel que pintou no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. "A pintura tridimensional faz uma reverência às três artes: dança, teatro e a música", diz. Exposição Ser Humano, no Espaço Chatô, do artista plástico Juarez Venâncio, até 22 de janeiro. De segunda a sexta. Das 10h às 18h. Entrada gratuita.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação