postado em 06/01/2010 11:36
A minissérie Dalva e Herivelto estreou nesta segunda-feira, na Rede Globo, em ótimo horário, logo depois da novela Viver a vida. Já no primeiro capítulo, capturou os telespectadores. Com narrativa direta e dramaturgia sem meandros, o especial é assinado por Maria Adelaide Amaral, com direção de núcleo de Dennis Carvalho e direção de Cristiano Marques. Chamou a atenção o cuidado com a ambientação histórica da trama, que se passa entre 1930 e 1960 - a conhecida época de ouro do rádio brasileiro.
Dois ícones da música nacional, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, são os personagens principais da série, com suas histórias de amor e desilusão %u2013 ingredientes de uma bela narrativa. Adriana Esteves incorpora a diva com ótimo desempenho. Ela não canta o repertório, recheado de clássicos do samba-canção, e essa foi uma decisão acertada da direção. Seria esperar demais de uma atriz, seja Adriana ou qualquer outra. Afinal, Dalva é uma das vozes mais particulares da música brasileira.
A atriz tem graça, reproduz trejeitos, concilia a postura de moça tímida com a atitude de quem tem talento para sobressair em ambiente glamouroso e elegante. Também vive entre disfarces e traições. Num ritual de umbanda, ela e Herivelto se casam, diante do mar e sob proteção de Iemanjá. Tudo parece certo, até que o galã, interpretado por Fábio Assumpção, começa a se descuidar da atenção à mulher.
Centrada nos fatos que permeiam o relacionamento do casal, a minissérie foi direto ao assunto. A breve introdução mostra uma menina cantando nas ruas, no meio da noite, em busca de trocados. Em seguida, já vemos Dalva em seus últimos dias de vida. No momento em que se sente mal, sozinha e em casa, a primeira providência dela é alcançar o telefone. Quer fazer ligação para uma emissora de rádio e pedir que avisem que ela não estava bem. Antes de encerrar a fala, a cantora desmaia e a cena já se desloca para o hospital.
As lembranças de Dalva conduzem a narrativa. O grande amor de sua vida, o compositor Herivelto Martins, não está com ela, nem se dispõe a visitá-la no hospital, apesar dos pedidos insistentes da cantora, por intermédio dos filhos. Foram 13 anos de relacionamento %u2013 intenso nos palcos e conturbado em casa. Desde a época de namoro, ele se envolvia com outras mulheres, aventuras que deixavam Dalva de Oliveira consternada de ciúmes. Muitos desses acontecimentos, aliás, estão registrados em músicas que eles interpretariam juntos.
Para muitos, foi Herivelto quem fez de Dalva uma estrela, com sua personalidade rigorosa, exigente com ensaios e cuidando de todos os aspectos da produção musical. Mas a minissérie também revela: não fosse ela artista especial, que fez do canto lugar íntimo de expressão de sentimentos, rigor algum teria sido suficiente para levá-la ao apogeu.
Outros personagens históricos da cultura brasileira também aparecem na minissérie, que terá cinco capítulos e será exibida até sexta-feira. Entre eles estão Maurício Xavier (Nilo Chagas), com quem Dalva e Herivelto formaram o Trio de Ouro, e Grande Otelo (Nando Cunha). Até o fim do especial, o telespectador passeará por lugares emblemáticos do Rio de Janeiro, como a sede da Rádio Nacional, na Praça Mauá, e o Cassino da Urca.