Nahima Maciel
postado em 11/01/2010 13:14
Mostras de documentários de moda são pouco comuns fora de eventos dedicados ao tema, mas a demanda é grande. Nem o fato de muitos dos filmes selecionados frequentarem programação de canais pagos afastou o público da mostra Filme Fashion, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A primeira semana do evento teve sessões lotadas e, no sábado à noite, a procura pelos ingressos gratuitos para Valentino, o último imperador levou a instituição a montar sessão paralela do lado de fora do cinema. Quem não conseguiu entrar na sala pôde assistir ao filme numa televisão.
Lançado em 2008 e dirigido pelo norte-americano Matt Tyrnauer, Valentino, o último imperador não chegou a entrar em cartaz em Brasília e estava entre os documentários mais esperados do Filme Fashion. O longa acompanha o estilista durante a concepção das peças da coleção Primavera/Verão de 2006 e faz uma retrospectiva dos 45 anos de sua carreira. Ícone da alta costura e de uma geração que vestiu de Jacqueline Kennedy a Julia Roberts, o italiano é também o último de representante de um mercado artesanal e familiar.
Além de revelar um Valentino excêntrico e marrento, o filme mostra a passagem da empresa do estilista para as mãos de grandes grupos industriais, tendência no mundo da moda nos últimos 20 anos mas uma tragédia para um estilista em fim de carreira. "É o final de uma era, Quem viu, viu", constata a aposentada Maria do Carmo Oliveira, que foi assistir ao filme por insistência da sobrinha. "Amo moda e estava louca para ver esse filme. É bom não ter que viajar para ver essas coisas", constata Elisa Souza, 15 anos. Aspirante a estilista, a estudante costuma viajar ao Rio de Janeiro e São Paulo para acompanhar eventos de moda e ficou um pouco decepcionada com o documentário. "Esperava outra coisa, esperava que falasse de toda a trajetória dele, mas foi só sobre o final."
Para a designer de bolsas Francisca Vale, o documentário serviu de exemplo. %u201CFiz questão de assistir para ver a relação da moda com o mercado", conta. Francisca e a filha não conseguiram entrar na sala de projeção, mas não se incomodaram em acompanhar Valentino na televisão do lado de fora.
A programação do Filme Fashion de sábado ficou dividida entre a tradição e a inovação. Se Valentino é um dos últimos representantes da alta costura à moda antiga, o norte-americano Isaac Mizrahi encarna as novas gerações. Tema de Abrindo o zíper, documentário de Douglas Keeve exibido na tarde de sábado, o estilista abre as portas do ateliê para mostrar como funciona seu caótico processo criativo. Realizado em 1995, o documentário traz também depoimentos de modelos e editores das grandes revistas de moda sobre o trabalho de Mizrahi, além de apresentar os bastidores do nascimento de uma coleção.
Quem foi à mostra no final de semana também pôde assistir ao único documentário brasileiro incluído na programação pela curadora Alexandra Farah. Sneakers - Entrando de sola na cultura urbana, de Edson Soares, entrevista colecionadores de tênis aficcionados por séries limitadas do calçado. Na noite de sexta-feira, Mrc Jacobs & Louis Vuitton (Loïc Prigent) e Annie Leibovitz: a vida através das lentes, realizado por Barbara Leibovitz, irmã da fotógrafa norte-americana, lotaram a sala. "A seleção de filmes ficou bem amarrada e a iniciativa é muito boa porque esses filmes não passam no circuito comercial", comemora o estudante de moda Claydson Tomaz, presente todos os dias do Filme Fashion.
FILME FASHION
Amanhã
18h30 - Nanook, o esquimó (Robert Flaherty) - Documentário de 1922 que acompanha o cotidiano de um esquimó. Clássico da história do documentário, o filme foi patrocinado por comerciantes de peles que queriam mostrar a origem de seus produtos.
20h30 - Assinado Chanel (Loïc Prigent) - Série de cinco capítulos realizada para a televisão mostra os passos do estilista Karl Lagerfeld para conceber a coleção de inverno de 2004.