Diversão e Arte

Novo romance de Luis Fernando Verissimo é ambientado no interior do Rio Grande do Sul

Nahima Maciel
postado em 14/01/2010 08:30 / atualizado em 19/10/2020 13:53

OS ESPIÕES - De Luis Fernando Verissimo. Editora Alfaguara, 142 páginas. R$ 31,90.Luis Fernando Verissimo não sabe ao certo onde fica Frondosa. Só tem certeza de ser uma cidade do interior do Rio Grande do Sul com aspectos pitorescos. "Está claro que é uma zona de colonização italiana e que fica a uma noite, de ônibus, de Porto Alegre. Fora isso não sei mais nada." Era o suficiente para receber a trama de espionagem mais recente do escritor gaúcho. Os espiões é o sexto romance de Verissimo. Como a maioria dos outros, traz uma história de contornos policialescos, embora não seja exatamente um policial. E é o primeiro que o autor produz sem atender a uma encomenda. Verissimo não gosta muito de escrever romances e admite. A veia de cronista sempre fala alto e toma o tempo que dedicaria a textos mais longos. "O prazer vem quando o romance fica pronto e a gente acha que ficou bom. A sua feitura, pelo menos para mim, não dá prazer", revela. Os espiões é um texto curto e tem como personagens figuras ligadas ao mundo da literatura. Verissimo gosta da ideia de aproximar narrador, autor e leitor. Por isso, cria personagens com os quais desenvolve afinidades. E narra tudo em primeira pessoa, para não perder o hábito do cronista. "Todos os meus romances, de um jeito ou de outro, tem a ver com a relação do narrador com a narrativa e os personagens, com questões como a confiabilidade do narrador e o lugar do autor no texto. Isso talvez não fique claro, mas minha pretensão é essa. Uma pretensão meio flaubertiana. Sem comparações, claro." No livro, um editor encarregado de selecionar textos publicáveis começa a receber partes de um romance escrito por misteriosa autora. A história chega em partes e a escritora ameaça um suicídio ao fim do relato. Inquieto pela revelação e tocado pela qualidade do texto, o editor resolve investigar a autora e manda dois amigos-espiões para Frondosa, cidade da qual os escritos são enviados. Os personagens atrapalhados e caricatos ajudam a dar forma de paródia a Os espiões. Verissimo não esconde sua admiração por romances policiais, tramas de espionagem e, especialmente, pelo escritor John Le Carré, referência inclusive para o protagonista do livro. A literatura é tema constante, assim como o próprio ato de narrar. "Tive a minha fase de ler muito livros policiais e de espionagem, mas hoje só leio o Le Carré. O narrador da história também gosta de Le Carré. Se ele fosse o autor, a homenagem a Le Carré seria mais explícita", conta o escritor, que conversou com o Correio sobre o novo romance, nascido da vontade de desenvolver uma frase que ficou na cabeça. "Eu tinha uma primeira frase e uma ideia do que queria fazer, mas a história foi aparecendo ao ser escrita. Não houve nenhuma motivação especial para escrevê-la. Só me pareceu uma boa ideia." Entrevista - Luis Fernando Verissimo O fato de ser o primeiro romance escrito sem ser por encomenda muda alguma coisa? A gênese de um romance não interessa muito. Quando a editora dá o tema, é um desafio. Mas a encomenda não vem com instruções. O que sair, encomendado ou não, é da sua inteira responsabilidade. Os espiões pode ser lido como uma paródia sobre romances policiais? Não chega a ser uma paródia, é uma história de espionagem num tom menor. O fato de se passar numa cidadezinha do interior do Brasil em vez de um cenário de intriga internacional dá a ideia do tom pretendido. Muitos de seus personagens são, de alguma forma, ligados à literatura. Qual a fronteira entre esses personagens, o narrador e o senhor? Eu sempre escrevo na primeira pessoa, o que é, um pouco, cacoete de cronista, mas também uma maneira de atrair a cumplicidade do leitor no artifício da literatura. O leitor sabe que o narrador não é o autor e que sua história é uma ficção, mas aceita. E o narrador na primeira pessoa tem muito mais oportunidade de comentar a ação e brincar com a linguagem. Seus romances são relativamente curtos. Alguma relação disso com o fato de ser, antes de romancista, um cronista? Os romances são escritos nas horas vagas. Minhas horas vagas ainda não comportam um romance de longo curso. Qual o lugar do jazz em sua vida? Quem tem mais vez: a música, o futebol ou a literatura? O futebol é paixão, a música é um passatempo. Sou metido a músico, mas toco numa banda profissional, com muita honra. Se hoje pudesse escolher, e tivesse condições, eu preferiria ser músico a ser qualquer outra coisa. O que mais te dá medo na política brasileira? E na literatura? Medo? O ódio que vez por outra aflora, apesar da nossa decantada boa índole. Na literatura não me ocorre nada que dê medo. Qual é seu personagem predileto na literatura brasileira? O homem só de O exército de um homem só, do Moacyr Scliar. Que houve com o Inter? Está ficando cada vez mais uruguaio? Pois é, não fomos campeões brasileiros por detalhe, mas o ano poderia ter sido melhor. Agora vamos com um técnico uruguaio. Dizem que é um especialista em Libertadores. Vamos ver.

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