Mariana Trigo
postado em 14/01/2010 09:40
Cama de gato é uma novela das sete exibida no horário das seis. Os ingredientes típicos do horário das sete, como ação, adrenalina, suspense e pitadas de comédia não deixam dúvida da fusão dos estilos nas tramas. E são os maiores atrativos da história assinada pelas estreantes Duca Rachid e Thelma Guedes. Mas o maior capricho cabe à cuidadosa direção de Amora Mautner, que também estreia como diretora geral em novelas, com direção artística de Ricardo Waddington. Tomadas criativas, uma fotografia esmerada e uma edição eletrizante têm refletido na boa audiência de 28 pontos de média.
Outros fatores também têm contribuído para o meteórico sucesso da história. Nada mais atraente numa novela quando existe química entre os mocinhos. É o que se tem visto de sobra entre Rose (Camila Pitanga) e Gustavo (Marcos Palmeira). Com bom entrosamento cênico, o casal chega a hipnotizar nas cenas mais densas, bem como no suave envolvimento entre personagens tão parecidos. O que realmente deixa a desejar é mostrar a mudança drástica do personagem de Marcos Palmeira de forma tão abrupta. Não há como parecer verossímil um papel extremamente arrogante no primeiro capítulo que, dias depois, aparece recheado de humildade e muito adaptado à vida de quase mendicância.
Pior ainda são as incansáveis lições de moral a cada capítulo. Frases de lugares-comuns, como "o mundo dá voltas" e "nada como o dia de amanhã" são enfadonhas e mostram, mesmo que sutilmente, que a fórmula didática e ingênua das tramas do horário das seis também permanece na história. Outra característica cansativa é o maniqueísmo assumido, com vilões absolutamente perversos %u2014 como a diabólica Verônica (Paola Oliveira) %u2014 e personagens bonzinhos que são sempre pobres e injustiçados. Mas, mesmo com essa pieguice que envolve a maioria das tramas, Cama de gato ainda se destaca.
Um dos pontos que se sobressaem na novela são os divertidos Ferdinando (Pedro Paulo Rangel) e Julieta (Suely Franco). Os pais do protagonista Gustavo dão um ar leve de comicidade e entregam o texto trabalhado por suas atuações de brinde para Paola Oliveira. A atriz tem o mérito de se destacar na composição de Verônica. Sem exagerar nos detalhes vilanescos, a bela atriz conduz de forma madura a primeira vilã de sua carreira. De tão verossímil, mesmo como uma bandida, chega a atrair a simpatia em muitas de suas cenas. E mostra que a maior característica da história é, de fato, seduzir para uma armadilha.