Ricardo Daehn
postado em 15/01/2010 09:29
"Adoro falar que sou de Brasília -, isso porque as pessoas acham que os talentos só saem do eixo Rio-São Paulo. Tenho conhecidos colegas de Belém do Pará, de Curitiba. É importante que Brasília, uma cidade sempre associada à política, esteja projetando artistas. Isso é bacana", avalia a atriz Isabella Dionisio. Há dois meses, a brasiliense, prestes a completar 19 anos, tem sentido as consequências da aprovação num teste para a TV Globo: com o papel de Maria Cláudia (para a Malhação), veio a fama. "É um pouco assustador, por ter acontecido muito rápido. No comecinho, parecia meio surreal essa coisa de ser abordada, tirar fotos e dar autógrafos. Agora, acho que estou lidando bem com isso", conta.
Ser ex-moradora da capital (ela já morou no Sudoeste e no Lago Sul), indiretamente, beneficiou a carreira televisiva de Isabella. "No teste de Malhação, falei que eu gostava era dos garotos de Brasília, que os cariocas eram muito marrentos (risos). Eles acharam muita engraçada a cena e, por isso, na verdade, fui aprovada", diverte-se. Maria Cláudia, com "um pé na comédia", tem lá os lados doce e delicado, mas agrega também traços interioranos. "Ela é meio patricinha, fofoqueirinha e casamenteira, tudo sem o estereótipo de ser fútil. Maria Cláudia idealiza o príncipe encantado", define a intérprete.
Num breve paralelo com a ficção, Isabella revê parte do passado, na condição de "nerd". "Eu era muito certinha, disciplinada. Acredito que a Isabella seja bem mais estudiosa do que a Maria Cláudia", avalia. Atualmente, o círculo de amizades e a família são elementos que mais fazem falta à brasiliense. "Lembro muito dos primeiros mestres, das primeiras escolas de teatro. No Colégio Logosófico, eu era muito querida pelos professores, participava de todas as apresentações de fim de ano. Daí, veio o estímulo para procurar as aulas de teatro", conta.
Aos 10 anos, Isabella entrou para o teatro, na escola da BSB Arte. Com o registro profissional (tirado aos 16 anos) e os resultados de uma maratona de cursos de vídeo nas mãos, feitos com profissionais como Luiz Antônio Rocha, Ignácio Coqueiro e Cininha de Paula, a atriz partiu em busca de maior visibilidade. Versátil, antes de integrar o elenco dos curtas The meeting (de Roberto Jabor, o primo de Arnaldo Jabor) e a dupla de médias-metragens dirigidos por Edson Erdmann, O livro vermelho e 31 - Os últimos desejos dos últimos segundos do ano, a atriz colecionou trabalhos para agências de publicidade e nos palcos.
Além de frequentar o curso de teatro Neia & Nando (com a qual atuou em temporada carioca de Pocahontas), ainda em Brasília, e integrante da Companhia da Ilusão, ela tomou parte da clássica Romeu e Julieta e encarou a dificuldade de Esta propriedade está condenada, no papel de Willie, a menina com nome de rapaz, na montagem de Tennessee Williams. Com a BSB Arte, vieram outros dois desafios shakespereanos: viver uma jovem Lady Macbeth e se deleitar com a espevitada Catarina de A megera domada.
"A gente tá sempre buscando coisas novas, mas eu me apaixonei pela arte de interpretar. A Globo é um meio, uma experiência nova que estou adorando. Quero expandir, futuramente, meu trabalho. Estar na Globo, para mim, é ter a certeza de que meu trabalho é visto: é a melhor vitrine", ressalta. Sem ideia de demérito, a jovem crê que Malhação ainda seja "um programa que sofre preconceito".
Apesar de atual temporada do seriado amargar uma das piores audiências, o número de comentários no site do programa vespertino é um dos indícios de prestígio. "Os jovens acreditam na gente e participam muito -, isso é o melhor retorno que temos. Os personagens da Malhação existem e é por isso que há tanta identificação. É nítido que os conflitos abordados marcam a transição vivida pelos espectadores", comenta Isabella. Fã da temporada exibida em 2003, com a mesma equipe de criação da atual fase, a intérprete encarou desafios de peso, como o primeiro: contracenar com o admirado José de Abreu.
Outra barreira ultrapassada foi o tom conservador que imanta a atual personagem. "Isso causa uma estranheza, as pessoas acham que a Maria Cláudia tem data de validade vencida. Ela é muito tradicional e se veste como se uma avó a tivesse arrumado", brinca. A descontração faz par com o andamento da novela: "Esta nova temporada tem a característica de ser mais leve, mais jovial. Aliás, abrimos o horário nobre, numa hora que não requer uma atração muito chorosa, muito pesada", conclui.