Nahima Maciel
postado em 15/01/2010 09:34
Depois de uma semana de aulas com Pilar Sedano e Sonia Tortajada, conservadoras do Museu Nacional do Prado, em Madri, o curso de extensão Conservação e restauração: novas tendências, promovido pelo Museu Nacional Honestino Guimarães, encerrou ontem com críticas à arquitetura da instituição com a certeza de que Brasília tem demanda para justificar a criação de um centro especializado em restauro de obras de arte.
O debate reuniu, além das conservadoras, Wagner Barja (diretor do museu), Ione Carvalho (subsecretária de políticas culturais) e José Roberto Furquim (professor do curso de restauro da Unieuro). Além de apresentar a profissionais e estudantes da área as técnicas de conservação utilizadas em um dos maiores museus da Europa, o curso serviu de ponto de partida para discutir a possibilidade de criar na capital uma unidade especializada no restauro de obras de arte.
Durante a semana, Ione Carvalho levou Pilar e Sonia às instituições públicas donas de coleções importantes como o Palácio do Itamaraty e o Palácio da Alvorada. "Temos um acervo muito grande que comporta um centro de conservação. Chegamos ao momento em que Brasília completa 50 anos e precisamos refletir. Tudo que precisamos restaurar deve ser enviado ao Rio e a São Paulo. Chega disso. Brasília pode ser também uma capital cultural", garante Ione. "Elas (do Museu do Prado) estão dispostas a nos dar toda a assessoria técnica para isso."
Pilar aproveitou o último dia do curso para apresentar a infinidade de detalhes para os quais um profissional da área precisa estar atento. Como exemplo, utilizou a operação de devolução do quadro Guernica, de Pablo Picasso, do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) para o Museu do Prado. Realizada em 1984, a operação envolveu até mesmo o aquecimento da tela para não danificar a pintura do cubista. "Creio que um centro de conservação em Brasília pode interessar o Prado. Seria uma colaboração com a América Latina, com a qual temos muitos laços culturais importantes", diz Pilar.
Quando o debate foi aberto ao público, o tema do restauro cedeu espaço às dificuldades que rondam os museus brasileiros, especialmente o localizado no Complexo Cultural da República. A falta de recursos e os problemas estruturais ganharam a pauta da discussão. Wagner Barja, por exemplo, lembrou das dificuldades em montar exposições no ambiente redondo projetado por Oscar Niemeyer.
Os problemas não se resumem à área interna do museu. O prédio redondo de vidros escuros no exterior, projetado para ser um restaurante, está fechado até hoje e uma falha estrutural faz com que o auditório principal seja invadido pela água, que transborda dos lagos externos quando as chuvas são intensas. "Outro dia, a procuradoria queria que eu retirasse os camelôs porque enfeiavam a paisagem. Não tiro porque todo mundo morre de sede aqui. Para comer um pastel, tem que ir à Rodoviária. Vim para cá para incluir pessoas, não para excluir", disse o diretor, depois de lembrar que não pode sequer interferir no chão de carpete da sala de exposições durante as montagens das mostras. "Fiquei um pouco mais inteligente depois que vim para cá porque não é mole montar uma exposição nessa bola que o doutor Oscar inventou."
Presente entre o público do debate, Antonio Miranda, diretor da Biblioteca Nacional Leonel de Moura Brizola, emendou uma série de queixas quanto ao prédio que administra. "Participei, durante três dias, de um encontro para pensar a biblioteca antes de ser construída, mas quando construíram nada foi levado em conta", contou Miranda.