Diversão e Arte

Acusados, no passado, de acabar com os cinemas de bairro, os shoppings centers se proliferam pelo DF e expandem o acesso à sétima arte

postado em 22/01/2010 08:01
A geografia dos cinemas do Distrito Federal mudou na última década. Os mesmos shoppings, que engoliram os cinemas de bairros e criaram o conceito de salas múltiplas e integradas, agora refazem as contas ao se espalhar pelo perímetro urbano. A inauguração de complexos de lojas, em áreas afastadas do centro, redesenhou novamente o roteiro de cinemas no DF. Sobradinho, por exemplo, volta a ter uma sala de exibição após um vácuo de quase três décadas, deixado pelo encerramento das atividades do Cine Teatro Alvorada, na década de 1970. [SAIBAMAIS]Há três anos, foram inauguradas as três salas do Sobradinho Shopping. No Jardim Botânico, nova região administrativa do Distrito Federal, o Jardim Botânico Shopping oferece três salas na cobertura do edifício. Enquanto isso, o Lago Norte tende a se transformar em destino cinematográfico para grande parte de espectadores, com a inauguração de mais um complexo da rede Cinemark, no Shopping Center Iguatemi, com previsão de inauguração para 30 de março. Será o segundo da região, já que as salas do Deck Norte funcionam desde fevereiro de 2008. "Com a evolução das cidades e o problema da segurança pública, é que fomos mudando para os shoppings. Na escolha das novas unidade, a geografia deve mais ou menos casar com a nossa intenção de localização do cinema. Tem áreas, por exemplo, com muita concentração dessas atrações. Aí não vale a pena", explica Francisco Pinto, diretor de planejamento e expansão do Grupo Severiano Ribeiro. Inaugurado no Natal pela Severiano Ribeiro, o Kinoplex Boulevard, instalado no Boulevard Shopping, espaço contíguo ao supermercado Carrefour do final da Asa Norte, servirá a população da região que sem esses cinemas ficaria carente de salas de projeção, com o anúncio do fechamento das salas do Brasília Shopping, previsto para março deste ano. "A expectativa é fazer 450 mil espectadores no primeiro ano. Isso porque é um espaço novo que demora a maturar. Normalmente, levam-se dois natais para que as pessoas se acostumem. Depois disso, o nosso ideal é fazer 600 mil pessoas por ano", calcula Francisco Pinto. No Distrito Federal, no começo da década, existia uma sala de cinema para cerca de 456 mil habitantes. Atualmente, esse índice cai para menos da metade: 270 mil pessoas/sala. Segundo dados de 2008, fornecidos pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), o Distrito Federal ocupa a 6ª posição quando o critério é o número de salas de exibição. O valor de 4% do somatório nacional deixa o DF bem próximo de estados como Pernambuco, Bahia, Goiás e Santa Catarina, mas distante da enorme fatia de 57% ocupada pela Região Sudeste. Em 2000, a lógica do mercado exibidor havia empurrado definitivamente o espectador do novo milênio para os centros de compras e criado um novo mapa das salas do Distrito Federal. Dos 12 cinemas existentes, metade já estava dentro de shoppings centers e apenas três não se localizavam no Plano Piloto. O fim dos considerados cinemas de bairro substituídos pelas modernas instalações de shopping centers alterou a maneira brasiliense de ir ao cinema. O processo não é nada novo e foi completado no fim da década de 1990. Na linha do tempo, registra-se, em dezembro de 1987, o DF com o título de maior complexo de cinemas da América Latina, após a inauguração de oito salas no Park Shopping. SESSÃO SAUDADE Houve um tempo para lá de esquecido em que os habitantes de Ceilândia podiam ir ao cinema sem percorrer grandes distâncias. Para tanto, bastava frequentar as sessões do Cine Regente. Hoje, a sala de exibição mais próxima fica na vizinha Taguatinga. Nesta, aliás, funcionavam dois dos símbolos do processo de ocupação predatória dos espaços de sétima arte por igrejas evangélicas no Distrito Federal. Eram eles os saudosos Lara e o Paranoá. O mesmo desfecho teve o Atlântida e Miguel Nabut, ambos do Conic. Em 2000, o Plano Piloto perdeu o Cine Karim (110/111 Sul). Cinco anos depois, extinguiu-se o Cine Márcia no Conjunto Nacional. Assim como no Gama já existiu o Cine Amazonas e uma infinidade de salas que as novas gerações nem chegaram a conhecer. Agora, o Brasília Shoppping anuncia as últimas sessões para março.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação