Diversão e Arte

Pesquisadores ajudam diretores de novela a criar tramas verossímeis

postado em 26/01/2010 08:58
Violência masculina, fidelidade feminina, superação, medicina paliativa%u2026 Em Viver a vida, Manoel Carlos tenta fazer com que a ficção exponha ao debate temas reais. É característica do trabalho do autor. No entanto, para escrever as cenas sem soar inverossímil, ele conta com o apoio de um trio de cuja colaboração não abre mão: Mariana Torres, Gabriela Miranda e Juliana Saba. Elas levantam dados sobre cada assunto e chegam a escrever algumas cenas. "Quando o tema é específico, prefiro que façam para que não haja erros", assume o autor. O trio faz parte de um time de profissionais que atuam nos bastidores das novelas mesmo quando elas são pura ficção: os pesquisadores. Em Viver a vida, pesquisadores respaldam abordagem de temas médicos, como a paralisia de Luciana (Alinne Moraes)Gloria Perez também conta com três pesquisadoras em suas novelas, mas vai a campo quando é necessário. "Se vou retratar determinado grupo, chego perto e convivo. Preciso sentir como aquelas pessoas enxergam a realidade", diz. E para exercer a função, não há rotina de trabalho. Mariana conta que o trio precisa ficar ligado à internet 24 horas por dia caso Manoel Carlos precise de ajuda. Mas admite que o trabalho é maior antes de a novela estrear. "Partimos do zero porque precisamos encontrar e apontar caminhos. Mapeamos os temas, começamos a estudá-los e levantamos as fontes que nos auxiliarão na jornada", conta a pesquisadora, que trabalha com o autor desde Páginas da vida (2006). Em Viver a vida, uma das questões que mais deram trabalho foi o núcleo de medicina paliativa. A equipe compareceu ao Inca diversas vezes para conhecer o trabalho das médicas da Unidade 4. "Ao entrarmos em contato com elas, identificamos maneiras de se expressar, de se comportar, de abordar um paciente", lembra Mariana. Em Poder paralelo, da Record, Lauro César Muniz conta com o valioso auxílio de Rosani Madeira. A trama, de gênero policial, dá trabalho a Rosani, que já teve de entrar em contato com a Polícia Federal e aprender como se fazem escutas, fabricação de bombas e até investigação sobre crimes de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Apesar disso, nunca se viu numa situação de risco, já que não precisou entrar em morros ou favelas. "A pesquisa de campo que fiz foi visitar o sindicato dos delegados da Polícia Federal, onde fui bem recebida e atendida", ressalta. Marília Garcia, que atualmente trabalha como pesquisadora para o autor Ricardo Linhares, não teve a mesma sorte. Foi detida pela polícia durante pesquisa sobre o jogo do bicho feita para Dias Gomes. "Foi o Castor de Andrade quem limpou a minha barra", lembra. "Bato na tecla que novela não é documentário. Mas como a trama precisa passar verossimilhança ao espectador, peço que a pesquisadora encontre um meio termo e sempre dá certo", afirma Linhares. Duca Rachid e Thelma Guedes, autoras de Cama de gato, trabalham com a pesquisadora Maria Byington. Mas a dupla também tem o apoio de Mônica Mattos, advogada que presta consultoria sobre a parte jurídica da novela. Duca e Thelma adaptaram O profeta, em 2006, e não veem diferença entre pesquisar para novelas de época ou contemporâneas. "Pode parecer que a novela de época exige mais pesquisa, por causa da distância. Mas quando vemos uma época de longe, já temos uma visão crítica dela. Podemos usar as conclusões que tiramos daquele momento histórico", analisa Thelma. Íris Abravanel, que escreveu Vende-se um véu de noiva para o SBT, não economiza verba com pesquisadores em suas novelas. Conta com oito desses profissionais para escrever uma novela. Trabalho é o que não falta, já que, além de se inteirar de situações, eles pesquisam para ajudar na composição dos personagens. "Para fazermos o núcleo dos pescadores, dois deles foram ao litoral paulista pesquisar sobre a vida e os costumes dos caiçaras", exemplifica. Os pesquisadores também ajudaram a fazer modificações no original de Janete Clair. Originalmente, os Baroneses tinham uma indústria de tecidos. A trama foi adaptada para uma indústria pesqueira. "Esse núcleo deu trabalho de pesquisa: a industrialização do pescado, os barcos, as formas de pesca, inclusive a pesca predatória, os usos e costumes do caiçara, tudo foi profunda e criteriosamente pesquisado", garante Íris.

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