Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Construído com verba de quase R$ 4 milhões, o Centro Cultural do Taguaparque promete mudar o perfil artístico da cidade

Enquanto isso, o histórico Teatro da Praça continua maltratado

Em março, Taguatinga vai ganhar um Centro Cultural com direito a hall de exposições, auditório, salas de aulas e a mostras culturais. Há ainda um teatro de arena (o primeiro da cidade) com capacidade para 500 pessoas. E tudo isso deve estar funcionando a todo vapor até meados de 2010 no Taguaparque, área verde localizada entre Taguatinga e Vicente Pires. É o que garante o administrador regional da cidade, Gilvando Galdino. O investimento é alto: quase R$ 4 milhões. A construção, no entanto, provoca críticas da classe artística, já que a mesma administração não consegue manter o histórico Teatro da Praça sequer funcionando em boas condições físicas, conforme denunciou o Correio em uma série de reportagens sobre o mau uso dos equipamentos culturais no DF. "Este centro cultural é uma luta de mais de 20 anos e vai oferecer inúmeros eventos, inclusive de grande porte. A área externa, que fica atrás do teatro de arena, é bem ampla e poderá abrigar até 10 mil pessoas", assegura Gilvando Galdino. Apesar das obras seguirem o ritmo acelerado, o Centro Cultural do Taguaparque é visto pelos artistas articulados com política cultural sem festa. Alguns criadores de Taguatinga andam meio ressabiados com a iniciativa. William Alves, organizador de um dos principais eventos culturais da cidade (a Mostra Taguatinga - Festival de Cinema e Vídeo), tem postura crítica com relação ao novo espaço, apesar de ressaltar que, ele como artista, tem a intenção de ocupar o lugar e que Taguatinga precisa e merece esse novo centro. "A minha crítica é como ele vai ser administrado, e me preocupa a forma como vai ser gerido. Se for para ser como é o nosso atual centro de cultura, no Teatro da Praça, vai ser um desperdício de dinheiro público. Não queremos um teatro de faz de conta. E um centro e um teatro como esses devem ser construídos para o cidadão", observa. William Alves acrescenta que a administração da cidade deveria olhar, com mais carinho, para um outro espaço na cidade que está sem manutenção: O Teatro da Praça, no centro de Taguatinga. "Já temos um centro cultural com capacidade para 250 pessoas, com biblioteca em braile, inclusive. Mas esse lugar está mal-administrado. Sem iluminação, as cadeiras quebradas. Se não conseguem administrá-lo, como será com o novo?", projeta. O poeta Cacá (Carlos Augusto), da Tribo das Artes, responsável por importante sarau de poesia na cidade , é outro que levanta a bandeira em prol do Teatro da Praça. Ele aponta que construir esse Centro Cultural no Taguaparque, sem ter uma política cultural voltada para o público, será uma contradição. "Temos um espaço histórico na cidade que é o Teatro da Praça, mas queremos que seja de fato um centro de cultura para a população de Taguatinga. Mas isso não acontece. Existe o espaço, mas para que é utilizado? É claro que um a mais é sempre importante. Mas para haver grandes espetáculos, tem que ter uma política cultural. Tem que ter um diálogo com a comunidade", questiona. O administrador de Taguatinga, Gilvando Galdino, diz que os teatros de Taguatinga não comportam espetáculos de grande porte como os que pretendem ser realizados no novo espaço e lamenta as críticas à construção do novo centro. "É uma pena que alguém possa relutar contra o desenvolvimento da cidade. Até porque ele vai ser mais uma opção para os próprios artistas. É um motivo de alegria, de felicidade, até pela qualidade que o centro cultural vai proporcionar. Sem dúvida, é uma evolução cultural não só para Taguatinga, mas para as cidades vizinhas também", ressalta. Se os artistas não parecem tão otimistas, a população taguatinguense pelo menos parece estar mais empolgada. A presidente da Associação dos Moradores de Taguatinga (Asmotag), Maria das Graças Maia, afirma que é sempre bom ter mais lazer, até porque Taguatinga não oferece muitas alternativas neste sentido. "A cidade precisa de lazer, porque temos poucas opções. O parque em si já é um grande ganho para todos nós e quanto mais coisas ele oferecer, melhor ainda, ainda mais em se tratando de um teatro e de um centro de cultura. Todos só têm a ganhar", analisa Graça. Frequentador do Taguaparque, o comerciante Luiz Francisco Pereira é outro que elogia a iniciativa da construção de um centro cultural na cidade. Entre uma caminhada e outra, ele dá uma espiada nas obras e ficou satisfeito em saber que o local vai abrigar um espaço de cultura. "Acho que vai trazer benefícios pra gente. Vamos ter mais eventos na cidade, shows. A maioria dos espetáculos que a gente quer ver acontece em Brasília", reclama. Pulmão verde O Taguaparque foi inaugurado em junho de 2009, no aniversário de Taguatinga. A primeira etapa do parque, localizado às margens do Pistão Norte. O parque possui pista de 2km para corridas, outra de 700m para jipecross e mais uma de 1,3km para motocross, além de playground, quadras de vôlei de areia e de futebol society, circuitos de malhação, churrasqueiras, ciclovias, banheiros e estacionamento. A área total é de 89 hectares - o equivalente a 107 gramados como o do estádio do Maracanã. Vocação artística Tida como o polo econômico do Distrito Federal, Taguatinga tem vocação natural para as artes. Além de contar com espaços importantes, como os teatros da Praça, o Sesc Paulo Autran e o Cine Teatro do Sesi Yara Amaral, a cidade é reduto de artistas, movimentos e grupos de destaques, como o Invenção Brasileira, a Ciartcum e a Tribo das Artes. Casa do povo Casa de espetáculos mais tradicional de Taguatinga, o Teatro da Praça é fruto da luta dos artistas por um espaço digno para a manifestação cultural. Empresta seu nome ao Centro Cultural Teatro da Praça, que abrange ainda a biblioteca e espaços para outras atividades culturais. Atualmente está sob responsabilidade da Administração Regional de Taguatinga. Nos anos 1980, a sala abrigou a Semana de Arte e Cultura, evento que marcou artisticamente a trajetória da cidade. Arte engajada Tribo das Artes é um movimento de artistas, ativistas e grupos culturais de Taguatinga, criado em setembro de 2000. Realiza saraus mensalmente e publica a revista Tribo das Artes com os recursos obtidos na bilheteria dos saraus. O grupo atua juntamente aos demais artistas de Taguatinga para interferir na política cultural do DF, a fim de assegurar que grupos periféricos ao Plano Piloto sejam contemplados com recursos necessários ao seu pleno desenvolvimento e circulação.