postado em 28/01/2010 10:00
As novelas têm incrível poder de transformar em clássicos canções que poderiam passar facilmente despercebidas. Quem lembraria de Palpite, de Vanessa Rangel, não tivesse sido a música que embalava o romance dos personagens de Carolina Ferraz e Eduardo Moscovis em Por amor? Por isso mesmo, fazer parte de uma trilha sonora de novela é vantajoso para qualquer músico, iniciante ou não. Mas, para chegar lá, eles têm que sensibilizar autores, diretores e produtores musicais, que são responsáveis por escolher a trilha. Esses, por sua vez, precisam ter mais que ouvidos apurados para escolher o que vai se adequar ao personagem e grudar na memória do público.
Tanto que a escolha de cada tema costuma ser aprovada não só pelos produtores musicais, mas também pelo diretor geral e pelo autor. Manoel Carlos, por exemplo, faz questão de definir pessoalmente cada canção de suas novelas, que sempre contam com hits de bossa nova. Em Viver a vida, ele escolheu como tema de abertura Sei lá (A vida tem sempre razão), de Vinicius de Moraes, cantada por Tom Jobim, Miúcha e Chico Buarque. "Gosto de mostrar a sofisticação no mais simples, no cotidiano. Essa música representa isso", avalia Maneco.
Na Record, o procedimento da escolha é um pouco diferente. Marco Camargo, diretor musical da emissora seleciona a trilha com os produtores musicais, autores e diretores das tramas, de acordo com o tema das novelas. Poder paralelo, por exemplo, que tem como tema a máfia, é repleta de canções italianas. "Escolhemos músicas que traduzem o espírito de cada produção. Mas música boa mesmo é aquela que o público pede e gosta", salienta Marco.
Além das escolhas mais tradicionais, as novelas são um celeiro para apresentar novos talentos da música ou aqueles nem tão conhecidos. "Quando o público ouve uma canção de abertura e não sabe quem canta, fica instigado e curioso", acredita Jorge Fernando, diretor de Caras e bocas, que saiu do ar recentemente. Foi ele quem chamou o grupo Chicas para entoar o tema de abertura da trama. "Isso abre portas, é sempre uma vitrine. Dá visibilidade maior estar na abertura de uma novela do que ser trilha de um personagem", compara Amora Pêra, integrante da banda.
No entanto, nem sempre são os autores e diretores que sugerem as trilhas. Na Globo, por exemplo, grande parte das canções e artistas são indicados pela gravadora Som Livre, que trabalha em parceria com o departamento musical da emissora, comandado por Mariozinho Rocha. São os diretores musicais, sempre antenados com novidades também no mercado internacional, que costumam sugerir opções para os diretores. Foi dessa forma, por exemplo, que a cantora de jazz Norah Jones começou a ser mais conhecida no Brasil. Isso ocorreu por meio de Mulheres apaixonadas, quando a canção Don%u2019t know how foi tema de Raquel (Helena Ranaldi). "Lembro que recebi o material da Norah da Som Livre. Achei interessante e colocamos na novela. Esse trabalho em parceria é fundamental", ressalta Ricardo Waddington, atualmente diretor de núcleo de Cama de gato.
Além de sublinhar a emoção de cada cena e familiarizar o público com os personagens, a música tem importante função: um dos produtos mais vendáveis das novelas são os CDs de trilhas sonoras. Eles foram lançados na década de 1960, mas só em 1976 aconteceu o primeiro recorde de vendagem: Estúpido cupido, com 1 milhão de cópias. Uma das trilhas que mais venderam até hoje foi o CD nacional de O rei do gado, em 1996: bateu a marca de 2 milhões de cópias. De lá para cá, os diretores musicais começaram a apostar mais em diversos CDs de trilha. Tanto que Caminho das Índias, por exemplo, teve cinco CDs lançados simultaneamente - nacional, internacional, instrumental, indiano e Lapa.
Viver a vida teve três até agora - nacional, internacional e lounge. "As novelas do Maneco são muito musicais. Elas pedem música, viram referência", observa Jayme Monjardim, diretor de núcleo da trama. "Antigamente, a Globo costumava encomendar canções para os artistas comporem exclusivamente para as produções. Mas, hoje em dia, isso quase não acontece. O máximo que pedimos é uma gravação exclusiva", explica Maneco, cujas novelas acabam de popularizar mais uma novidade: Maria Gadú, com a chatinha Shimbalaiê.